A área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) está esmiuçando
arquivos do Tesouro Nacional, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e
Banco Central (BC). O objetivo é rastrear documentos e contratos
firmados entre a Caixa e ministérios da área social com informações
sobre as chamadas "pedaladas fiscais", a prática de atraso nos
pagamentos de benefícios sociais para melhorar temporariamente o
resultado das contas públicas.
No processo aberto pelo ministro José Múcio, a pedido do Ministério
Público (MP) junto ao TCU, os auditores também têm realizado
"interrogatórios" com servidores da área econômica. O secretário do
Tesouro, Arno Augustin, pode ser convocado para uma entrevista, segundo
apurou o jornal O Estado de S. Paulo.
+ MP pede apuração sobre 'pedaladas' no Tesouro e no BC
Uma força-tarefa de dez técnicos do TCU está dedicada à investigação
das "pedaladas fiscais", que também inclui o "caso dos R$ 4 bilhões",
crédito a favor do Tesouro encontrado pelo BC em uma conta paralela de
um banco privado do país que melhorou o resultado fiscal do governo
federal em maio. Uma fonte envolvida nas investigações disse que o
tribunal "vai fundo na inspeção, tendo em vista que crimes contra o
Erário, se forem verificados, não prescrevem".
O TCU audita a operação de atraso no repasse de recursos do Tesouro
para a Caixa, que tem pago com recursos próprios despesas como abono
salarial, aposentadorias e Bolsa Família. Ao deixar de repassar os
recursos, via "pedalada fiscal", o Tesouro registrou gastos menores, e
isso melhorou o quadro das contas públicas.
+ Aumento de pagamentos do Tesouro em agosto sugere manobra nos gastos
O ponto central é que a Caixa, sem o dinheiro do Tesouro, manteve o
pagamento em dia de todos os benefícios sociais. Assim, essa operação
configuraria um financiamento do Tesouro pela Caixa, o que é vedado pela
Lei de Responsabilidade Fiscal. O caso foi levado pelo banco estatal à
Câmara de Arbitragem e Conciliação da Advocacia-Geral da União (AGU).
Até aqui, não houve posição final da AGU sobre o caso.
O Tesouro tem negado qualquer atraso no repasse do dinheiro à Caixa. Os
repasses seguiriam os prazos contratuais e não haveria qualquer
problema, segundo a secretaria.
Julgamento Os dados técnicos, com documentos e as oitivas dos servidores e
autoridades, devem ser amarrados em um parecer a ser entregue pelos
especialistas da área de fiscalização do TCU ao ministro José Múcio até o
fim de outubro. A partir disso, o ministro levará as conclusões da
investigação ao plenário do tribunal entre o fim de novembro e o mês de
dezembro. O caso é considerado grave pelo TCU, segundo uma fonte que
acompanha o processo.
R$ 4 bilhões O TCU também investiga o "caso dos R$ 4 bilhões". O caso, revelado em
julho, continua sem explicação oficial. O Banco Central informou ter
colocado sua área de supervisão para analisar a operação feita pelo
banco privado, que alterara seu registro contábil, levando os R$ 4
bilhões em créditos da União a escapar do sistema automático de
verificação fiscal da autoridade monetária.
Mas até hoje, 70 dias após a revelação do caso que melhorou as contas
fiscais em maio, é desconhecida a origem dos R$ 4 bilhões. Também não se
sabe a razão que motivou o banco privado nacional a fazer a alteração
em sua classificação contábil, que deixou os recursos fora do radar do
Banco Central. Além do Tribunal de Contas da União, as pedaladas fiscais
e o caso dos R$ 4 bilhões também estão sob investigação do Ministério
Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF).
Fonte: Estado de S. Paulo
|