Contratos suspeitos entre a Petrobras e as empreiteiras envolvidas
na Operação Lava-Jato devem ser repactuados, defenderam ontem o
vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente do Tribunal
de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, durante seminário que contou
com a participação de vários governadores eleitos. A possibilidade de
que as construtoras venham a ser consideradas inidôneas foi vista com
grande preocupação pela maioria dos políticos presentes ao evento.
Temer, que estava no exercício da Presidência, disse que o governo
está "tranquilíssimo" em relação às investigações. Ele defendeu que
possíveis exageros nos contratos sejam repactuados, mas que "eventual
inidoneidade se dê apenas em relação ao futuro, e não aos contratos
existentes".
Antes dele, o presidente do TCU também foi cauteloso em relação às
empreiteiras. Segundo Nardes, a Corte de contas vai procurar o governo e
a Controladoria Geral da União (CGU) para que seja debatida uma forma
de evitar que as construtoras recebam o carimbo de inidoneidade.
"Acho que podem ser feitas repactuações desses contratos,
retirando-se o sobrepreço para que possamos trabalhar em conjunto e as
obras continuem", disse Nardes. O presidente do TCU destacou que as
empresas envolvidas são "grandes" e que a eventual paralisação das obras
tocadas por elas "pode parar o país".
Deflagrada na última sexta-feira, a sétima etapa da Operação
Lava-Jato resultou na prisão de executivos ligados aos mais importantes
grupos construtores do país, casos de Camargo Correa, OAS, UTC, Queiroz
Galvão, Mendes Júnior, Iesa, Engevix e Galvão Engenharia. Também houve
apreensão de documentos na Odebrecht. Juntas, as empreiteiras têm R$ 59
bilhões em contratos com a Petrobras.
A preocupação com o destino das empresas foi compartilhada por vários
governadores presentes ao seminário "Pacto pela Governança", organizado
pelo TCU no Museu Nacional, em Brasília. O governador reeleito do Rio
de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), lembrou que muitas das
construtoras acusadas de pagarem propina tocam as principais obras
relacionadas aos Jogos Olímpicos de 2016.
"Nossas obras estão todas andando dentro cronograma. Todas elas estão
indo muito bem. A gente espera que não tenha problema algum. São
grandes empresas que estão fazendo um serviço extraordinário", afirmou
Pezão. A seu ver, a Justiça ainda cumprirá etapas do processo até que
alguma condenação possa ocorrer. "Tem que dar o direito de todo mundo se
defender", completou.
O governador eleito de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), também optou
pela cautela. "Toda denúncia tem de ser investigada, mas as pessoas têm
direito de se defender. A gente, com um governo que tem contrato com
muitas dessas empresas, vai esperar", afirmou. Eleito governador do
Piauí, o petista Wellington Dias disse que o escândalo poderá servir
para pôr fim às doações eleitorais das empresas.
O governador eleito do Mato Grosso, Pedro Taques (PDT), elevou o tom.
De acordo com ele, as empresas que forem condenadas por fraude devem
ser substituídas o quanto antes para minimizar o efeito da paralisação
das obras. "A legislação permite a substituição, para que haja a
continuidade dos contratos. Não dá para deixar de responsabilizar quem
cometeu o ilícito", afirmou Taques.
A decisão da Petrobras de criar uma diretoria de compliance também
foi comentada no seminário. O presidente do TCU disse ter ficado
satisfeito, pois, segundo ele, "não há outro caminho para o governo
lutar contra a corrupção que não considere o trabalho de metas e
planejamento da governança".
Um relatório elaborado pelo TCU e pelos tribunais de contas estaduais
foi entregue ontem a Temer e aos governadores. O objetivo é apontar os
principais gargalos nas áreas de saúde, educação, infraestrutura,
previdência e segurança pública.
Fonte: Jornal Valor Econômico
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