O governo não terá impedimentos legais caso registre um déficit nas
contas públicas desse ano. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), relator do
projeto que altera a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2014, fez uma
mudança no texto da proposta apresentada pelo Executivo que reforça a
percepção de resultado negativo nas contas de 2014.
O relatório apresentado por Jucá afirma que as desonerações
tributárias e investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) poderão ser deduzidas da "meta de resultado" estabelecida na LDO,
que é de R$ 116 bilhões para o ano. No texto original, o governo dizia
que o abatimento incidiria sobre a "meta de superávit".
"Fiz uma correção técnica, porque sou economista. O governo poderá
ter superávit ou déficit, por isso coloquei meta de resultado. Ruim para
o mercado é dizer algo e depois fazer outra coisa. Se a gente coloca
que haverá superávit e depois dá um resultado negativo, de menos R$ 50
mil, vão dizer que não foi cumprida a meta", justificou Jucá.
O governo conseguiu apoio formal da bancada do PMDB da Câmara dos
Deputados mas os pemedebistas vão impor três condicionantes: o
estabelecimento de uma meta concreta para 2015, a inclusão do Orçamento
impositivo na LDO do próximo ano e o pagamento de R$ 2,5 bilhões a
Estados e municípios que estavam represados para que o governo federal
cumprisse a meta.
"Vamos dar o perdão que o governo está pedindo, entendendo que o
Congresso Nacional foi coautor do Orçamento e das desonerações que
impactaram a receita este ano", afirmou o líder do PMDB na Câmara,
deputado Eduardo Cunha (RJ).
Na semana passada, o partido já tinha imposto a derrubada do veto ao
projeto que regulamenta a criação de novos municípios como condição para
apoiar a proposta de alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO). Já o governo ameaçava segurar os repasses para Estados e
municípios e o pagamento de emendas parlamentares se o Congresso não
autorizasse uma economia menor, o que derrubaria a arrecadação dos
governadores e prefeitos no fim do ano.
A discussão do relatório de Jucá teve que ser adiada na Comissão
Mista de Orçamento porque o governo não obteve quórum suficiente para a
votação diante das manobras da oposição que desde a semana passada
anunciou que vai obstruir as votações.
Hoje o Congresso avaliará os vetos presidenciais, o que pode abrir
caminho para a votação. "Não aceitaremos que o governo mude a meta que
ele mesmo estabeleceu quando falta pouco mais de um mês para acabar do
ano", disse o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho.
Partidos avaliam tese de que mudança fere a LRF
Foi encaminhada ontem às lideranças dos partidos políticos uma tese
jurídica, formulada por consultores da Comissão Mista de Orçamento do
Congresso, de que o texto da proposta do governo para a mudança da Lei
de Diretrizes Orçamentárias (LDO) fere a Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF). De acordo com a tese, a proposta contraria o artigo 4º da LRF,
que determina que a LDO deve estabelecer metas anuais para os resultados
nominal e primário.
Como a meta estabelecida para este ano de R$ 116,1 bilhões poderá ser
reduzida pelo total dos investimentos do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) e das desonerações fiscais, de acordo com o texto da
proposta encaminhada pelo governo, a União ficará sem meta definida para
o ano, argumentam os consultores. Isso porque o montante do PAC e das
desonerações só será conhecido após o fim da execução orçamentária de
2014.
Sem uma meta definida, alegam os consultores, o governo não pode
obedecer ao que determina o artigo 9º da LRF, que manda cada Poder e o
Ministério Público promoverem, ao fim de cada bimestre, limitação de
empenho e movimentação financeira se for verificado que a realização da
receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado
primário ou nominal. Os consultores argumentam que sem uma meta fiscal
definida não há como promover a limitação de empenho e movimentação
financeira.
Até agora, a meta fiscal anual fixada pela LDO podia ser reduzida dos
investimentos do PAC até um determinado limite, explicitado no texto da
lei. A partir do ano passado, o governo incluiu a permissão de desconto
também das desonerações tributárias realizadas, mas obedecido o limite
global. Para 2014, o teto de dedução era de R$ 67 bilhões. Assim,
argumentam os consultores, conhecia-se com exatidão qual era a meta
fiscal do ano, fixada pela LDO, pois havia um limite para os descontos.
Agora, pelo texto da proposta apresentada pelo governo, os
consultores dizem que a meta só é conhecida a posteriori, ou seja,
depois do fim do exercício, quando ela não pode mais ser usada para
fazer limitação de empenho e movimentação financeira.
A tese desses consultores ainda não foi transformada em uma nota
técnica ou em um parecer, mas foi apresentada às assessorias técnicas
dos partidos para sustentar argumentações a serem feitas durante a
apreciação da mudança na LDO. A preocupação dos consultores é evitar a
aprovação de um texto legal que poderá ser contestado no Supremo
Tribunal Federal (STF), por ferir a LRF.
Fonte: Jornal Valor Econômico
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