Há sinais de vida ética e inteligente vinda do inóspito mundo oficial brasileiro. Eles são tênues e quase somem em meio ao alariado de escaândalos sucessivos que se abatem sobre a opinião pública. Mas vale a pena aguçar os sensores para detectá-los. O Tribunal de Contas da União (TCU) tem se mostrado muito mais reativo e ágil no cumprimento de seu papel fiscalizador. "Não posso aceitar um condenado", proclamou Augusto Nardes, presidente do TCU, matando no nascedouro a tentativa espúria de instalar em seu quadro de ministros o notório Gim Argello, senador do PTB do Distrito Federal, que responde a processos por corrupção e outros crimes. É pouco, mas já é um começo de depuração e, quem sabe, retomada do empuxo histórico imprimido no TCU por Serzedello Corrêa, o servidor exemplar que peitou o marechal-presidente Floriano Peixoto, rejeitando despesas ilegais do governo. Floriano arranjou um pretexto para prendê-lo, mas Serzedello deixou a lição em um momento crucial da nacionalidade, quando já havendo uma república nos faltavam cidadãos: "Os governos nobilitam-se, Marechal, obedecendo à soberania suprema da lei, e só dentro dela mantêm-se e são verdadeiramente independentes".
Também não se pode menosprezar, vendo no episódio apenas a esperteza do PT de se livrar de um fardo pesado nas eleições presidenciais deste ano, a pressa do partido em reconhecer os crimes do deputado André Vargas, do PT do Paraná. Veja revelou há duas semanas que Vargas, pregador da volta da censura à imprensa no Brasil, era sócio de um doleiro preso, com quem combinava assaltos aos cofres públicos. A reação -padrão do PT nesses casos seria acusar a "imprensa golpista", passar a mão na cabeça do delinquente e, em público, no máximo, admitir que ele, coitadinho, agiu como um aloprado. Desta vez, a reação foi diferente. Vargas foi pressionado a renunnciar ao mandato.
Reportagens desta edição de VEJA registram outros sinais de vida honesta. Um deles revela que um funcionário do Ministério da Previdência preferiu demitir-se do cargo quando pressionado a fraudar números que, assim, dariam uma cara menos feia ao défict do sistema. Animadora também foi a revolta de coordenadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contra a tentativa de mudar para pior a consagrada metodologia de pesquisa do órgão. O desfile perante comissões do Congresso da Presidente da Petrobrás, Graça Foster, e do ex-diretor Nestor Cerveró foi digno de nota. Eles foram prestar contas aos representantes eleitos do povo da contestada compra, no governo Lula, de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos. A operação-padrão do PT nesses casos seria mobilizar a turma para barrar os depoimentos. É um avanço, mesmo diante do que o PT tem feito para evitar a instalação da CPI da Petrobrás. Outro "bip" partiu da área econômica, que vinha gerando altos decibéis de equívocos. O governo, finalmente, se comprometeu com metas nas contas públicas, criando dificuldades para ele próprio burlar o valor da poupança destinada a pagar os juros da dívida. São regras imperfeitas, mas lógicas. Isso é positivo.
Fonte: Revista Veja
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