Rio - Se em 2013, 84,2% dos municípios se encontravam em situação
fiscal de difícil a crítica, segundo análise da Federação das Indústrias
do Rio de Janeiro (Firjan), em 2015 o cenário é ainda mais grave. Muito
além do ajuste fiscal, que cortou R$ 17 bilhões do Ministério das
Cidades que poderiam ser repassados voluntariamente aos municípios, a
desaceleração econômica atinge em cheio a arrecadação via impostos. No
acumulado de janeiro a maio, as transferências do Tesouro Nacional para
as prefeituras, via Fundo de Participação dos Municípios ( FPM) caíram
2,2%, o equivalente a R$ 1,5 bilhões.
Soma-se a isso a desvalorização de quase 50% do
preço do petróleo em um ano, que tem tornado ainda mais difícil a tarefa
de gerir o caixa em 929 prefeituras beneficiadas pelos royalties,
segundo dados de maio da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Para
analistas, a desordem fiscal do passado deve levar a um aumento nos
cortes de investimentos e a um estouro no limite com gastos com
servidores ativos e inativos.
“A arrecadação federal está fraca, em função da
perda de fôlego da economia. De janeiro a maio deste ano, sobre o mesmo
período em 2014, houve uma queda de 2,3% na arrecadação via Imposto de
Renda (IR) e 8,5% via Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI),
base de cálculo do FPM. São quedas expressivas; logo, conclui-se que a
situação dos municípios esteja bastante difícil neste ano”, afirma
Bernardo Fajardo, pesquisador associado da Fundação Getulio Vargas
(FGV/Ibre).
Elaborado pela Firjan com base em dados de 2013 a
abril de 2014, declarados pelos próprios municípios à Secretaria do
Tesouro Nacional ( STN), o Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF) mostra
que, em 2013, apenas 20% dos 5.567 municípios tinham uma situação fiscal
boa ou excelente. O índice tem como critérios a capacidade de
arrecadação própria das prefeituras, o quanto de recursos foram
direcionados a investimentos, o grau de rigidez orçamentária por meio
dos gastos com pessoal, a liquidez com base na suficiência de recursos
em caixa, e o custo da dívida de longo prazo, com juros e amortizações.
A avaliação geral é a de que as prefeituras têm
aumentado suas despesas com pessoal, sem um crescimento da receita
própria. O resultado é que, em momentos de desaceleração econômica como
em 2013, a saída tem sido cortar em investimentos. O IFGF nacional
registrou queda de 11,4% na passagem de 2012 para 2013, o que representa
o aumento de gastos com pessoal pelas prefeituras. Já os investimentos
caíram 31,2% no período.
“Percebemos que muitas prefeituras aproveitaram o
boom econômico para contratar. No entanto, com a crise, elas vão
enfrentar esse problema de controle do caixa. Logo, aumentam as chances
de estouro no limite de gastos com pessoal, previstos em 60% pela Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF)”, avalia Fajardo.
O especialista chama a atenção também para a queda
na arrecadação dos municípios via ISS (Imposto sobre Serviços de
qualquer natureza). Conforme mostrou pesquisa do IBGE, a receita dos
serviços tiveram nova desaceleração, atingindo crescimento de apenas
1,7% em abril. Além do ISS, os municípios ficam com as receitas do IPTU
(Imposto Predial e Territorial Urbano) e ITBI (Imposto sobre Transmissão
de Bens Imóveis).
“São muitos os municípios dependentes do FPM e, com
as eleições no ano que vem, a popularidade dos prefeitos cai. Por isso a
romaria em Brasília e a discussão sobre o Pacto Federativo. A verdade é
que os prefeitos estão despreparados para gerir seus caixas”, observa
Gil Castelo Branco, presidente da ONG Contas Abertas. “É preciso mais
atuação fiscalizadora dos Tribunais de Conta e do Ministério Público”,
acrescenta.
Fonte: Brasil Econômico
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