Uma das maiores
dificuldades - senão a maior - do PT para seguir o conselho do
ex-presidente Luiz Inácio da Silva e "ir para cima" dos adversários é
que o partido está com as cordas vocais afetadas. No sentido figurado,
óbvio.
Pouco se ouve a voz dos líderes no Congresso; Lula mesmo
estava calado há muito tempo. O presidente do partido, Rui Falcão, em
uma entrevista nesta segunda-feira à Folha de S. Paulo quando perguntado
sobre o que deveria fazer o governo para estancar queda da presidente
Dilma Rousseff e voltar a crescer nas pesquisas, respondeu: "A
continuidade das ações e o Marco Civil da Internet".
Convenhamos,
diante do que o próprio Rui Falcão chamou de "tsunami" de notícias
negativas, é pouco. Principalmente para um grupo que se notabiliza pela
competência na atividade da agitação política, na mobilização dos
movimentos, setores e redes sociais em sua defesa. O PT parece exausto,
atordoado como quem dá um tempo para se recuperar em busca de forças
para reagir.
O esforço da tropa governista para inviabilizar a
CPI da Petrobrás não ajuda. O perfil e o histórico dos generais, Renan
Calheiros, Romero Jucá e companhia, tampouco facilitam a tarefa dos
petistas de convencerem a opinião pública de que estão do lado certo.
Ainda
mais quando 78% dos consultados em pesquisa do Datafolha se dizem
convencidos da existência de corrupção na Petrobrás e 40% atribuem
responsabilidade à presidente Dilma.
O cenário adverso é ambiente
em que o PT se desacostumou a transitar depois de tantos anos de altos
índices de popularidade dos presidentes Lula e Dilma e de avaliações
positivas dos governos. O partido habituou-se ao discurso ora ufanista
ou meramente provocativo pelo fato de os índices de rejeição aos seus
governantes serem tão reduzidos.
As circunstâncias mudaram, a
sorte virou e a unidade não é mais aquela dos tempos de bonança sob o
guarda-chuva de Lula e a prática cotidiana de levar a nação na conversa.
O que se vê são petistas reclamando da presidente de seu partido e,
portanto, sem energia vital nem argumentos para defendê-la.
A
realidade, porém, não contribui. Tem sido madrasta. Companheiros da
antiga cúpula estão presos, um deputado partido está enrolado com um
doleiro, a presidente da República precisa da tutela do ex-presidente
para se fortalecer, a economia gera insegurança, a sensação de bem-estar
se esvai e o PT está sem palavras para responder.
No pé. Os
funcionários do Tribunal de Contas da União protestam, os ministros
repudiam a companhia, os senadores rejeitaram a urgência proposta pelo
governo para a aprovação da indicação do senador Gim Argello para o TCU.
A
razão? Seis inquéritos no Supremo Tribunal Federal por lavagem de
dinheiro, corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, peculato e
infração à lei de licitações. Ainda assim, o Palácio do Planalto insiste
no nome de Argello para assumir uma vaga no tribunal, a fim de atender
ao PTB. Como se já não tivesse problemas suficientes.
Por essa e várias outras acima relatadas é que o PT fica impossibilitado de fazer milagre.
Censura.
Ao pregar a retomada "com muita força" do tema da regulação dos meios
de comunicação, Lula justificou-se assim: "Quando vejo o tratamento a
Dilma, é de falta de respeito e de compromisso com a verdade".
De
onde se vê que, ao contrário das alegações formais, se trata realmente
do controle de conteúdo. Com a "regulagem" defendida pelo PT o Estado
daria as balizas do tratamento considerado respeitoso em relação a
autoridades, bem como firmaria os termos da verdade para com a qual os
meios de comunicação estariam compromissados.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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