O que de mais grave está acontecendo nos últimos dias, especialmente no
caso da Petrobras, é a banalização das ações intervencionistas do
governo, como se transformar uma CPI em farsa, ou pressionar um órgão
fiscalizador como o TCU fossem tarefas de um governo democrático que
tenha um mínimo de postura legalista.
O caso do banco Santander
já se transformou num exemplo de pressão governamental bem sucedida
graças à fragilidade da sua direção. É preocupante que em diversos
níveis, de meros assessores a ministros de Estado, passando pela própria
presidente da República, se tente justificar o injustificável, a
ingerência de uma máquina pública para tentar travar as investigações
sobre falcatruas promovidas na Petrobras.
Ontem se viu pela
primeira vez na história do Tribunal de Contas da União (TCU) um
advogado-geral da União a fazer a defesa oral de ex-diretores da
Petrobras acusados de prejuízos causados à estatal. O que incomoda os
ex-diretores não é a acusação, aprovada por unanimidade, de terem
causado prejuízos à Petrobras, mas terem tido seus bens pessoais
bloqueados.
Até mesmo a presidente da estatal, Graça Forster, já
entrou com ação preventiva no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar
impedir que venha a ter os seus bens bloqueados quando o TCU decidir se
deve incluí-la na lista dos culpados, pois era diretora na época em que
o negócio da refinaria de Pasadena foi discutido na Justiça dos Estados
Unidos, tendo aumentado o prejuízo da estatal brasileira.
A
decisão de não cumprir a sentença de uma disputa arbitral e levar o
assunto para a Justiça foi tomada pelo Conselho Administrativo da
Petrobras à época, presidido pela hoje presidente Dilma. Por isso toda a
preocupação do Advogado-Geral da União: se Graça Forster, que era uma
simples diretora, pode ter seus bens bloqueados, por que não os membros
do Conselho que mandaram a diretoria discutir o assunto na Justiça
americana?
A alegação é que Graça Forster não era diretora à
época da compra da refinaria, e não deveria ter a mesma punição que os
demais diretores envolvidos diretamente na aquisição que se revelou
prejudicial aos cofres da estatal.
O relator do caso, o ministro
José Jorge, tem sido pressionado desde o primeiro instante, e até mesmo o
ministro da Justiça José Eduardo Cardozo foi ao TCU reforçar a
tentativa da AGU de adiar o julgamento do caso. José Jorge chegou ao
tribunal por indicação do Congresso, e fora ministro das Minas e
Energia do presidente Fernando Henrique Cardoso. Presidiu o Conselho
Administrativo da Petrobrás e os petistas colocam em sua conta medidas
polêmicas que teriam causado prejuízos à Petrobras: troca de ações com
uma subsidiária da Repsol, na Argentina, e o naufrágio da plataforma
oceânica P-36.
Assim como supervalorizam os prejuízos da época
tucana, minimizam os da era petista, transformando essa disputa política
em algo próximo ao ridículo. O fato é que nas duas ocasiões o ministro
José Jorge, na mira dos petistas da CPI da Petrobras que virou suco,
recuou em suas decisões: não incluiu os membros do Conselho de
Administração no rol dos culpados, e ontem retirou o seu voto a favor da
inclusão de Graça Forster na lista, para analisar a defesa do
advogado-geral da União.
Nos dois casos alegou que foi um recuo
estratégico, pois o governo havia feito um trabalho entre os ministros e
ele perderia a votação se radicalizasse na sua decisão. Aguarda momento
mais oportuno para voltar ao tema, mas não há prazo para a decisão.
Toda
movimentação governista para blindar a presidente Dilma e proteger até
mesmo ex-diretores como Nestor Cerveró, demitido da Petrobras com seis
anos de atraso por ter feito um relatório tecnicamente falho, segundo a
própria presidente Dilma, só demonstra que essa "tenebrosa transação"
nos Estados Unidos tem o poder de colocar em xeque toda a estrutura
técnica da Petrobras e levar de enxurrada os membros daquele Conselho
Administrativo que autorizou um negócio que se provou prejudicial.
Estamos
vendo em ação a máquina estatal aparelhada pelo petismo agindo em
várias frentes em plena luz do dia para fragilizar a democracia.
Fonte: Jornal O Globo
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