Quando um professor é contratado para
trabalhar na rede estadual de educação, o mínimo que se pode esperar é
que ele frequente a escola. Entretanto, levantamento de ISTOÉ em 19
Estados e no Distrito Federal constatou que 6.538 professores
concursados estão alocados em gabinetes de políticos, de membros do
Judiciário e em órgãos públicos – outros milhares ocupam funções
burocráticas na própria escola. O número corresponde a 20% da carência
do magistério nacional, que é de 32 mil docentes, segundo auditoria do
Tribunal de Contas da União (TCU). A cessão de professores é rotina em
todos os Estados, sendo que Pernambuco é o recordista: 1.236 cessões, ou
5% do total da rede, que é de 25.874 docentes.
PREJUÍZO O Brasil tem uma carência de 32 mil professores
São os próprios governos que não impõem
limites à realocação de professores. Para contratar um docente, basta o
órgão solicitante repassar às secretarias de educação o salário do
profissional. A exceção poderia ser o Rio de Janeiro, onde a
Constituição do Estado proíbe os membros do magistério público de se
afastar da regência de turmas. Mas somente para a Assembleia Legislativa
do Rio (Alerj) o número de professores cedidos é de 115, contingente
capaz de suprir duas escolas com 1.500 alunos cada. O total de docentes
fluminenses cedidos é exatamente igual ao do déficit da rede, 800.
Para Priscila Cruz, diretora-executiva do
Todos Pela Educação, os dados mostram a desvalorização da categoria. “O
professor é a principal garantia da qualidade do ensino”, afirma. O
deputado fluminense Comte Bittencourt (PPS), “que tem sete ou oito
professores” no gabinete, admite que, em tese, todos os cedidos estão em
situação irregular. “Mas é o governo quem cede. E para os professores é
uma forma de aumentar a remuneração”, justifica o deputado, que preside
a Comissão de Educação da Alerj há 12 anos. A secretária de Educação da
Paraíba, Márcia Lucena, que tem 249 professores cedidos para outros
órgãos, explica que muitos estão há tanto tempo sem lecionar que nem
vale a pena trazê-los de volta. “Quem está há 20 anos fora da sala de
aula não consegue se relacionar com a juventude de hoje”, justifica.
Fonte: Istoé
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