BRASÍLIA - O governo quer ganhar tempo de um ano para adotar o novo
indexador para as dívidas de estados e municípios, empurrando o impacto
fiscal para 2016. Segundo os senadores, a proposta foi apresentada nesta
segunda-feira pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ao presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), numa tentativa de evitar que o Senado
vote nesta terça-feira o projeto de lei que obriga o governo federal a
implementar as novas em até 30 dias.
De acordo com Renan
Calheiros, Levy disse que está costurando um acordo com o prefeito do
Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que entrou na Justiça, e que pretende
adotar esse modelo para os demais entes da Federação. O acordo em
construção seria para manter a atual regra do indexador até o final do
ano, quando o contrato seria refeito com base no novo indexador e a
União faria um acerto de contas e devolveria ao município o que foi pago
a mais. Renan disse que, por enquanto, não há acordo político para
suspender a votação do projeto, mas sinalizou que poderá retirar de
pauta caso haja o entendimento entre os os líderes dos partidos neste
sentido.
— O ministro Levy tem uma proposta (para a
questão das dívidas), que é o acordo judicial que ele fez com o Rio de
Janeiro. Mas é uma coisa pontual. Ele fez um acordo judicial com o Rio
de Janeiro e isso pode sinalizar uma negociação. A troca do indexador
tem urgência constitucional, será apreciada amanhã, salvo acordo. Se
houver acordo com os líderes, você derruba a urgência. Mas, por
enquanto, não há acordo — disse Renan.
O Ministério da Fazenda não
quis explicar o detalhe do acordo com o Rio. Para evitar uma derrota do
governo no Senado, Levy estará hoje na Comissão de Assuntos Econômicos
(CAE) para falar do ajuste fiscal e de duas declarações sobre a
presidente Dilma Rousseff. O depoimento é considerado a "bala de prata"
para o futuro do ajuste fiscal.
Já Renan apresentou a Levy uma
proposta adicional para ser negociada: a independência formal do Banco
Central. O PMDB quer um mandato de cinco anos para o presidente do BC,
sendo não-coincidente com o mandato do presidente da República. O cargo
de presidente do BC é indicação do presidente da República, e hoje ele
tem status de ministro. Na campanha eleitoral, Dilma disse que é contra a
independência oficial do BC, afirmando que ele já tem independência na
prática.
Renan disse que a proposta de Levy, por enquanto,
beneficia o Rio de Janeiro e que é preciso ver se os outros estados
concordam com isso, Mas avisou, que, por enquanto, não há acordo. Na
mesma linha, Jucá explicou que Levy quer utilizar o acordo com o Rio
como modelo para os demais estados, como São Paulo e Rio Grande do Sul.
Mas o senador alertou que é preciso duas coisas: primeiro, ver se os
demais estados e prefeituras concordam com a proposta e, depois, é
preciso criar uma legislação que dê sustentação a esse entendimento,
para evitar que estados e municípios entrem na Justiça.
— A
proposta do ministro Levy para o Rio de Janeiro, que está sendo feita
nos autos, é que o Rio pague a parcela cheia (do pagamento da dívida,
com base no atual indexador ) até o final do ano e, no final do ano, a
União regulamenta e devolve parte dessa parcela paga a mais a partir do
ano que vem. Ele quer adotar esse modelo para os outros estados. Mas é
preciso ver se eles aceitam esperar um ano. Além disso, teremos que
criar uma legislação, para evitar reagir de susto em susto — disse Jucá,
afirmando que é preciso evitar uma corrida dos demais entres da
Federação à Justiça.
Na saída do encontro com o presidente do
Senado, Levy disse que está havendo um entendimento com o Rio e outros
entes da Federação.
— Estou bastante confiante quanto a um
encaminhamento positivo. Há um entendimento, no Rio e em outros lugares,
no sentido de todo mundo contribuir para o ajuste . Hoje, temos de
vencer essa etapa para criar as bases para a retomada do crescimento e a
geração de empregos — disse Levy.
O encontro durou mais de uma hora. A portas fechadas, Renan Calheiros, Jucá e o ministro conversaram sobre o ajuste fiscal.
A
lei complementar fixando um novo indexador para a dívida de estados e
municípios foi sancionada em novembro de 2014. Comemorada na época, a
lei complementar 148, de 25 de novembro de 2014, muda o indexador que
corrige as dívidas dos atuais 6% a 9% de juros mais IGP-DI, para 4% ao
ano mais a variação da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Ampliado (IPCA). Mas o projeto estabelece que a Taxa Selic
seja usada como uma espécie de teto para as correção. O texto diz que a
União fica autorizada a conceder descontos sobre os saldos devedores dos
contratos firmados com estados e municípios, em valor correspondente à
diferença entre o montante do saldo devedor em janeiro de 2013 e aquele
apurado utilizando-se a variação da Selic acumulada desde a assinatura
dos contratos.
O problema é que o governo nunca aplicou a lei,
alegando que é preciso haver uma regulamentação. Os presidentes do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
reagiram. E, na semana passada, a Câmara aprovou o projeto que fixa o
prazo de 30 dias para o governo adotar as novas regras.
Para evitar uma derrota no Senado, Levy se propôs a partir hoje de uma audiência na CAE para debater o ajuste fiscal.
Renan disse que o Congresso está preocupado com o tamanho do ajuste fiscal e defendeu a autonomia do BC.
—
Estamos preocupados com a qualidade do ajuste, não é apenas com quanto
significará o ajuste, mas e como será o ajuste. E sugeri para o ministro
algumas medidas, inclusive a independência formal do Banco Central, com
mandantos não coincidentes com o do presidente da República — disse
Renan.
O presidente da CAE, Delcídio Amaral (PT-MS), entrou em
campo para montar uma operação de guerra, com o objetivo de blindar
Levy.
O roteiro acertado por Levy incluirá os seguintes pontos:
divida dos estados e municípios; convalidação dos benefícios fiscais,
guerra fiscal do ICMS, cortes no Orçamento, MPs do ajuste fiscal e
investimentos.
Fonte: Jornal O Globo
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