Claudio
Nogueira, Marta Nogueira, Jornal do Brasil
RIO E BRASÍLIA - Um mandado de segurança alegando a
inconstitucionalidade da emenda aprovada na madrugada de quinta-feira no
Senado, que prevê que o valor arrecadado com os royalties do petróleo deve ser
dividido igualmente entre estados e municípios, deve ser apresentado até
segunda feira no Supremo Tribunal Federal. A iniciativa é do
deputado federal Geraldo Pudim (PR/RJ), que revelou haver uma convocação
extraoficial das lideranças da Câmara para aprovar a proposta em sessão
plenária, terça-feira, dia do primeiro jogo do Brasil na Copa.
– Não podemos votar uma matéria que vai contra a Constituição. – explica
o deputado. – É um recurso originário dos estados produtores, tanto que a
fiscalização dos repasses cabe ao Tribunal de Contas do Estado, e não da União.
O ex-procurador do estado do Rio Humberto Soares, que prepara a ação,
esclareceu:
– Estão fazendo gentileza com o chapéu alheio. O artigo 20 da Carta
prevê que o estado é co-proprietário e deve ser pago, não ressarcido – adverte.
– O mesmo critério deveria ser usado para o minério de ferro de Minas Gerais, o
manganês do Pará ou os recursos hídricos do Paraná. Mesmo que o ressarcimento
fosse possível, ele deveria ser disciplinado por uma lei, o que não acontece.
Cabral
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse que foi uma
“decepção muito grande ver companheiros do PMDB nesse achaque aos cofres
públicos do estado do Rio”. Em protesto, ele e o governador do Espírito Santo,
Paulo Hartung, não irão à convenção nacional do partido, no sábado, em
Brasília.
De acordo com Cabral, o Rio deixaria de receber mais de R$ 7 bilhões por
ano. Mas ele se mostrou confiante em relação à postura do presidente.
– Lula me garantiu que o que vale é o acordado entre mim e ele. O Rio
está sendo sacrificado para garantir a capitalização da Petrobras.
Cabral também disse que vai retirar as propostas de reajuste para servidores do estado – exceto para a segurança
pública. Eduardo Paes acrescentou que o Rio deve perder até R$ 1 bilhão.
Lula dá sinais de que vai vetar a proposta
Em entrevista a uma rádio em Sergipe, Lula disse que quando o Congresso
exagera, ele veta.
– Acho que muitas vezes as pessoas pensam que votar facilidades ajuda
eleitoralmente, mas não ajuda, porque o povo brasileiro está compreendendo que
o momento que o Brasil está vivendo é outro.
Para o cientista político Geraldo Tadeu, do Instituto Brasileiro de
Pesquisa Social (IBPS) a necessidade dos parlamentares em se apresentarem como
candidatos defensores de melhorias nos estados levaram à aprovação.
– Foi para fazer média com os eleitores. Sabiam que havia um acordo do
presidente com os estados produtores. Jogaram para a plateia.
Tadeu acredita que Lula não terá dificuldades para vetar a proposta.
– Dilma vem subindo nas pesquisas e Lula mantém alta sua popularidade.
Vetará a medida sem nenhum problema, ele tem gordura para queimar.
Gandra: infelicidades para o Rio de Janeiro
Uma soma de infelicidades para o estado do Rio de Janeiro. Essa é a
opinião do jurista Ives Gandra Martins sobre a votação do pré-sal no Senado
Federal, na madrugada de quinta-feira. Para ele, o estado acumularia um duplo
prejuízo, pois desde a Constituição de 1988 o ICMS que incide sobre o petróleo
e derivados é tributado nos locais onde se consome tais produtos. A mudança na
cobrança do ICMS foi apoiada por José Serra, na época deputado pelo estado de
São Paulo. O pagamento dos royalties serviria exatamente como uma compensação
pelo fato de não haver arrecadação do imposto pelos estados produtores.
– Essa compensação é necessária, visto que os estados produtores
precisam fazer grandes investimentos em infraestrutura para dar conta da
manutenção das plataformas continentais, dos acessos às cidades e do escoamento
da produção. Sem isso, o desequilíbrio é muito grande.
Mesmo que a proposta seja aprovada pela Câmara e sancionada pelo
presidente Lula, Ives Gandra Martins acredita que o governador Sérgio Cabral
Filho conseguiria sem grandes problemas tornar a decisão sem efeito, a partir
de uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal.
– Estou absolutamente convencido que o estado do Rio entra com grandes
chances de ganhar esse tipo de ação. A inconstitucionalidade da alternativa
proposta é evidente, já que uma lei ordinária aprovada pelos parlamentares no
Congresso Nacional não pode alterar o parágrafo primeiro do artigo 20 da
Constituição, que trata sobre a matéria.
Entidades protestam contra perdas para a região
Entidades do estado do Rio de Janeiro protestaram quinta-feira contra a
aprovação da emenda do senador Pedro Simon (PMDB-RS). De acordo com a Federação
das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), as perdas para toda a
região fluminense poderão causar a falência de diversos municípios e perdurar
até depois do fim da exploração petrolífera no estado, com reflexos negativos
para o desenvolvimento de todo o país.
De acordo com a secretária de Fazenda do município do Rio de Janeiro,
Eduarda La Rocque, o dinheiro recolhido atualmente com os royalties é de R$ 150
milhões ao ano. Caso a emenda seja posta em efeito, a cidade do Rio de Janeiro
perderá R$ 120 milhões de arrecadação, segundo a secretária.
– A perda não seria tão grande quanto a do governo estadual, mas ainda é
uma quantia substancial de cerca de 1% do orçamento total de R$ 12 bilhões –
disse Rocque.
A Firjan declarou, em nota, considerar “que o projeto aprovado pelo
Senado não respeita a racionalidade econômica que justifica a existência de
royalties e participações especiais na exploração de recursos naturais não
renováveis no Brasil e no mundo.”
Para a Firjan, a aprovação pela Câmara e a eventual promulgação como lei
trarão danos irreparáveis ao desenvolvimento econômico, social e ambiental
das regiões produtoras de petróleo, sobretudo o estado do Rio.
Vazamento nos EUA gera disputa por royalties
O dano ambiental aos estados americanos atingidos pelo vazamento de
petróleo no Golfo do México impeliu a senadora Mary Landrieu, da Louisiana – o
estado mais afetado pelo desastre – a propor uma emenda no Congresso americano
para que estados produtores recebam pelo menos 37,5% dos royalties da extração,
mesmo que a plataforma esteja a mais de 14 quilômetros da costa.
– Este é o momento de lembrar a nação que, embora esses recursos
pertençam a todos, são os estados do Golfo que absorvem 100% do risco pela
exploração – disse.
Dornelles diz que emenda é confusa e incongruente
Vasconcelo Quadros
A sessão já se arrastava há mais de 10 horas quando um acordo de
cavalheiros firmado em torno do substitutivo do líder do governo, Romero Jucá
(PMDB-RR), passou a lançar o apelo final para aprovar sua emenda. A grande
estratégia foi apontar para os representantes de cada estado não produtor de
petróleo e informar, com cálculos prontos, quanto cada ente passaria a receber.
O Piauí, disse o senador, saltaria de uma arrecadação estimada hoje em
R$ 20 milhões para mais de R$ 1 bilhão. E assim por diante, cada estado e
município teria seu novo quinhão. No plenário, misturados entre os senadores, o deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e os co-autores da emenda da Câmara, Humberto Souto
(PPS-MG) e Marcelo Castro (PMDB-PI) não arredaram o pé.
A presença do deputado gaúcho constrangeu o senador Francisco Dornelles
(PP-RJ), que chegou a ensaiar pronunciamento para reclamar da acintosa presença
que, segundo ele, foi agressiva e deselegante.
– A emenda é confusa e incongruente em matéria financeira. É a maior
agressão que um estado da Federação já sofreu em toda a história do Império e
da República do Brasil.
A matéria romperia também acordo firmado na Assembléia Nacional
Constituinte, onde os estados produtores de petróleo foram compensados para
abrir mão do ICMS na origem.
Fonte: JB online
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