BRASÍLIA - A secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi,
informou nesta terça-feira que o Rio de Janeiro pediu ao governo federal
o envio de uma missão técnica ao estado para ajudar a equacionar a
crise fiscal. Segundo ela, o pleito está sendo analisado. Ana Paula
explicou que esse tipo de missão começou a ser realizada nos anos 1990,
quando houve a primeira reestruturação de dívidas com a União. No
entanto, em 2014, elas foram suspensas pelo Ministério da Fazenda.
— Estudamos a retomada das missões técnicas. A ideia é conhecermos
mais de perto a situação das finanças e construir novos Programas de
Reestruturação e Ajuste Fiscal (PAFs) — disse a secretária.
GREVE PREJUDICA O ÓRGÃO
Os programas, que
também fizeram parte da reestruturação das dívidas, precisam ser
revistos anualmente ou a cada dois anos. Segundo Ana Paula, o Rio foi o
único estado que solicitou essa ajuda agora, mas o Tesouro pode fazer o
mesmo com outros que necessitarem.
Procurado, o Estado do Rio informou apenas que a missão do Tesouro é
técnica e que não há repasse de valor da União. Em junho, o governo
federal liberou uma doação de R$ 2,9 bilhões destinados a ações de
segurança pública relacionadas à Olimpíada. O Palácio do Planalto editou
a medida provisória dando o "apoio financeiro" ao Rio, uma semana
depois de o estado ter decretado estado de calamidade pública em razão
da crise financeira. Com os recursos, foram pagas as folhas de junho e
julho.
Segundo Ana Paula, a mobilização de servidores do Tesouro por
reajustes salariais tem atrapalhado o trabalho do órgão e as missões.
Ela disse que estão sendo elaborados planos de contingência por causa da
mobilização, mas assegurou que o movimento grevista não afeta a
realização de leilões de títulos públicos, nem as transferências
constitucionais. Ana Paula lembrou que atrasos nos repasses poderiam
acarretar na responsabilização de servidores:
— É importante ficar claro que não há nenhuma interrupção de leilões
da dívida. No Tesouro Direto, fizemos uma ligeira contingência com novos
horários no sistema. E não temos nenhum atraso em transferências
constitucionais — disse Ana Paula, acrescentando: — É claro que estamos
trabalhando em planos de contingência e estamos tentando preservar a
instituição. Mas tudo numa velocidade menor que o normal.
Ela disse ainda que as estatísticas fiscais também não serão
prejudicadas. Por causa do movimento da categoria, o Tesouro ainda não
divulgou o relatório da dívida mobiliária relativo a julho. Já o
relatório das contas públicas foi apresentado de forma resumida.
— Os relatórios da dívida e do Tesouro vão ser divulgados quando
conseguirmos apresentar os trabalhos. Paralisação atinge boa parte do
contingente dos servidores. Mas não haverá prejuízo das estatísticas e
tudo será colocado no site na internet — informou.
O ESTRESSE DAS MISSÕES DO FMI
Missão técnica
nas décadas de 1980 e 1990 era motivo para muito corre-corre nos
ministérios e outros órgãos públicos. Era assim que se chamavam as
visitas dos técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI), que tinham a
tarefa de verificar se o governo brasileiro estava adotando medidas
eficientes para reduzir gastos públicos e ajustar a economia. Naquela
época, o Brasil tinha dívidas com o organismo internacional.
A cada visita, os técnicos passavam dias no Rio e em Brasília em
reuniões com autoridades brasileiras. Eles também se encontravam com
empresários e instituições de pesquisas.
Diante do que viam e ouviam nesses encontros, os membros da missão
elaboravam relatórios. Em alguns casos, o objetivo era recomendar ou não
a liberação de mais um empréstimo para o país.
O estresse das missões do FMI acabou em 2005, quando o governo
brasileiro anunciou que estava quitando antecipadamente seu débito de
US$15,5 milhões com a instituição. Esse era o valor que restava ser pago
em 2006 e 2007 de um empréstimo de US$ 41,75 bilhões negociado com a
entidade em 2002. Com o pagamento, o FMI anunciou que manteria parceria
com o Brasil, mas, a partir daquele momento, apenas como assessor do
país.
Fonte: Jornal O Globo
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