Governadores de Estados em dívida com União proporão que o pagamento de
seus débitos com o governo federal seja suspenso por um ano, em uma
manobra conhecida como carência ou moratória.
Estados como Rio de Janeiro
e Santa Catarina, por exemplo, passam por dificuldades em suas contas
públicas e alegam que o pagamento de juros da dívida com a União é um
componente que contribui para o atual momento desfavorável.
No Rio, a situação chegou ao extremo de atraso de pagamentos de
servidores e aposentados e comprometimento na prestação de serviços
básicos pelo governo.
Governadores de Rio, Minas Gerais, Alagoas, Santa Catarina e Rio Grande
do Sul se reuniram na tarde desta terça-feira (17) durante painel da 28ª
edição do Fórum Nacional, organizado pelo ex-ministro do Planejamento
João Paulo dos Reis Velloso, no Rio. O governo de São Paulo estava
representado pelo seu secretário de Fazenda, Renato Vilela.
Pelo menos quatro governadores –Francisco Dornelles (Rio), Renan
Calheiros Filho (Alagoas), Raimundo Colombo (Santa Catarina) e José Ivo
Sartori (Rio Grande do Sul)– defenderam na reunião que o pagamento seja
suspenso por um ano para que se discuta como os débitos serão quitados.
São Paulo e Minas não chegaram a defender a proposta abertamente.
Em 27 de abril, o Supremo Tribunal Federal determinou a suspensão por dois meses
para que seja negociada uma nova maneira de se quitar essas dívidas,
que datam dos anos 90. Atualmente, a maior parte desses débitos
refere-se ao pagamento de juros.
"É preciso uma solução rápida porque em até seis meses os serviços podem entrar em colapso", afirmou Colombo, de Santa Catarina.
Ele disse que, com a queda de receitas, a fatia do orçamento dedicado a
saúde no estado cresceu de 13,5% em 2015 para 17% em 2016. "A
renegociação da dívida é pré-requisito, por melo menos um ano, para que
possamos dar conta dos serviços."
A proposta de moratória por um ano já é uma concessão dos Estados do que
vinha sendo negociado desde quando a presidente afastada Dilma Rousseff
comandava o país. Até a semana passada, o governador do Rio, Francisco
Dornelles, propunha uma moratória por até dois anos.
De acordo com Colombo, o novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
ouviu dos governadores, em reunião, a proposta de 12 meses. Segundo
ele, porém, era uma conversa apenas para o ministro tomar parte do
processo e não uma negociação efetiva.
NOVO GOVERNO
O ministro do Planejamento, Romero Jucá,
esteve no mesmo evento– mas em uma palestra anterior– e indicou que o
governo poderá não ceder aos apelos por uma moratória das dívidas.
Jucá dizia que até o final do mês será fechada uma proposta, mas quando
questionado sobre possibilidade da suspensão do pagamento, disse que
"não há moratória".
O ministro reconheceu que a questão da dívida tem impacto direto nas
projeções de déficit nas constas públicas deste ano. Ele não quis fazer
uma projeção. Disse apenas que será maior do que os R$ 90 bilhões
indicados pelo comando anterior do governo federal. "Vamos falar em
números consistentes no momento apropriado"
Especialista em contas públicas, o economista Raul Velloso apresentou
durante a palestra estudos mostrando que quase a totalidade do orçamento
dos estados do Rio e Minas, por exemplo, estão comprometidos com
pagamentos de salários e juros da dívida.
No Rio, o estado em pior situação, 92% da receita corrente líquida foi
destinada, no ano passado, às duas rubricas. Em 2016, a fatia será maior
do que a arrecadação prevista, de R$ 45 bilhões.
"A dívida está errada, é impagável", afirmou.
Fonte: Folha de S. Paulo
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