A cidade de Rio das Ostras, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, fica
entre duas vizinhas bem mais famosas. De um lado está Macaé, a
principal base operacional da Petrobras e de dezenas de empresas que
gravitam ao redor da estatal. Do outro lado fica Búzios, um dos destinos
turísticos mais badalados do país. Até 1992, quando se emancipou, Rio
das Ostras era uma vila da periferia do município de Casimiro de Abreu.
Ao longo destes 22 anos, passou de 11.000 para 126.000 moradores,
crescimento que tinha tudo para piorar a qualidade de vida na cidade.
Não foi o que aconteceu. No período, Rio das Ostras deixou de ser a
prima pobre de Macaé e de Búzios para se transformar numa das cidades
brasileiras que mais avançaram em indicadores econômicos e sociais.
De 2000 a 2010, o salário médio dos trabalhadores locais com carteira
assinada teve aumento real de 81%, passando de 902 para 1635 reais,
segundo o índice Firjan de Desenvolvimento Municipal, que analisa
anualmente dezenas de indicadores dos municípios. Com isso, a
remuneração em Rio das Ostras superou a média nacional, apesar de partir
de um valor bem mais baixo - a média de salário no país teve
crescimento real de 14% no período, alcançando 1588 reais. A cidade
também registrou avanços importantes na educação. O abandono escolar é
quase zero, a distorção de idade dos alunos em relação à série que
deveriam cursar é baixa e a maioria dos professores do ciclo básico tem
formação superior. A nota dos alunos também está acima da média
brasileira (4,9, ante 4,05 no Ideb, o índice de desempenho no ensino
básico). Esse tipo de evolução foi, em grande parte, resultado do
investimento público. Em 1997, Rio das Ostras tinha cinco escolas
municipais. Hoje tem 50. A carência de professores de Ensino Fundamental foi amenizada pela criação de um instituto municipal especializado em
magistério. Os alunos do instituto têm aulas em período integral durante
os quatro anos de curso. "Percebemos que os professores chegavam mal
preparados e decidimos criar uma escola própria", afirma Alcebíades
Sabino, prefeito da cidade.
Um fator preponderante para o desenvolvimento de Rio das Ostras foi o
aumento da receita de royalties pagos pelas empresas de petróleo,
principalmente de 1999 em diante - em 2013, foram 334 milhões de reais.
Os royalties, porém, não justificam por si sós o avanço econômico e
social ocorrido na cidade. "Esse dinheiro só se transforma em elevação
da renda dos trabalhadores e em melhores serviços públicos se for bem
aplicado", afirma Guilherme Mercês, gerente de economia e estatística da
Firjan. "Rio das Ostras tem uma saúde financeira muito boa e vem
tentando reduzir a dependência dos royalties, que, como se sabe, vão
acabar um dia." O município gasta menos de 30% da receita com salário de
servidores, quando o limite é 60%, e investe 20% do total arrecadado.
Essa combinação é rara no Brasil.
O fator mais importante para o avanço de Rio das Ostras talvez tenha
sido o planejamento. Em 1999, a cidade concluiu o primeiro plano
diretor, com a ajuda de profissionais de várias áreas e diferentes
regiões do país. O plano de urbanismo contou com a participação do
arquiteto Ruy Ohtake, de São Paulo. Foi durante a elaboração do plano
diretor que se decidiu criar a Zona Especial de Negócios, área oferecida
gratuitamente a empresas interessadas em se instalar na cidade.
Inaugurada em 2002, a Zona Especial reúne 39 companhias, muitas do setor
de petróleo. O plano diretor levou à escolha de uma localização para o
polo empresarial distante das atraentes praias e lagoas de Rio das
Ostras. "Não queríamos criar conflitos com o turismo, com base nas
belezas naturais da região. A ideia era atrair negócios que pudessem
gerar empregos e novas receitas", diz o prefeito Sabino. Nos últimos
cinco anos, o número de empresas registradas na cidade passou de 2.800
para 7.000, a maioria de pequeno porte e do setor de serviços. A
prefeitura busca agora outro terreno para instalar o segundo polo. Há
mais de 200 empresas interessadas em se estabelecer no município ou
aumentar a operação existente.
E claro que Rio das Ostras ainda está longe de ser uma cidade dos
sonhos. Suas escolas precisam expandir o número de horas-aula, que é
baixo (4,3 horas por dia, ante a média nacional de 4,5). O município
também precisa ampliar as vagas de educação infantil - que atende apenas
40% das crianças, nível próximo da média nacional. No momento, a cidade
está refazendo o plano diretor com vistas a 2030. É sinal de que novos
saltos de qualidade podem vir pela frente.
Fonte: Revista Exame
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