O esforço do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para alavancar
investimentos em saneamento nos Estados, a partir de novos modelos de
concessões, começa a despertar interesse tanto no setor privado como nos
governos estaduais.
O Rio de Janeiro já
se mobiliza para incluir na primeira reunião do Programa de Parcerias de
Investimentos (PPI), prevista para o dia 25, a Companhia Estadual de
Águas e Esgotos (Cedae). No Estado, o modelo de concessões apresentado
pelo BNDES, tem potencial de gerar R$ 22 bilhões em investimentos
privados ao longo de 30 anos, nos 64 municípios atendidos pela empresa.
"Vamos entrar no PPI,
mas sem definir o modelo", afirma o secretário de Desenvolvimento
Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Rio, Marco Capute. Isso não
significa que o Estado vá adotar integralmente a proposta apresentada,
disse o secretário.
Para Capute, o modelo
desenhado pelo Estado - que prevê licitações para ampliar a captação e
tratamento de esgoto em 11 municípios - é superior ao proposto pelo
banco, o que não impediria a negociação de um modelo combinado. "Ele
[Capute] acabou de sair daqui [do BNDES] e me garantiu que [o projeto de
saneamento] vai ser colocado no PPI", disse ao Valor Marilene Ramos,
diretora de infraestrutura do BNDES.
Mais amplo, o modelo
desenhado pelo BNDES descarta a privatização da Cedae, que atuaria como
fornecedora de água no atacado para quatro subconcessionárias. Essas
empresas ficariam responsáveis pela distribuição de água e pela captação
e tratamento de esgoto. Seriam R$ 22 bilhões em investimentos, sendo R$
16,5 bilhões em esgoto e R$ 4,5 bilhões em água, ao longo de 30 anos, a
maior parte nos 15 primeiros anos.
"O investimento se
paga com a arrecadação, redução da inadimplência e das perdas de água",
disse Marilene. Ela afirmou que o banco vai oferecer financiamento em
condições "excepcionais" (taxas de juros menores e prazos maiores) para
projetos de saneamento. Já no modelo defendido por Capute, o negócio de
água ficaria com a Cedae. A intenção do secretário é divulgar no início
de 2017 um edital para concessão de serviços de saneamento.
Para Hamilton Amadeo,
presidente da Aegea, empresa de saneamento controlada pelo grupo
Equipav, o modelo tem potencial para atrair o interesse da iniciativa
privada. Em princípio, diz o executivo, deixar a produção de água nas
mãos do Estado e a concessionária a cargo da distribuição e do serviço
de esgoto pode ser interessante. O que vai definir a viabilidade do
negócio, pondera, é a tarifa a ser cobrada da concessionária pela Cedae.
A Aegea, segundo
Amadeo, tem acompanhado o movimento do Rio de dar mais abertura à
participação da iniciativa privada no setor e avalia que a entrada do
BNDES pode acelerar o processo. "Temos fôlego e apetite, é uma questão
de preço", diz.
O interesse da Aegea
por novos investimentos no segmento está longe de ser um caso isolado.
"Já fomos procurados por diversos potenciais investidores
internacionais, como fundos de investimento, que vêm nos procurar e têm
dito que o setor de saneamento interessa", disse Marilene. A modelagem
do BNDES para o saneamento básico também está em andamento em Rondônia e
o banco conversa sobre o tema com outros Estados.
No caso do Rio, a
proposta do BNDES parte de uma modelagem de tarifa um pouco mais baixa
do que a concessionária de Niterói paga à Cedae. O presidente da Aegea
destaca que as empresas privadas terão incentivo para investir em
redução de perdas, pois assim podem diminuir o volume necessário de água
a ser comprada para abastecer a população da área concedida. "A maior
parte da água é perdida na leitura inadequada e no vazamento da rede
final de acesso", diz Amadeo, o que deixa esse ganho potencial na ponta
de quem faz a distribuição.
O secretário do PPI,
Moreira Franco, confirmou ontem que a privatização do sistema de
saneamento do Rio poderia render até R$ 1,5 bilhão aos cofres estaduais.
Nas contas do BNDES, a arrecadação do Rio com as outorgas da Cedae
chegaria a quase R$ 2 bilhões. Apesar de falar sobre o valor potencial
da concessão, Moreira Franco ressaltou que a decisão depende do governo
fluminense, que discute o modelo com o banco.
Sobre a reunião do
conselho do PPI, na qual serão avaliados os primeiros projetos que serão
oferecidos à iniciativa privada, Moreira Franco admitiu a possibilidade
de mudança na data marcada. Prevista inicialmente para o dia 25, o
adiamento estaria relacionado ao julgamento do impeachment da presidente
afastada Dilma Rousseff pelo Senado, agendado para o dia 25.
Questionado sobre a mudança de calendário, Franco foi lacônico: "Vamos
ver".
Fonte: Valor Econômico
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