Servidores do estado pressionam pelo pagamento a aposentados

RIO - Num protesto contra a exclusão de 137 mil inativos do pagamento feito ontem pelo governo, manifestantes, em sua maioria professores, ocuparam nesta quinta-feira à tarde, por volta das 14h, a sede da Secretaria estadual de Fazenda, na Avenida Presidente Vargas, no Centro. Até o fim da noite, eles tentavam, sem sucesso, uma audiência com o secretário Julio Bueno. O grupo tem cerca de 200 integrantes e inclui não só servidores da ativa, como aposentados e estudantes da rede pública. Eles disseram que só saem do prédio se os vencimentos dos aposentados e pensionistas forem depositados.

O estado liberou nesta quinta-feira o pagamento dos inativos que ganham até R$ 2 mil e de todos os servidores da ativa. Já o dos aposentados e pensionistas com salários de mais de R$ 2 mil ficou para depois: esse grupo vai receber até 12 de maio. O Poder Judiciário está com os vencimentos em dia, porque obteve uma liminar que garante o pagamento de seus funcionários até o último dia do mês trabalhado. O Legislativo, que conquistou o mesmo direito, abriu mão do benefício e só recebeu ontem.

A ocupação começou, segundo a versão da Secretaria de Fazenda, quando uma servidora aposentada pediu para ser recebida pela equipe do secretário. Ela subiu com alguns manifestantes, que se instalaram no 19º andar, onde fica o gabinete de Julio Bueno. Um outro grupo, maior, forçou a entrada pelas roletas na entrada do prédio. Sprays de pimenta foram acionados. Segundo a secretaria, pelos próprios servidores. A versão é contestada pelos manifestantes, que atribuem a ação aos seguranças. Ao GLOBO, um dos vigilantes disse que a equipe não contava com o equipamento.

“O GOVERNO NÃO OBEDECE AO ESTATUTO DO IDOSO"

O grupo é formado por muitos idosos, alguns com dificuldade de locomoção, que conseguiram subir pelos elevadores. Já estudantes da rede pública e universitários da Uerj foram pelas escadas. Os manifestantes gritavam frases como “não tem arrego!”.

Um dos mais velhos entre os manifestantes era o professor aposentado Didi, como preferiu ser chamado, de 81 anos. Ele se desesperou ao ir ao banco ontem e não encontrar o salário em sua conta. Didi está entre os inativos que só vão receber até 12 de maio.

— Se eu soubesse que, ganhando mais de R$ 2 mil, ia ficar sem nada, teria preferido ganhar menos — brincou.

A professora Maria Carminda de Novaes, que se trata de um câncer, disse que os atrasos no pagamento dos servidores prejudicaram a quitação de suas despesas médicas.

— Sofro de um tumor e estou aqui na luta. Quem vai pagar as minhas contas? Eu me orgulho muito da minha profissão, mas a situação é lamentável. Eu participo de passeatas, mas posso receber um telefonema a qualquer momento dizendo que tenho que me internar — desabafou.

O professor de química Adalício Medeiros, de 73 anos, também ocupava o prédio. Em 13 anos de aposentadoria, nunca havia deixado de receber seu pagamento. Ele se emocionou ao falar da situação dos inativos:

— O governo não está obedecendo ao Estatuto do Idoso. É degradante, depois de 43 anos de trabalho, estar aqui. Seja Dornelles ou outro qualquer o responsável, precisa assumir seus compromissos. E os profissionais que se aposentaram, quando vão receber? Isso é um genocídio — disse ele, já chorando.

Antes disso, de manhã, a Secretaria de Fazenda, ciente da iminência do protesto, havia se preparado, colocando tapumes em sua portaria. Funcionários foram orientados a deixar o local até as 14h, horário previsto para a manifestação. Quando os grevistas e aposentados entraram, a energia de algumas partes do prédio chegou a ser cortada, deixando os elevadores desligados. As copas (onde havia filtros d’água) e alguns banheiros foram fechados. O ar-condicionado do andar onde estavam os manifestantes ficou desligado por um período.

PROTESTO TAMBÉM DO LADO DE FORA

Ao longo da tarde e da noite, eles se alimentaram de biscoitos recheados e água, levados por um outro grupo. Uma parte do ato acontecia do lado de fora do prédio, com professores num carro de som. Os ânimos ficaram exaltados quando PMs ocuparam o saguão do prédio e passaram a impedir a entrada de novos manifestantes.

Em nota, o estado disse que “considera legítimo o direito de manifestação, desde que não ocorram prejuízos aos serviços prestados à população e sejam respeitadas a integridade física das pessoas e a preservação do patrimônio público”. O texto condena “a ocupação e a depredação das instalações”, apesar de a equipe do GLOBO não ter presenciado qualquer ato de vandalismo no prédio. O Palácio Guanabara declarou ainda que “permanece disponível ao diálogo” com os servidores. Já a Secretaria de Fazenda informou que o protesto está prejudicando o sistema de arrecadação do estado.

Enquanto isso, deputados da Alerj bloquearam nesta quinta-feira a pauta de votação. Os parlamentares pressionam para votar o projeto de decreto legislativo que derruba a medida do governo que suspendeu parte dos pagamentos dos inativos.

Fonte: O Globo
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