RJ e ES querem elevar receita com royalties do gás natural

Além da mudança no cálculo dos preços do petróleo usados como referência na contabilização dos royalties, pedido acatado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo trabalham agora numa nova frente e solicitaram à autarquia a revisão dos cálculos para a arrecadação de royalties também sobre a produção de gás natural no país, o que também pode aumentar a cobrança de participações governamentais sobre a produção de gás no Brasil.

De acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Rio, Marco Capute, as duas iniciativas podem gerar aumento de arrecadação anual de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões para o Estado e os municípios fluminenses.

A ideia, segundo ele, é aproximar mais o preço de referência utilizado no cálculo das participações governamentais do preço praticado pela Petrobras no mercado. "Se ela [Petrobras] usa esse preço [do gás importado], e tem suas razões de mercado para isso, esse deveria ser o preço que remunera os royalties", afirma Capute.

O secretário de Fazenda do Espírito Santo, Bruno Negris, também acredita que o modelo de participações governamentais sobre a produção de gás merece uma reavaliação. Ele, porém, disse ainda não ter ideia do potencial de arrecadação adicional do Estado com a iniciativa em curso na agência reguladora.

De acordo com projeções do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o novo cálculo proposto pela ANP para a definição dos preços do petróleo para a contabilização dos royalties ampliaria em 7%, ou R$ 970 milhões por ano, o total de arrecadação sobre os 20 maiores campos petrolíferos do país. Desse total, R$ 280 milhões seriam destinados aos Estados; R$ 330 milhões aos municípios; e R$ 360 milhões ao governo federal.

Entre as dez maiores campos de petróleo do país, com base na nota técnica da ANP, o aumento de arrecadação varia de 3,4% (projetada para o campo de Lula, na Bacia de Santos) até 12,65% (calculada para o campo de Barracuda, na Bacia de Campos). Das 20 maiores áreas, 18 são operadas pela Petrobras, uma pela Statoil e uma pela Chevron.

"Alguns petróleos terão ajustes maiores nos seus preços, outros menores, e alguns podem vir a ter um desconto em seus preços. Acreditamos que isso está dentro do esperado", afirma a equipe da ANP no documento.

As mudanças na precificação do petróleo, segundo Capute, aumentarão em R$ 0,30 por barril o pagamento de participações governamentais pelas petroleiras. Para ele, a proposta, em consulta pública na ANP até meados de fevereiro, não deve afetar tanto as empresas. "Numa commodity que tem 30% de volatilidade como o petróleo, quem está investindo nesse mercado não está preocupado com R$ 0,30 por barril", diz.

Na avaliação do HSBC, contudo, a medida tem potencial "duplamente negativo" para a Petrobras. Segundo o banco de investimentos, a proposta aumenta o custo de produção da companhia, em um momento em que o baixo preço do petróleo está afetando a rentabilidade dos projetos, e pode prejudicar a atratividade do plano de desinvestimentos da estatal.

"Se governos decidirem aumentar ainda mais a cobrança sobre essas empresas, em um momento em que muitos campos petrolíferos estão próximos do ponto de equilíbrio (ou mesmo abaixo), o interesse das companhias em adquirir os ativos da Petrobras vai se reduzir", diz o HSBC, em relatório assinado pelos analistas Luiz Carvalho e Filipe Gouveia.

O diretor do CBIE, Adriano Pires, concorda com a visão do HSBC. "O que nos preocupa é a ANP fazer isso no momento em que o preço do barril está desabando. As receitas das empresas de petróleo caíram muito. Talvez não seja o momento correto." Para Pires, há um "viés político" na proposta da ANP. "Os Estados querem aumentar a arrecadação", disse.

A discussão sobre a mudança dos critérios de cálculo dos preços de referência do petróleo se dá em meio à crise financeira do governo fluminense, que viu suas receitas com royalties despencarem no ano passado. De acordo com os cálculos da ANP, a arrecadação do Estado do Rio com royalties e participações especiais caiu 39% em 2015, para R$ 5,29 bilhões.

Para compensar essa redução, o governo do Rio decidiu elevar a tributação sobre a indústria petrolífera e sancionou, no fim do ano passado, duas leis que prometem aumentar a arrecadação do Estado, a partir da extensão da cobrança de ICMS sobre a extração de petróleo - acumulando-se à cobrança do imposto no destino - com a criação de uma taxa de fiscalização, equivalente a um UFIR-RJ (R$ 2,71) para cada barril extraído no Rio.

Diferentemente do governo fluminense, Negris afirmou que "não há estudos no sentido de alterar a modelagem na tributação sobre o petróleo" no Espírito Santo.

Fonte: Valor Econômico

Leia todas as notícias
 Voltar
 
Todos os direitos reservados © ASTCERJ 2010. Desenvolvido por Heaven Brasil e GNNEXT.