O ministro-chefe da Secretaria de Portos, César Borges, escolheu uma
plateia de empresários do setor para disparar críticas ao Tribunal de
Contas da União (TCU) e às companhias que atuam com serviços de
dragagem. Ele jogou nas costas do órgão de controle a responsabilidade
pela indefinição em torno de novas frentes de investimentos em terminais
portuários e insinuou que as empresas responsáveis pela retirada de
sedimentos podem estar fazendo combinação de preços nas concorrências
abertas pelo governo.
"Elas se aproximam muito de um cartel", disse Borges, ao lembrar as
duas tentativas fracassadas de contratação dos serviços para dragagem no
porto de Santos (SP), o maior do país. Duas concorrências foram abertas
neste ano, pelo regime diferenciado de contratações públicas (RDC), mas
os lances oferecidos por todas as empresas ficaram acima dos valores
máximos que o governo se dispunha a pagar.
Borges se queixou do fato de que essa atividade é dominada por
"poucas empresas" e elas têm resistido a baixar seus preços. Para
solucionar o impasse, a Secretaria de Portos está fazendo uma nova
licitação, desta vez usando o RDC eletrônico e divulgando
antecipadamente até quanto se dispõe a pagar - nas concorrências
anteriores, o orçamento só foi divulgado ao término do processo. O
ministro afirmou, no entanto, que não dá para saber se houve calibragem
inadequada dos preços ou se houve prática de cartel. "Até que ponto
termina uma coisa e começa a outra é algo que a gente ainda não sabe."
Frustrado com o atraso nas licitações portuárias, Borges repassou a
bola ao TCU. Ele lembrou que o tribunal analisa, há mais de um ano, os
estudos de viabilidade para novos contratos de arrendamento de terminais
em portos organizados. O primeiro bloco, que envolvia terminais nos
portos de Santos e do Pará, ainda depende de aval do tribunal de contas.
Ao todo, os cinco blocos de licitações preveem investimentos de R$ 15,8
bilhões, permitindo aumentar a capacidade dos portos em 219 milhões de
toneladas, o que equivale a 20% da movimentação atual.
Desde dezembro de 2013, o processo no TCU entrou numa espiral de
recursos e contestações, após decisões desfavoráveis ao governo. O
processo era relatado pela ministra Ana Arraes, mãe do ex-governador de
Pernambuco Eduardo Campos, então pré-candidato do PSB à Presidência da
República e morto recentemente em acidente de avião. "Quem sabe, tendo
passado o momento eleitoral, o tribunal possa agora se debruçar sobre
esse assunto e liberar o primeiro bloco", afirmou Borges, em tom de
apelo.
O ministro também deu uma resposta, diante de uma plateia de
empresários e executivos do setor, às críticas de que a Secretaria de
Portos tem atrasado a renovação antecipada dos contratos de arrendamento
que expiram nos próximos anos. A nova lei do setor, sancionada em junho
do ano passado, permite ao governo antecipar a prorrogação dos
contratos firmados depois de 1993.
Com base na legislação, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários
(Antaq) já aprovou pelo menos seis pedidos de empresas com contratos
vencendo, mas com possibilidade de renovação. É o caso de terminais
operados pela Santos Brasil em Santos, pela TCP em Paranaguá (PR) e pela
CSN em Itaguaí (RJ).
Pelas regras do setor, cabe à secretaria endossar ou rejeitar os
processos validados pela agência reguladora, dando a última palavra
sobre o assunto. Até agora, contrariando as expectativas do setor
privado, não houve nenhuma deliberação. "O TCU fez uma diligência para
acompanhar de forma bem apurada esse processo", justificou Borges.
Segundo ele, há cerca de 40 pedidos de prorrogação antecipada, com mais
de R$ 10 bilhões de investimentos previstos. A expectativa do ministro é
fazer os primeiros anúncios até o fim deste ano.
Borges disse que entregará, nos próximos dias, sua carta de demissão à
presidente reeleita Dilma Rousseff. "Ninguém é dono de cargo. Em fim de
governo, é uma postura natural e mais do que lógica colocá-lo à
disposição, até como gentileza à presidente."
Fonte: Jornal Valor Econômico
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