Um poço de dúvidas

Rio - A queda no preço do barril de petróleo no exterior somada à crise de denúncias de corrupção na Petrobras devem trazer um cenário mais difícil para a economia do estado no ano que vem. O cenário fluminense é mais crítico que no restante do país, já que cerca de 30% do Produto Interno Bruto do estado é gerado pela cadeia de óleo e gás, 18% apenas na atividade de extração. É mais que o dobro do que a representatividade que o setor tem na economia brasileira, de 12% do PIB.

O Rio concentra 80% das reservas já provadas de petróleo. Neste contexto, a estatal aparece como um gigante com 20 mil fornecedores pelo país, sendo quatro mil no estado. A empresa tem 60 mil empregados diretos, metade deles por aqui, com alto padrão de remuneração.

A queda no preço do petróleo no mercado externo, esta semana, impacta no caixa do governo estadual e de prefeituras de municípios produtores, pois interfere no cálculo da distribuição de royalties. No ano passado, o Rio e os municípios produtores receberam cerca de R$ 6 bilhões com a compensação.

O economista Ranulfo Vidigal, ex-prefeito de São João da Barra, calcula que a queda pode chegar a cerca de 33% do que é pago atualmente. “Isso cai como uma bomba em cidades como Macaé, que respira petróleo. A cidade costumava gerar dez mil empregos por ano e este ano não conseguiu gerar mais que 3.500”, diz.

Sobre a crise institucional da companhia, pouco se sabe sobre seus efeitos futuros, já que ainda se apura qual é o tamanho da rede de corrupção que operava internamente. Funcionários da empresa admitem que há um clima de maior cautela na assinatura de contratos e o adiamento do balanço financeiro da empresa coloca uma interrogação ainda maior sobre a efetivação de investimentos para o futuro. Dos U$S 227 bilhões previstos no plano da empresa entre 2014 e 2018, US$ 18,09 bilhões foram empenhados, o que representa 8% do total.

Especialistas prevêem que alguns projetos devem ser adiados. “O que existe é mais risco de atrasos. Os investimentos em operação são mais prioritários”, afirma Adriano Pires, fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Para o economista Mauro Osório, professor da UFRJ, a área operacional da companhia é menos suscetível a reflexos da crise. “Os investimentos para produção continuam sendo feitos. Os campos já foram descobertos”, avalia.


Obra do Comperj está no centro da Lava Jato

Um dos projetos mais conturbados da companhia, o Comperj, em Itaboraí, pode ter seu andamento afetado, segundo Adriano Pires. “É uma obra tumultuada que está custando mais que a Petrobras anunciou. As empreiteiras podem ser chamadas para rever contratos”, afirma.

Um relatório do Tribunal de Contas da União encontrou uma obra de R$7,6 bilhões, sem licitação, na diretoria de Paulo Roberto Costa, um dos investigados na operação Lava Jato. Ainda segundo o tribunal, o custo dos serviços atualmente ultrapassa em mais de cinco vezes o valor inicialmente previsto, de R$ 8,4 bilhões. O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Julio Bueno, afirma que a refinaria será concluída sem sobressaltos. “O Comperj está no ponto de no returning point, ou seja, não há retorno, não tem como acabar com o Comperj”, garante.

A Petrobras informou que o primeiro conjunto de unidades está 80% concluído e tem término previsto para agosto de 2016. A empresa afirmou que não há paralisações na obra.

Previsões concretas

Se a crise na Petrobras tem um desfecho incerto, a queda nos preços do barril de petróleo traz previsões mais concretas. O petróleo tipo brent, referência no plano de investimento da empresa, fechou nesta sexta-feira a US$ 70,15. No acumulado do ano, a commodity teve uma queda de cerca de 25%.

Por um lado, o preço baixo beneficia a companhia, que paga barato na importação de insumos. Por outro, a arrecadação com a exportação é menor. “A receita é reduzida, gerando menos recursos para serem investidos, principalmente na carteira de projetos exploratórios”, explica Glícia Carnevale, gerente de Estratégias de Mercado Petróleo e Gás da Firjan. Ela prevê uma redução “expressiva” no pagamento de royalties e participações especiais no Rio, mas afirma que o aumento da produção poderá compensar parte da perda.

O plano de investimentos da Petrobras trabalha com o barril com preço de US$ 105, o que está fora da realidade atual. Maria Beatriz David, professora do Departamento de Economia da Uerj, afirma que a companhia poderia ter previsto a queda.

“O preço das commodities estava elevadíssimo, o que não é normal. Trabalhar com esse valor é uma imprevidência”, diz ela, afirmando que o estado e as prefeituras também deveriam ter provisionado recursos. O secretário Júlio Bueno tem visão mais otimista. “Tanto a redução do preço do petróleo quanto a crise são episódicas. Continuo achando que nos próximos dez anos o barril vai ficar acima de US$ 100”, afirma.

Fonte: Jornal O Dia

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