Rio - Um pacote de medidas divulgado ontem pelo governador em exercício,
Francisco Dornelles, penaliza diretamente as famílias mais carentes do
estado. Entre os atos definidos por Dornelles para reduzir despesas e
otimizar os gastos do governo, consta a suspensão do Programa Renda
Melhor, que atende a 154 mil famílias pobres. Também foi suspenso o
Programa Renda Melhor Jovem, uma pequena poupança para os jovens que
concluíssem o Ensino Médio.
O governador em exercício disse que vai reavaliar todos os
programas sociais estaduais em seis meses. Outra medida que atinge o
trabalhador é a possibilidade de alteração nos critérios de concessão do
Bilhete Único. Dornelles reclamou do custo do benefício e disse que
estuda a possibilidade de conceder o auxílio apenas para cidadãos de
“pequena renda”.
O governo enxugou o número de
secretarias de 25 para 20 e determinou a redução de 30% das despesas, a
critério dos secretários,que tanto podem diminuir pessoal ou outras
despesas correntes. “Como (o secretário achar melhor”, destacou
Dornelles. A fusão das secretarias de Fazenda e Planejamento, que chegou
a ser cogitada, não está no pacote de Dornelles. O DIA quis
saber se entre as medidas constava a redução dos supersalários, como o
do secretário de Fazenda, Júlio Bueno, que ganha R$60 mil por mês. Até o
fechamento da edição, o Palácio Guanabara não havia se pronunciado.
O
conteúdo do pacote de Dornelles está dividido em cinco decretos, que
devem ser publicados hoje no Diário Oficial. No entanto, entre os vários
pontos adiantados pelo governador em exercício estão ainda a proibição
de concursos públicos durante um ano, a venda do patrimônio estadual
(como a Ilha de Brocoió, residência de verão do governador) e a
negociação da Dívida Ativa do estado (conjunto de crédito que o governo
tem a receber), estimada em R$70 bilhões.
O
governador acenou também com a possibilidade de privatizar empresas
públicas, como a Cedae. Outra iniciativa, mas com prazo de seis meses
para ser implementada, é a revisão dos 100 maiores contratos do governo
com fornecedores e prestadores de serviços. Dornelles não mexeu no
orçamento de setores fundamentais, como Saúde, Segurança, Educação e na
Administração Penitenciária. Entretanto, as pastas terão a obrigação de
redimensionar seus gastos.
As secretarias extintas
foram a Habitação, que será incorporada pela Secretaria de Obras;
Proteção e Defesa do Consumidor, que passa para a Secretaria de Governo;
Prevenção à Dependência Química e de Envelhecimento Saudável e
Qualidade de Vida, que vão para a Saúde; e Desenvolvimento Regional,
incorporada pela Agricultura.
Curiosamente, a
Secretaria Estadual de Desenvolvimento Regional, Abastecimento e Pesca,
do ex-prefeito de Barra do Piraí, deputado José Luiz Anchite (PP), foi
mantida. Barra do Piraí é o reduto do governador licenciado Luiz
Fernando Pezão. Segundo Dornelles, o estado economizará cerca de R$1
bilhão com o conjunto de medidas.
Menos gastos com telefone, café e carro
“O
que vai diminuir são os gastos com automóvel, verba de gabinete,
cafezinho, telefone e toda a despesa que manter uma secretaria demanda”.
O comentário do deputado Átila Nunes (PMDB), ex-secretário de Proteção e
Defesa do Consumidor, dá uma noção de como o trabalho desenvolvido pelo
atual governo, em determinados setores, é desprezível. Na avaliação do
deputado é mais importante encontrar uma saída para as finanças do
estado. “Estamos caminhando para uma situação dramática”, diz.
Para
o advogado Carlos Henrique Jund, que representa a Federação das
Associações e Sindicatos dos Servidores Públicos no Estado (Fasp), as
medidas vieram tarde. “Também são tímidas. É primordial que haja uma
atuação do governador em exercício de forma a exigir medidas
equivalentes dos outros dois poderes”, diz Jund.
Educação não sofre cortes
O pacote
de medidas para estancar a crise no estado, cujo rombo chega a incríveis
R$ 19 bilhões, não vai mexer imediatamente com o orçamento da Educação.
Mas, o governador em exercício, Francisco Dornelles, cobrou uma atuação
do secretário Wagner Victer voltada para conter os gastos no setor, que
passa por uma crise particular.
Já são 99 dias de paralisação dos
professores e 11 dias que a sede da Secretaria está ocupada por alunos.
Segundo os grevistas, as principais reivindicações ainda não foram
atendidas. “A gente quer um diálogo aberto e franco com a população. A
culpa do que está acontecendo é do governo. A população sabe que, se não
nos mexermos, nada acontece”, desabafou o coordenador geral do
Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do RJ (Sepe), Lucas
Hippolito.
Em assembleia, ontem, cerca de 1.500 professores
votaram a favor da continuação da greve. Em seguida, marcharam pela Rio
Branco até à Alerj, onde houve reunião com a Comissão de Educação da
casa. Uma outra assembleia foi marcada para o dia 16, mas falta
confirmar o local e o horário.
Fonte: Jornal O Dia
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