BRASÍLIA - O governo apresentou hoje proposta de Emenda Constitucional
(PEC) que fixa, por pelo menos nove anos, um teto para os gastos
públicos dos três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – e
acaba com as vinculações constitucionais das áreas de Saúde e Educação.
Numa das maiores mexidas na política fiscal e no gerenciamento das
contas públicas desde a Constituição de 1988, a administração interina
de Michel Temer quer que todas as despesas da União cresçam em 12 meses
no máximo o equivalente à inflação do ano anterior. O plano –
apresentado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, após reunião
com Temer e líderes partidários – tem horizonte de duas décadas. Mas
valerá, inicialmente, por um prazo de nove anos, a partir de 2017, se a
PEC for aprovada. A partir do 9º ano de vigência, a equipe econômica
poderá revisar o modelo e, se achar necessário, mudá-lo a partir do 10º
ano, por meio de um projeto de lei.
Meirelles afirmou que a PEC é apenas um passo no processo de
reequilíbrio das contas públicas. Segundo ele, o governo vai anunciar
novas medidas e o segundo desafio vai ser melhorar a qualidade das
despesas:
— Não pararemos aí. Existem outras medidas que adotaremos para
restaurar a atividade econômica. No caso do comportamento do
endividamento, esse trabalho não termina hoje. Outras discussões vão
existir e farão parte da discussão sobre despesas públicas no Brasil. O
segundo desafio vai ser a qualidade do gasto.
A PEC propõe uma trava às despesas federais, caso elas estejam
avançando acima do ritmo do IPCA do ano anterior. Entre elas estão a
proibição de reajustes para servidores públicos, a criação de novos
cargos, a realização de concursos e a concessão de novos subsídios.
O projeto determina que, em caso de descumprimento do teto para os
gastos em um determinado ano, automaticamente são acionadas travas para
conter as despesas do exercício seguinte. Nessas situações, o governo
ficaria proibido de conceder vantagens e aumentos de remuneração para
servidores públicos, “salvo os derivados de sentença judicial ou de
determinação legal” anteriores à publicação da PEC.
Além disso, ficam vedadas a criação de cargos e funções, admissões e
contratações de pessoal, salvo reposição de aposentadorias e de cargos
de chefia que não acarretem em aumento de despesa. Alterações de
estrutura de carreira e a realização de novos concursos públicos também
ficam proibidas.
Adicionalmente, o texto da PEC determina que, nas situações em que
houver descumprimento do teto, o governo fica proibido de conceder novos
benefícios fiscais e terá que limitar as despesas nominais com
subsídios e subvenções ao valor gasto no ano anterior.
SAÚDE E EDUCAÇÃO
O Ministério da Fazenda
informou que a nova PEC que fixa um teto para os gastos públicos vai
mudar a forma de vinculação das despesas de Saúde e Educação. A
Constituição estabelece hoje percentuais mínimos que a União é obrigada a
gastar nessas duas áreas com base nas receitas arrecadadas. Essa
vinculação deixará de ser ao comportamento da receita e vai variar de
acordo com a inflação do ano anterior.
Pela regra constitucional atual, a Saúde tem previsão de receber
valores crescentes até 2020. Em 2016, é obrigatória a destinação de
13,2% da receita corrente líquida para essa área. O valor chegará a 15%
em 2020. No caso da educação, a União é obrigada a destinar 18% da
arrecadação a esse segmento. Com a PEC, o limite do gastos será a
despesa paga nessas duas áreas no ano anterior mais a inflação.
JUDICIÁRIO E LEGISLATIVO
O Ministério da
Fazenda informou que o teto para os gastos vai valer para todos os
poderes. Segundo nota divulgada pela pasta, “os gastos totais totais da
União, incluídos os poderes Legislativo (inclusive o TCU), e Judiciário,
além de Ministério Público da União e Defensoria Pública da União,
serão reajustados com base na inflação oficial do ano anterior”.
Para fazer o cálculo da base de gastos que será usada como referência
para o teto, o governo vai usar seus gastos primários totais. Eles
incluirão os chamados restos a pagar (despesas de anos anteriores que
são transferidas para o período seguinte).
DÍVIDA PÚBLICA
O ministro evitou fazer
projeções para o comportamento da dívida pública com a vigência do teto.
Segundo ele, essa trajetória depende de uma série de variáveis, como
comportamento do PIB e dos investimentos. Alfinetando o governo Dilma
Rousseff, Meirelles disse que sempre foi contra governos que divulgam
previsões no lugar de medidas:
— É prematuro (fazer previsões). Eu sempre fui contra governos que
começam antes de mais nada a divulgar previsões. Analistas fazem
previsões. Eu sempre tive uma postura de coordenação de expectativas. O
governo não deve tentar influenciar (o mercado) com previsões.
Fonte: Jornal O Globo
|