BRASÍLIA - A fixação de um teto para os gastos dos estados é o primeiro
passo de uma série de contrapartidas que os governadores terão que dar
em troca da renegociação de suas dívidas com a União. Integrantes da
equipe econômica afirmaram ao GLOBO que um dos ajustes que os estados
terão que fazer é alterar a forma como registram despesas com pessoal.
O Tesouro Nacional já identificou que virou uma prática comum entre
os estados maquiar o tamanho de seus gastos com folha para não ficarem
desenquadrados dos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Entre as manobras estão retirar despesas com terceirizados,
pensionistas e inativos da conta de pessoal. Outra estratégia é
registrar apenas a remuneração líquida dos servidores, excluindo os
valores pagos com a retenção do Imposto de Renda (IR). Segundo os
técnicos, sem a contabilidade criativa, grande parte deles estaria fora
do limite da LRF, pelo qual os gastos com pessoal (considerando os
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário) não podem exceder 60% da
receita corrente líquida (RCL).
— Alguns ajustes serão encaminhados posteriormente, como o do
registro correto das despesas com pessoal — afirmou um técnico do
governo.
O especialista em contas públicas Raul Velloso explicou que a
renegociação das dívidas com a União nos fim dos anos 90 deixou pouca
margem de manobra aos governadores. Ele ficaram obrigados a comprometer
13% de sua receita com o pagamento de serviço da dívida. Outros 3% (em
média) ficaram comprometidos com empréstimos com bancos oficiais e com
instituições estrangeiras. Somando a isso gastos com a folha, que foram
subindo fortemente por pressões de corporações, e as vinculações
constitucionais de Saúde e Educação, o total comprometido subiu para
90%.
— Esse quadro deixou uma margem muito baixa para outras despesas e
para investimentos, algo em torno de 10%. Foi assim que muitos estados
começaram a pressionar os tribunais de contas para retirar inativos e
pensionistas da conta de pessoal e se enquadrarem na LRF — explicou
Velloso.
A proposta anunciada na segunda-feira pelo ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, prevê um alongamento dos débitos por 20 anos e uma
carência de 6 meses no pagamento dessas dívidas com a União. Em janeiro
de 2017, os governadores passarão a pagar parcelas mensais crescentes
que se tornarão integrais ao final de 18 meses. Com isso, a União abrirá
mão de R$ 50 bilhões.
MUNICÍPIOS QUEREM ALÍVIO
O presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu que os mesmos critérios
adotados em relação a dívidas dos estados junto à União seja adotado no
caso de dívidas dos estados com o BNDES. O Congresso terá de aprovar o
plano de renegociação.
— Renegociamos a dívida pública, mas alguns estados têm dívida com o
BNDES. Acho fundamental estender os termos para a dívida dos estados com
o BNDES — disse Renan.
Já as prefeituras querem o mesmo tratamento dado aos governos
estaduais. Em carta encaminhada ao Palácio do Planalto, a Confederação
Nacional dos Municípios (CNM) reclama da exclusão das cidades e lembra
que só a dívida previdenciária municipal está em cerca de R$ 100
bilhões.
— Os municípios estão bastante insatisfeitos com essa benesse dada
aos estados. Consideramos isso falta de lealdade federativa do governo
federal. Vamos trabalhar para incluirmos emendas no projeto que trata
dos estados — disse o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski
Fonte: Jornal O Globo
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