SÃO
PAULO E BRASÍLIA- Cinco horas após a hidrelétrica de Três Irmãos ser
arrematada por Furnas, ontem, o leilão foi suspenso pelo Tribunal de
Contas da União (TCU). O ministro José Jorge adotou medida cautelar
solicitada pelo governo de São Paulo, dono da Companhia Energética de
São Paulo (Cesp), atual operadora da usina, que é a primeira com
contrato de concessão vencido a ser posta em leilão pelo governo
federal. A Cesp não aderiu ao programa de renovação de concessões, no
ano passado, que implicava redução das tarifas, o que levou a queda de
cerca de 20% nas contas de luz no ano passado. O governo planeja ao
menos outros seis leilões até o fim de 2015, envolvendo troca de
operação de usinas construídas há décadas. Contrário ao leilão, o
governo paulista argumentou que antes do processo a Cesp teria de
receber indenização de R$ 1,7 bilhão. E que a administração da usina não
pode ser dissociada das operações de um sistema de duas eclusas e um
canal construídos pela estatal para manter a navegabilidade do Rio Tietê
na região. Apontando o resultado do leilão como um “arranjo de última
hora”, José Aníbal comemorou a decisão do TCU: — A operação tem que ser
conjunta. A água é a mesma — afirmou, frisando que terá, na segunda-
feira, em Brasília, "uma conversa dura” para definir uma data para
entregar a usina. — Se não acertarmos, vamos à Justiça. Além disso, o
governo paulista cobra R$ 1 bilhão pelas obras e compensações
ambientais. — O pagamento de R$ 1,7 bilhão não dá quitação a todos os
ativos. Nem pensar. Vamos cobrar pelas eclusas, pelo canal e pelo que
gastamos com as compensações ambientais — diz José Anibal, secretário de
Energia de São Paulo. DESÁGIO DE R$ 0,87 SOBRE VALOR MÁXIMO A medida cautelar de Jorge determinou que a Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) “se abstenha de celebrar o contrato de concessão”. No
entendimento do TCU, a operação em separado da usina, sem que seja
definido o tratamento a ser dado às eclusas e ao canal, pode comprometer
o sistema energético hidroviário. A Hidrovia Tietê- Paraná é canal
importante de escoamento da produção agropecuária do interior do
Sudeste. Segundo a decisão, os envolvidos no leilão poderão ser ouvidas
pelo TCU sobre as reclamações apresentadas pela Secretaria de Logística e
Transportes de São Paulo. em 15 dias. A Aneel pode apresentar recurso
em cinco dias. No fim da tarde de ontem, o Ministério de Minas e Energia informou que
aguarda notificação da decisão do TCU para, então, decidir providências.
Procurada, Furnas não se manifestou. Com capacidade instalada de 807
MW, Três Irmãos está localizada no Rio Tietê, entre as cidades de
Andradina e Pereira Barreto, no interior paulista. O governo paulista
argumentou ao TCU que faziam parte do seu contrato de concessão a
operação e manutenção de eclusas e do canal Pereira Barreto, que liga o
reservatório de Três Irmãos ao da usina da Ilha Solteira, também operada
pela Cesp. Estas instalações não entraram no escopo do leilão de ontem.
O Ministério dos Transportes defende que as eclusas e o canal, por
estarem em um rio estadual (o Tietê), não são de responsabilidade do
governo federal. Ainda assim, no prazo de um ano, a União assumiu
compromisso de aportar “recursos financeiros federais para operação e
manutenção das eclusas e do canal, por meio de Termo de Compromisso,
ainda não assinado pelo Estado de São Paulo”, segundo a decisão. Embora
houvesse 21 grupos habilitados para o leilão, realizado na Bovespa, o
consórcio Novo Oriente, formado pela estatal federal Furnas e um fundo
de investimento cujos cotistas não foram revelados, foi a único a
apresentar oferta no leilão de Três Irmãos. O grupo ofereceu R$
31.623.036, somente R$ 0,87 a menos que o teto fixado pela Aneel. O
valor corresponde à receita anual que os novos concessionários receberão
para operar e fazer a manutenção da usina por 30 anos. Furnas, que
pertence à Eletrobras, diz ter 49,9% do consórcio. O controle estaria
nas mãos do Fundo de Investimento em Participações Constantinopla.
Segundo o gestor Eduardo Borges, cláusula de confidencialidade o impede
dar os nomes das empresas integrantes. Ele diz que são cinco cotistas:
dois do setor financeiro e três do setor elétrico, todos de capital
nacional. Segundo especialistas, os riscos relacionados à briga judicial
entre a Cesp e a Aneel em torno da indenização foram o principal motivo
para a falta de participantes. Mas o governo diz que não ficou
frustrado com a falta de competição. O diretor da Aneel André Pepitone
afirmou que o consócio permitiu a entrada de capital privado no setor. —
Foi o sucesso do sucesso — disse. Foi o primeiro teste do governo
federal após a renovação antecipada das concessões do setor. Em setembro
de 2012, a presidente Dilma Rousseff baixou a Medida Provisória 579,
como parte de um pacote para reduzir a tarifa. Em troca da renovação, as
concessionárias aceitariam remuneração menor pela operação dos
empreendimentos, barateando a produção e o transporte da energia. Além
da Cesp, a Cemig (Minas) e a Copel (Paraná) não aderiram ao plano.
Fonte: Jornal O Globo
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