RIO - O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto
Nardes, fez hoje severas críticas à organização da Copa do Mundo no
Brasil. Segundo ele, muitas cidades vão passar vergonha porque o evento
será realizado em meio a obras de infraestrutura inacabadas ou que não
saíram do papel. Para Nardes, o Brasil precisa abandonar a cultura do
improviso e do "jeitinho" e episódios como esses servem de exemplo para
que o problema não se repita nos preparativos dos Jogos Olímpicos de
2016 - cujos atrasos no cronograma já receberam críticas de membros do
Comitê Olímpico Internacional (COI).
- Precisamos avançar como
nação nos preparativos para as Olimpíadas para evitar cometermos erros,
situações de constrangimentos e atrasos. Estaremos vigilantes para que
nos Jogos Olímpicos não passemos vergonha como infelizmente vamos passar
na Copa do Mundo, onde algumas cidades não estão preparadas para
receber os cidadãos - disse Nardes.
As declarações foram feitas
hoje à tarde durante o lançamento do portal Fiscaliza Rio 2016, que
reúne informações sobre auditorias feitas pelos tribunais de contas da
União, do Estado e do Município do Rio nos preparativos para os Jogos
Olímpicos em áreas como infraestrutura, segurança e mobilidade urbana. A
cerimônia ocorreu no auditório do TCE, na Praça da República, no Centro
do Rio. Por coincidência, a cerimônia começou no mesmo horário em que, a
500 metros dali, manifestantes se concentravam para promover um
protesto contra os gastos públicos na Copa do Mundo. Quando o evento
terminou, muitos convidados acabaram retidos no congestionamento causado
pelos protestos.
O ministro citou vários exemplos de obras de
infraestrutura previstas para a Copa do Mundo que estão atrasadas, não
foram realizadas ou acabaram executadas de forma errada em quase todas
as cidades-sede:
- Teremos decepções na Copa. Estive em Cuiabá na
semana passada e fiquei impressionado. A situação lá parece uma praça de
guerra. As obras nos aeroportos não estão terminadas. Houve atrasos em
outros aeroportos, como no Galeão e em São Paulo, porque demorou-se a
decidir a fazer a concessão do serviço à iniciativa privada. E, quando a
decisão foi tomada, perdeu-se muito tempo para definir qual o modelo.
Nardes prosseguiu:
-
Ainda no Rio de Janeiro, as obras de modernização do terminal de
passageiros do porto ficaram no papel. Em Natal, as obras de
modernização do terminal portuário foram concluídas. Mas não tem como
navios atracarem porque a plataforma de desembarque foi construída num
nível que não permite o desembarque de passageiros. Porto Alegre
desistiu de realizar R$ 300 milhões em obras de mobilidade urbana.
Em
relação aos Jogos Olímpicos, o ministro disse que sua maior preocupação
é que as obras de expansão do metrô até a Barra da Tijuca fiquem
prontas a tempo, por ser tratar de um projeto complexo.
O
presidente do TCU acrescentou que as ações de fiscalização do órgão
permitiram uma economia de R$ 700 milhões aos cofres públicos, com
revisões de projetos para a Copa nos quais foram detectados indícios de
sobrepreço. Nardes defendeu ainda o direito da população de protestar. E
acrescentou que a questão de se ter uma melhor governança dos gastos
públicos é uma pauta obrigatória para a campanha eleitoral deste ano.
Fonte: Jornal O Globo
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