O governo do estado não pensa em adiantar a primeira parcela do 13º
salário de 468 mil servidores públicos (incluindo aposentados e
pensionistas) com direito ao benefício em 2016, como vinha acontecendo
nos últimos anos, sempre em julho. A informação foi dada pelo ainda
secretário de Planejamento, Francisco Caldas, que deverá deixar o cargo
nos próximos dias, por conta da fusão de sua pasta com a Secretaria de
Fazenda.
— Não estamos pensando nisso. O foco é pagar o salário de
maio. Vale lembrar que houve uma época em que o governo pagava o 13º
integralmente em dezembro. Quando o Estado teve uma colher de chá
fiscal, ficou decidida, como maneira de premiar o servidor, a
antecipação da primeira parcela para julho. Mas voltamos a entrar numa
situação difícil, e nossa preocupação exclusiva é fechar a folha de
maio, o que está muito difícil — disse Caldas ao EXTRA.

A
Secretaria de Fazenda confirmou que não há qualquer previsão sobre o
adiantamento da parcela do 13º salário. Tanto é que a antecipação não
está prevista no calendário formulado pelo governo. Em 2015, o Estado
conseguiu antecipar a primeira parcela em julho. No fim do ano, porém,
não pôde arcar com a segunda parte do benefício. Os servidores tiveram
que lidar com o parcelamento do abono em cinco vezes, de dezembro a
abril de 2016. Os que precisavam com urgência do pagamento recorreram ao
adiantamento via empréstimo consignado do Bradesco, com encargos
custeados pelo governo.
Sobre a folha de maio, marcada para ser
quitada até o dia 14 de junho, Caldas confirmou que também não há
qualquer previsão de como se dará o pagamento:
— Ainda não temos
uma posição sobre o pagamento do próximo mês. Fizemos um esforço muito
grande para fechar abril. Como ficará o pagamento dos servidores? É uma
questão de Tesouro, mas estamos procurando maneiras de fechá-la
integralmente. A nossa ideia é pagar a todos, ativos e inativos, mas
insisto, ainda não tenho esta resposta.
A expectativa do governo é ter uma previsão mais concreta sobre a folha de maio ao longo da semana.
O drama do estado e as alternativas
Salário de maio
O
governo deve ter as primeiras projeções sobre o quanto terá que dispor
para arcar com a folha de maio durante a próxima semana. Do governador
Francisco Dornelles aos secretários, o discurso é o de que haverá
“extrema dificuldade” de pagamento.
Repasse aos poderes
A
partir desta semana, começará a correr o prazo para que sejam feitos os
repasses constitucionais aos poderes. O Tribunal de Justiça do Rio
(TJ-RJ), o Ministério Público do Rio (MP-RJ) e a Defensoria Pública
aguardam as transferências. Para quitar os salários de abril, os três
entes garantiram suas parcelas por meio de medidas judiciais. Os órgãos
têm que pagar seus servidores até o último dia útil do mês trabalhado.
Já o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) e a Assembleia Legislativa do
Rio (Alerj), que também têm direito aos repasses, aceitaram o pedido do
governo e devem aguardar até o 10º dia útil do mês seguinte ao
trabalhado.
Parcela do 13º salário
Como
revelaram o secretário Francisco Caldas e a Secretaria de Fazenda, não
há qualquer previsão de adiantamento da primeira parcela do 13º salário.
A maior preocupação do governo é pagar os salários mês a mês. Caldas
lembrou que o adiantamento foi uma “colher de chá” dada aos servidores
enquanto a economia oferecia condições para isso.
Mudanças no Executivo
O
governo mostrará, nos próximos dias, quais serão as mudanças feitas nas
secretarias. A ideia é fundir pastas, como é o caso da Fazenda e do
Planejamento, e incorporar determinados setores a secretarias maiores.
Outra opção é a fusão de empresas públicas.
Corte de comissionados
Segundo
o governo, apenas 14 mil funcionários podem ser exonerados hoje. Deste
total, uma parcela é considerada de “extrema importância”. Ao EXTRA, o
secretário de Planejamento, Francisco Caldas, disse que a economia com o
fim destes cargos seria pequena diante do rombo de R$ 20 bilhões no
orçamento.
Especialização
A estimativa é
que, por ano, sejam gastos cerca de R$ 580 milhões com cargos
comissionados. O total refere-se aos 14 mil cargos, número apresentado
pelo governo. Secretarias ainda reforçam que, neste grupo, há funções
que poucos servidores conseguiriram realizar, caso da área de Tecnologia
da Informação.
Reestruturação
O segundo
passo para a reestruturação prevista pelo governo é enviar à Alerj, nos
próximos meses, uma proposta sobre a reorganização do funcionamento de
fundações e autarquias. O projeto será semelhante ao enviado no início
do ano à assembleia. Desta vez, promete o governo, o texto incluirá a
economia com os cortes.
Aumento das contribuições
O
aumento da contribuição previdenciária por parte dos servidores — de
11% para 14% — voltará a ser discutido na Alerj nos próximos meses. A
Secretaria de Planejamento confirmou que essa questão é de extrema
importância para dar fôlego ao Rioprevidência: “O que queremos discutir
não é se está certo ou errado. Estamos diante de um problema e falamos
sobre a sustentabilidade previdenciária. Independentemente do futuro,
isso garantirá mais recursos para a Previdência”, disse Francisco
Caldas.
Reajustes
Sobre possíveis aumentos
salariais, a previsão não consta do planejamento do governo do estado
até 2019. O Executivo reforça que essa previsão acontece tendo em vista a
manutenção do nível de receitas. Em entrevista recente ao jornal “O
Globo”, o governador em exercício, Francisco Dornelles, reforçou que não
há possibilidade de oferecer um aumento aos professores estaduais. A
categoria cobra um reajuste para encerrar a greve que dura quase três
meses (a paralisação teve início em 2 de março).
Lei de Responsabilidade fiscal (LRF)
O
momento é de “racionalidade” segundo integrantes do governo. O Estado
vai analisar o comprometimento da Receita Corrente Líquida em junho para
saber se o Rio vai ultrapassar o limite de 49% de gasto com pessoal. O
detalhe é que, a partir de junho, o Estado vai incluir na conta os
gastos feitos pelo Tesouro Estadual com o Rioprevidência. Até 2015,
segundo dados do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), o
comprometimento da folha com pessoal chegava a 33,48%. A análise é usada
por categorias de servidores para questionar a intenção do governo de
seguir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
As medidas da LRF
A
LRF prevê, inicialmente, o corte de 20% dos cargos comissionados. Caso a
medida não diminua a parcela da receita gasta com pessoal, o próximo
passo é demitir funcionários sem estabilidade. A última opção prevista
na lei é a exoneração de servidores ativos.
Questão jurídica
Chefe
de Planejamento, Francisco Caldas adiantou que “tudo é inédito” a
respeito das questões da LRF. Um tema que suscita dúvidas refere-se aos
cargos “sem estabilidade”. Aqui entram os servidores temporários e,
segundo Caldas, há uma avaliação de que os em estágio probatório possam
ser enquadrados na categoria. O secretário, porém, reforçou que tudo
será esclarecido pela Justiça.
Contrapartida
Está
em discussão, em Brasília, o projeto de lei de refinanciamento das
dívidas dos estados. Neste projeto, estão previstas contrapartidas
estaduais que afetam o funcionalismo. As assembleias estaduais terão de
discutir projetos que aumentam a contribuição previdenciária dos
servidores. Além disso, os governos estaduais terão de suspender a
admissão e a contratação de pessoal, até mesmo de empresas públicas.
Outra proibição será o congelamento de salários.
Movimento de servidores
Diante
da situação vivida pelo Estado do Rio, os servidores fluminense
iniciaram, na semana passada, a campanha “Luto pelo Rio”. A ideia é
distribuir fitas pretas à população e mostrar os problemas vividos pelos
funcionários públicos. As categorias que encerraram greves recentemente
prometem novas ações, caso aconteçam atrasos.
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