A queda na arrecadação de royalties e
participações especiais, que impôs um corte de custos ao governo do
estado, está se refletindo no caixa das prefeituras, onde a dependência
deste tipo de recurso chega a 65% do orçamento. O esforço de redução de
despesas já acertou o custeio de várias cidades e ameaça investimentos e
até programas sociais financiados pelo dinheiro da compensação. A
situação é agravada pela fraca atividade econômica no país, que reduziu o
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) recebido pelo
estado — parte do tributo é repassado aos municípios. Em 2014, o
governo recebeu R$ 2,2 bilhões abaixo do previsto para o ano.
Em algumas cidades do Norte Fluminense, os
cortes começaram a ser sentidos no ano passado. Segundo o Info Royalty,
sistema de monitoramento da Universidade Cândido Mendes no Norte
Fluminense, o repasse feito a municípios beneficiários caiu cerca de 21%
de 2013 para 2014, de R$ 4,47 bilhões para R$ 3,49 bilhões.
Em Campos dos Goytacazes, cidade que
mais recebe royalties no estado, a administração municipal estima perdas
de R$ 600 milhões no ano de 2015, contando a escassez na compensação e
em impostos. A prefeitura começou a reduzir o valor de contratos
administrativos em novembro de 2014 , quando o barril estava cotado a
US$ 77 (pela Lei de Licitações, o poder público pode cortar contratos
unilateralmente em até 25%). Atualmente, o petróleo cru está negociado
em torno de US$ 50.
Em Campos, o royalty financia
programas sociais como o Morar Feliz, que constrói casas populares, e o
Bairro Legal, que leva saneamento e infraestrutura a bairros carentes.
Investimentos nestes projetos podem sofrer se o cenário persistir. “O
mercado ainda está em ebulição”, afirma o secretário municipal da
Fazenda, Suledil Bernardino.
Diante da crise, o município investiu
em um programa de georreferenciamento para tentar aumentar a
arrecadação de IPTU. “O último levantamento foi feito em 1997. Em um
sobrevôo, descobrimos mais de mil ruas que não aparecem no cadastro dos
Correios”, explica.
Em Macaé, o prefeito Dr. Aluízio
anunciou nesta semana um pacote de medidas para ajustar as contas
públicas. Além da renegociação de contratos, houve redução de 10% no
salário de secretários, prefeitos e cargos comissionados. A prefeitura
estima uma economia de R$ 7,5 milhões com a medida. Até o mês que vem, o
Executivo vai enviar à Câmara Municipal um projeto de reforma
administrativa para cortar secretarias e órgãos da administração
indireta.
A situação também é crítica em municípios com
alta dependência de royalties, como São João da Barra, Quissamã e Rio
das Ostras. Em Rio das Ostras, investimentos em infraestrutura foram
adiados. “Temos projetos de mais de R$ 100 milhões de urbanização,
pavimentação e esgoto. Mas adiamos a implantação porque não achamos
responsável começar uma obra sem ter a receita”, diz o prefeito de Rio
das Ostras, Alcebíades Sabino.
Em Quissamã, onde cerca de 40% da receita são
provenientes de royalties, a prefeitura está fazendo um levantamento
para ver onde passará a tesoura. Na cidade, há a concessão de bolsas de
estudo e transporte gratuito para estudantes, que estão em risco. “Deve
haver cortes nessa área. São ações que atendem todo o município”, diz a
secretária municipal de Fazenda, Carmen Lúcia Gomes. Ela afirma que as
despesas estão sendo revistas, mas a tentativa será manter serviços
prioritários.
Fonte: Jornal O Dia
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