RIO — Um novo plano para apertar o cinto e fazer entrar mais dinheiro
nos cofres do estado vem sendo desenhado pelo governo fluminense. O
secretário da Casa Civil, Leonardo Espíndola, que ficou com a árdua
tarefa de cobrar de outras pastas e órgãos vinculados os cortes nas
despesas, impôs, como meta inicial, uma redução de R$ 2 bilhões nos
gastos deste ano, além de um aumento de R$ 241 milhões na arrecadação.
Para isso, foram definidas 174 ações consideradas viáveis, sugeridas por
diferentes secretarias e supervisionadas pela Casa Civil, que já
começaram a ser implementadas.
Entre as medidas para obter mais
receita estão a criação de taxas para a fiscalização de recursos
minerais, o aumento dos valores das multas ambientais e o incremento da
cobrança por serviços do Instituto de Pesos e Medidas. Mas também chama a
atenção na lista a expectativa de arrecadação anual de R$ 10,2 milhões
por meio de 36 cantinas instaladas em presídios. Elas rendiam apenas R$
900 mil.
— Fizemos o levantamento e vamos acompanhar as ações com
metas a serem cumpridas em 30, 60 e 90 dias. É possível que surjam
ideias ao longo do processo. A situação é dramática e a economia, de
guerra — disse Espíndola.
R$ 18 BILHÕES EM DÉFICIT
O
projeto, no entanto, será apenas um alívio para o estado, que tem
previsão de déficit de cerca de R$ 18 bilhões para este ano. Antes de se
licenciar, o governador Luiz Fernando Pezão via as medidas como um
primeiro passo na tentativa de sair da crise e acompanhava de perto o
andamento da planilha feita pela Casa Civil. Embora Espíndola não
admita, não está descartada, segundo outras fontes do estado, a hipótese
de o governador em exercício Francisco Dornelles reduzir o número de
secretarias de 25 para dez. Além de obter uma economia (ainda não
calculada), autoridades acreditam que a medida ganharia a simpatia da
população, pois seria uma demonstração da disposição do governo de
cortar na própria carne.
No projeto aprovado, a Secretaria de
Saúde é a que terá mais gordura a queimar: ela se compromete a
economizar R$ 1 bilhão, metade do total dos cortes previstos. A pasta
tem uma das maiores folhas de pagamento e, somente para as Organizações
Sociais (OSs), repassa cerca de R$ 3 bilhões por ano. A ideia é que, com
uma renegociação dos contratos, seja alcançada uma economia de R$ 305,2
milhões. Na conta do estado, já está incluída a municipalização dos
hospitais Albert Schweitzer e Rocha Faria, que gerou uma economia de R$
386 milhões. O caixa do governo pode receber ainda este ano R$ 2,5
milhões com a venda de um helicóptero. Será feita uma concorrência
internacional.As reuniões no Palácio Guanabara regadas a sucos de frutas
frescas ficaram no passado. Para mostrar que o momento é de economia
total, garçons só servem café — e acabou o espresso, pois o contrato de
manutenção das máquinas foi um dos 12 cancelados no mês passado pela
Secretaria da Casa Civil. Nem as palmeiras imperiais do Palácio
Guanabara escaparam do momento de crise. Em vez de jardineiros
especializados, que utilizam gruas para fazer a poda, a mão de obra
utilizada agora é a de detentos, que usam guindastes emprestados de
outros órgãos para cortar os galhos.
A Casa Civil é responsável
por administrar os gastos do governador e do Palácio Guanabara. Segundo o
titular da pasta, Leonardo Espíndola, desde que a crise se agravou, ele
ganhou a missão extra de patrulhar as demais secretarias a fim de
evitar desperdícios.
— A minha pasta tem que dar exemplo.
Atualmente, o estado arrecada R$ 50 bilhões e gasta R$ 70 bilhões. Com
os ajustes, teremos uma receita melhor. Não é um tiro de canhão, mas
ajuda. Estamos focados nisso — disse o secretário.
ORÇAMENTO AÉREO
Na
planilha de cortes da Casa Civil, a economia mais drástica foi na
quantidade de viagens de todas as secretarias: de 2013 para 2015, houve
uma diminuição de 64%. Só nas internacionais, a redução chegou a 85%,
com gastos caindo de R$ 546,8 mil, em 2013, para R$ 80 mil, no ano
passado. Viagens, agora, são apenas para fiscalizar contratos ou buscar
verbas que ajudem a contornar a crise do estado. E, mesmo assim, só de
classe econômica. As passagens na classe executiva acabaram.
— O
servidor público tem direito a diárias de viagens. Elas também tiveram
uma redução drástica: de R$ 353 mil, em 2013, para R$ 134 mil, em 2015.
Este ano, só houve duas viagens internacionais — disse Espíndola.
|