O déficit nas contas públicas em fevereiro bateu recorde e
chegou a R$ 23 bilhões, o pior resultado para o mês em 15 anos. O rombo só não
foi pior porque estados e municípios conseguiram economizar R$ 2,7 bilhões, o
que analistas dizem que não deve se repetir nos próximos meses. O Rio teve o
maior déficit entre os estados, com rombo de R$ 4 bilhões.
Depois de começar o ano no azul, as contas do setor público
consolidado - que reúne União, estados, municípios e estatais - voltaram o
maior déficit para o mês dos últimos 15 anos, R$ 23,040 bilhões, segundo
relatório divulgado ontem pelo Banco Central (BC).
Estados impedem rombo maior
Mesmo com resultado positivo dos governos regionais, déficit
público chegou a R$ 23 bi
Depois de começar o ano no azul, as contas do setor público
consolidado - que reúne União, estados, municípios e estatais - voltaram o
maior déficit para o mês dos últimos 15 anos, R$ 23,040 bilhões, segundo
relatório divulgado ontem pelo Banco Central (BC). O resultado primário
(diferença entre receitas e despesas, exceto gastos com juros) só não foi pior
porque estados e municípios ajudaram com um superávit de R$ 2,731 bilhões e as
estatais. Cp, ,aos de R$ 662 milhões. Nos próximos meses, porém, à contribuição
desses dois grupos para o esforço fiscal tende a minguar, diante dos impactos
negativos da crise da economia em suas contas, segundo avaliação do próprio BC.
- Dado o quadro da atividade econômica, será um ano mais
difícil para eles [estados e municípios] também – destacou o chefe do Departamento
Econômico do BC, Tulio Maciel.
Estado do Rio Tem o maior déficit: R$ 4 bilhões
Em janeiro, com o pagamento de alguns impostos, como IPVA e
IPTU, estados e municípios registraram superávit de R$ 7,976 bilhões. No
entanto, esse montante caiu 65,7% em fevereiro. O Estado do Rio apresentou o
maior déficit entre os entes da federação no mês passado, com rombo de R$ 4,082
bilhões.
“Os governos regionais também registraram superávit pior que
o do ano passado (R$ 2,7 bilhões ante R$ 5,7 bilhões de superávit em 2015),
tendência que deve piorar ainda mais ao longo do ano, uma vez que a situação
fiscal dos estados e municípios também é bastante delicada e Barbosa [Nelson
Barbosa, ministro da Fazenda] abriu espaço para um aumento de gasto dos
Governos Regionais ao alongar a dívida dos Estados, com algumas condicionantes”,
destacou a Rosenberg Associados, em nota divulgada ontem.
Pesou no resultado do setor público consolidado o rombo do
governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e BC) de R$ 26,433
bilhões em fevereiro. Pela primeira vez na História, segundo o BC, o governo
central gerou déficit no primeiro bimestre do ano, que foi de R$ 5,534 bilhões –
reflexo do crescimento contínuo dos gastos públicos e da queda nas receitas com
a recessão da economia.
- Fica evidente o descompasso entre a evolução de receitas e
despesas nesse período. As receitas recuaram algo entre 12% e 13%, refletindo
em grande parte o ciclo de atividade econômica. Apesar do esforço de contenção,
as despesas obrigatórias seguem crescendo e isso repercutiu nos resultados
apresentados – disse Maciel.
O professor da FGV/Ebape Fernando Rezende, especialista em
contas públicas, disse que o resultado já era esperado, diante da queda “vertiginosa”
das receitas, enquanto o padrão dos gastos públicos se mantém. Segundo ele, o
dado mostra uma deterioração nas contas públicas, visão compartilhada por
outros economistas.
Para a professora Margarida Gutierrez da Coppead/UFRJ, a
questão fiscal é hoje o maior problema do país e aponta para a insustentabilidade
dos gastos. A maior conseqüência, destacou, é o impacto na dívida pública, que
já encosta em 70% do Produto Interno Bruto (PIB), o que aumenta a aversão dos
investidores ao risco-país, com sérias conseqüências para o Brasil.
- Essa questão fiscal, nessa trajetória que a gente está
vendo, sem qualquer perspectiva de melhora, acaba afetando os indicadores de
confiança. O risco-país cresce, os juros nos mercados futuros sobem e, com
isso, você trava a economia – disse a professora. – Tudo fica mais caro.
Aumenta o medo de o governo não conseguir rolar sua divida pública e coloca-se
o risco de o governo não conseguir honrar sua divida com os credores. Funciona
como um orçamento doméstico. Se você gasta mais do que ganha, chega uma hora em
que banco não dá mais crédito e você entra em moratória.
Dívida bruta chega a 67,6% do PIB
De acordo com o relatório do BC, a dívida líquida do setor
público alcançou R$ 36,8% do PIB em fevereiro, alta de 1 ponto percentual em
relação ao mês anterior, puxada pela alta do dólar. A dívida bruta (governo
federal, Previdência, estados, municípios) chegou a 67,6% do PIB. A proporção
entre a dívida e o PIB é um indicador importante de solvência do país.
Para março, a previsão do BC é que a dívida líquida atinja
38,6% do PIB, devido principalmente à valorização cambial, que impacta os
ativos do setor público em moeda estrangeira (reservas internacionais) que
passam a valer menos. E a dívida bruta foi recalculada para 67,9% do PIB.
Em 12 meses, as contas do setor público consolidado acumulam
déficit de R$ 125,139 bilhões – 2,11% do PIB. O valor economizado no primeiro
bimestre de 2016 corresponde a 0,5% do PIB. A meta oficial é obter superávit de
R$ 30,5 bilhões ou 0,5% do PIB, neste ano. O governo, não entanto, quer autorização
do Congresso para abater do resultado a frustração do Congresso para abater do
resultado a frustração de receitas. Com isso, só as contas do governo central
poderão fechar 2016 com déficit de R$ 96,6 bilhões.
Mas, diante da piora nas contas públicas, os economistas já
arriscam que o setor público consolidado fechará o ano com rombo acima de R$
110 bilhões. Em 2015, o déficit foi de R$ 111,2 bilhões, mas o resultado foi
influenciado pelo pagamento das chamadas pedaladas fiscais de R$ 55,8 bilhões.
Em relatório, a consultoria Tendências destacou que o
descompasso entre o resultado primário e as despesas com juros da dívida tem
impacto direto no resultado nominal e, consequentemente, no nível de
endividamento. O resultado nominal atingiu R$ 52,8 bilhões em fevereiro, R$
81,1 bilhões no ano e R$ 638,6 bilhões em 12 meses (10,75% do PIB).
Fonte: Jornal O Globo
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