Família Grael se recusa a gerir novas ecobarreiras da Baía de Guanabara sem licitação
RIO — Após o Instituto Rumo Náutico, da família Grael, se recusar a gerir a
instalação de cinco novas ecobarreiras na Baía de Guanabara, o governo estadual
anunciou que vai abrir uma licitação de R$ 31 milhões e ampliar o projeto para
15 estruturas de recolhimento de lixo flutuante. Mas, elas não ficarão prontas
em agosto para o evento-teste das Olimpíadas, quando haverá provas de vela. A
Secretaria do Ambiente informou que vai entrar com pedido de urgência junto ao
Tribunal de Contas do Estado para acelerar o trâmite da concorrência.
O secretário do Ambiente, André Corrêa, disse que, antes da concorrência, só
será possível, para os próximos quatro meses, restabelecer o funcionamento de
estruturas antigas, cerca de quatro. Hoje há apenas três em funcionamento.
— Podemos, a curto prazo, colocar quatro ecobarreiras, mas não da maneira
mais adequada. O projeto ideal não ficará pronto para o evento-teste — diz
Corrêa.
A proposta previa a contratação, sem licitação, do instituto, ao custo de R$
20 milhões e prazo de 18 meses. O acordo com a entidade, que desenvolveu o
projeto técnico, foi anunciado na semana passada, na presença do secretário do
Ambiente e do vice-prefeito de Niterói, Axel Grael.
PARA AXEL, DECISÃO FOI 'PRUDENTE E CORRETA'
Um dos temores dos conselheiros do Instituto Rumo Náutico era que a
contratação em regime de urgência fosse alvo de críticas do TCE, que poderia até
cancelar o contrato, provocando desgaste na imagem da entidade. Nesta segunda-feira, por
telefone, Axel Grael, que é vice-prefeito de Niterói e integra o instituto,
informou que não comentaria o caso. Em nota, chamou de “prudente e correta” a
decisão da sua família de não aceitar a contratação.
Também por nota, Lars Grael, irmão de Axel, disse que a principal vocação do
instituto não é “gerir a coleta de lixo flutuante”. O projeto prevê a instalação
das ecobarreiras na foz dos rios Imboaçu (duas), Cunha, Meriti e Bomba, com o
objetivo de capturar o lixo flutuante que chega à Baía de Guanabara.
— Vamos licitar (a construção) de 15 ecobarreiras por R$ 31 milhões. O
projeto inclui caminhões recolhendo mecanicamente os recicláveis e o transporte
do material até as estações de transbordo. A operação será por 18 meses — disse
o secretário do Ambiente, André Corrêa, acrescentando que o retorno dos
ecobarcos ainda não está garantido. — Tenho reunião amanhã (terça-feira) para avaliar
os ecobarcos. Quero contar com o Rumo Náutico pelo menos na inteligência dos
serviços das embarcações.
Das 14 ecobarreiras instaladas há três anos, apenas três funcionam. Os dez
ecobarcos que atuavam no apoio à retirada de lixo flutuante na Baía estão
parados há um mês, por falta de pagamento do estado. O atraso nos repasses já
chega a cinco meses.
Criador do projeto dos ecobarcos e ecobarreiras, o ex-secretário do Ambiente
e deputado estadual Carlos Minc (PT) afirmou que não é contra medidas que
melhorem a eficiência dos sistemas, mas classificou como “equívoco” o abandono
do modelo atual.
— As ecobarreiras não custam quase nada, e os ecobarcos custam pouco.
Desmontar esse (modelo) enquanto não tem outro não é boa política.
A Baía de Guanabara é a principal preocupação do Comitê Olímpico
Internacional (COI) para 2016. Na candidatura, o Rio assumiu o compromisso de
coletar e tratar 80% do esgoto despejado na Baía, mas a meta corre o risco de
não ser cumprida.