O estado liberou nesta quinta-feira o pagamento dos inativos que
ganham até R$ 2 mil e de todos os servidores da ativa. Já o dos aposentados e
pensionistas com salários de mais de R$ 2 mil ficou para depois: esse grupo vai
receber até 12 de maio. O Poder Judiciário está com os vencimentos em dia,
porque obteve uma liminar que garante o pagamento de seus funcionários até o
último dia do mês trabalhado. O Legislativo, que conquistou o mesmo direito,
abriu mão do benefício e só recebeu ontem.
A ocupação começou, segundo a versão da Secretaria de
Fazenda, quando uma servidora aposentada pediu para ser recebida pela equipe do
secretário. Ela subiu com alguns manifestantes, que se instalaram no 19º andar,
onde fica o gabinete de Julio Bueno. Um outro grupo, maior, forçou a entrada
pelas roletas na entrada do prédio. Sprays de pimenta foram acionados. Segundo a
secretaria, pelos próprios servidores. A versão é contestada pelos
manifestantes, que atribuem a ação aos seguranças. Ao GLOBO, um dos vigilantes
disse que a equipe não contava com o equipamento.
“O GOVERNO NÃO OBEDECE AO ESTATUTO DO IDOSO"
O grupo é formado por muitos idosos, alguns com dificuldade de locomoção, que
conseguiram subir pelos elevadores. Já estudantes da rede pública e
universitários da Uerj foram pelas escadas. Os manifestantes gritavam frases
como “não tem arrego!”.
Um dos mais velhos entre os manifestantes era o professor aposentado Didi,
como preferiu ser chamado, de 81 anos. Ele se desesperou ao ir ao banco ontem e
não encontrar o salário em sua conta. Didi está entre os inativos que só vão
receber até 12 de maio.
— Se eu soubesse que, ganhando mais de R$ 2 mil, ia ficar sem nada, teria
preferido ganhar menos — brincou.
A professora Maria Carminda de Novaes, que se trata de um câncer, disse que
os atrasos no pagamento dos servidores prejudicaram a quitação de suas despesas
médicas.
— Sofro de um tumor e estou aqui na luta. Quem vai pagar
as minhas contas? Eu me orgulho muito da minha profissão, mas a situação é
lamentável. Eu participo de passeatas, mas posso receber um telefonema a
qualquer momento dizendo que tenho que me internar — desabafou.
O professor de química Adalício Medeiros, de 73 anos,
também ocupava o prédio. Em 13 anos de aposentadoria, nunca havia deixado de
receber seu pagamento. Ele se emocionou ao falar da situação dos inativos:
— O governo não está obedecendo ao Estatuto do Idoso. É
degradante, depois de 43 anos de trabalho, estar aqui. Seja Dornelles ou outro
qualquer o responsável, precisa assumir seus compromissos. E os profissionais
que se aposentaram, quando vão receber? Isso é um genocídio — disse ele, já
chorando.
Antes disso, de manhã, a Secretaria de Fazenda, ciente da
iminência do protesto, havia se preparado, colocando tapumes em sua portaria.
Funcionários foram orientados a deixar o local até as 14h, horário previsto para
a manifestação. Quando os grevistas e aposentados entraram, a energia de algumas
partes do prédio chegou a ser cortada, deixando os elevadores desligados. As
copas (onde havia filtros d’água) e alguns banheiros foram fechados. O
ar-condicionado do andar onde estavam os manifestantes ficou desligado por um
período.
PROTESTO TAMBÉM DO LADO DE FORA
Ao longo da tarde e da noite, eles se alimentaram de
biscoitos recheados e água, levados por um outro grupo. Uma parte do ato
acontecia do lado de fora do prédio, com professores num carro de som. Os ânimos
ficaram exaltados quando PMs ocuparam o saguão do prédio e passaram a impedir a
entrada de novos manifestantes.
Em nota, o estado disse que “considera legítimo o
direito de manifestação, desde que não ocorram prejuízos aos serviços prestados
à população e sejam respeitadas a integridade física das pessoas e a preservação
do patrimônio público”. O texto condena “a ocupação e a depredação das
instalações”, apesar de a equipe do GLOBO não ter presenciado qualquer ato de
vandalismo no prédio. O Palácio Guanabara declarou ainda que “permanece
disponível ao diálogo” com os servidores. Já a Secretaria de Fazenda informou
que o protesto está prejudicando o sistema de arrecadação do estado.
Enquanto isso, deputados da Alerj bloquearam nesta quinta-feira a
pauta de votação. Os parlamentares pressionam para votar o projeto de decreto
legislativo que derruba a medida do governo que suspendeu parte dos pagamentos
dos inativos.
Fonte: O Globo