Um projeto de lei de iniciativa popular sobre a reforma política, que, entre as prioncipais mudanças, propõe o fim da doação de empresas nas campanhas eleitorais, será encaminhada ao Congresso em agosto. A previsão é do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) - idealizador da Lei da Ficha Limpa - que, em pouco mais de quatro meses desde o lançamento da iniciativa, já recolheu mais de 300 mil assinaturas. O cálculo considera apenas as virtuais, sem levar em conta as firmas recolhidas em papel, ainda não contabilizadas. A meta é conseguir o apoio de 1,5 milhão de eleitores, número necessário para a proposta tramitar no legislativo federal.
Apesar do otimismo, a diretora da Secretaria Executiva do MCCE, Jovita
José Rosa, observa que é mais difícil conseguir assinaturas para a
reforma política do que foi para a Ficha Limpa. “Não é tão fácil
convencer as pessoas da necessidade de financiamento público como a de
barrar corruptos na eleição. A gente precisa tirar um tempo maior para
explicar”, ressaltou.
Ao mesmo tempo, a entidade conta com o
respaldo popular, uma vez que a reforma política foi uma das
reivindicações das ruas nas manifestações de junho. “As manifestações
que o povo brasileiro, em particular a juventude, vem realizando são uma
demonstração cabal da aspiração em liquidar com a corrupção e
aprofundar o processo democrático no país”, disse na época o MCCE em
manifesto.
Defensores da proposta garantem que as mudanças vão
fortalecer a representatividade das legendas, reduzir os custos das
eleições e diminuir o número de candidatos para cargos no Legislativo, o
que permitiria ao eleitor saber o que eles pensam e conhecer melhor
suas diferenças.
Além do financiamento público de campanha – pela
proposição, a empresa que doar para qualquer campanha será condenada a
pagar multa e proibida de firmar contrato com o poder público por cinco
anos –, outra novidade da reforma política de iniciativa popular é a
implantação de dois turnos para as eleições parlamentares.
No
primeiro, o eleitor votaria no partido e na sua lista de candidatos
formada com a participação de todos os filiados. Nesse turno seria
definido o número de parlamentares que cada partido elegeu. No segundo,
os eleitores escolheriam o candidato de sua preferência. Estudos do MCCE
indicam que o custo das eleições será reduzido, com a participação de
um número menor de candidatos. Ainda pela proposta, quem mudar de
partido perde automaticamente o mandato, independentemente de decisão
judicial.
O MCCE conta com 113 comitês espalhados pelo país que
são pontos fixos de coleta de assinaturas. Em Minas Gerais, são 40
comitês distribuídos nas maiores cidades. Minas obteve o maior número de
assinaturas em favor da aprovação da Ficha Limpa – foram colhidas 350
mil assinaturas. Na internet, as assinaturas em favor da reforma
política de iniciativa popular podem ser feitas no site
www.eleicoeslimpas.org.br.
NO CONGRESSO Enquanto isso, no
Congresso, a promessa feita pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN), é de que a proposta de reforma política que tramita na
Casa será votada em abril, seis meses antes das eleições. Ela foi
elaborada por um grupo de trabalho coordenado pelo deputado Cândido
Vaccarezza (PT-SP) e está pronta para análise da Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. A matéria acaba com o voto
obrigatório e com a possibilidade de reeleição de presidente da
República, governadores e prefeitos. O texto determina a coincidência
das eleições municipais com as eleições estaduais e federal a partir de
2018 e diminui o prazo de um ano para seis meses da filiação partidária
obrigatória para que candidatos possam concorrer nas eleições seguintes.
Memória
Ficha Limpa
O
Projeto de Lei da Ficha Limpa – a lei que torna inelegível por oito anos
um candidato que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a
cassação ou for condenado por decisão de órgão colegiado (com mais de um
juiz) – foi lançado em abril de 2008 pelo Movimento de Combate à
Corrupção Eleitoral (MCCE). A proposta começou a tramitar no Congresso
em 2009, depois de coletar mais de 1,6 milhão de assinaturas. Em 2010
ela foi aprovada pela Câmara e Congresso. A Lei Ficha Limpa passou a
valer nas eleições municipais de 2012.
Principais pontos do projeto
Dois turnos para as eleições a deputado federal, estadual e vereador;
Empresas ficam proibidas de doar para campanha;
Quem deixar o partido vai perder, automaticamente, o mandato, independentemente de decisão judicial;
A divulgação das despesas com campanhas deverá ser feita em até 24 horas após o recebimento do produto ou prestação do serviço;
Políticos
e eleitores podem falar sobre política livremente, desde que em meios
gratuitos, mesmo antes do período oficial de campanha.
Fonte: Jornal do Commercio.
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