O Tribunal de Contas da União (TCU) vai investigar a
explosão das garantias dadas pelo Tesouro Nacional a empréstimos
contratados por Estados que já estavam em péssimas condições financeiras
e tinham maior risco de dar calote. Contrariando recomendação da corte
de contas, o Tesouro adotou uma política de garantias facilitadas,
concentrando os avais justamente para Estados com as piores notas de
classificação de risco: C e D.
Entre 2012 e 2015, a União garantiu R$ 73 bilhões em
operações de crédito para os governos estaduais com rating C ou D,
enquanto os Estados com menor risco de inadimplência tiveram aval para
obter R$ 44,9 bilhões em novos financiamentos, segundo dados revisados
pelo Tesouro Nacional na segunda-feira, 31.
Antes,
o boletim oficial do órgão mostrava R$ 5 bilhões em avais para Estados
com elevado risco de inadimplência em 2015, mas o Tesouro procurou a
reportagem na segunda para retificar o dado nesse período, quando o
ministro da Fazenda era Joaquim Levy, para zero.
A manipulação das garantias é uma das vertentes da
maquiagem nas contas dos Estados, que foram irrigados com recursos do
BNDES, Caixa e Banco do Brasil. A consequência foi o agravamento da
crise financeira dos Estados e a necessidade agora de o Tesouro honrar
dívidas que começam a não ser pagas. O calote chega a R$ 1 bilhão em
apenas cinco meses deste ano. Rio de Janeiro e Roraima foram os dois
Estados que não quitaram parcelas de empréstimos nesse período, mas o
governo já admite que outros podem seguir o mesmo caminho.
Os bancos têm ligado para o Tesouro quando percebem o
risco de inadimplência dos Estados para se certificar de que as
garantias serão efetivamente honradas. Ao quitar a dívida, o órgão
bloqueia recursos do governo estadual que deu o calote para compensar o
prejuízo.
Excepcional. Assim como nas
pedaladas fiscais, que permitiram o atraso no pagamento de subsídios do
Tesouro aos bancos públicos, as garantias para os Estados com nota C e D
foram possíveis graças a uma portaria desenhada para burlar as regras
de boas práticas prudenciais e fiscais. Editada em 10 de setembro de
2012, a portaria dá poderes ao ministro da Fazenda, em “caráter
excepcional”, de autorizar Estados com rating mais baixo a contratar
empréstimos com aval da União.
O problema é que dali em diante houve uma explosão de
garantias concedidas pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega com a
dispensa do cumprimento de exigências. Até mesmo depois da mudança da
equipe econômica, no segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, a
prática continuou. O Tesouro diz que a gestão Levy não recorreu a esse
expediente, mas em 2016, já sob o comando de Nelson Barbosa, a Fazenda
deu novamente aval a Estados com notas baixas.
O maior beneficiado com essas operações foi o Rio de
Janeiro. Em 2013, o Estado recebeu aval para R$ 6,2 bilhões em
empréstimos captados no Brasil e outros US$ 660 milhões no exterior. Na
época, o Rio, governado por Sérgio Cabral, um dos principais aliados
políticos do governo petista, tinha nota C-. No ano seguinte, a nota
caiu para D, e mesmo assim o Estado obteve novas garantias para
empréstimos de R$ 8,3 bilhões.
O TCU informou ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que vai investigar se
as garantias dadas pela Fazenda geraram o calote. A possibilidade de
punir os responsáveis está sendo avaliada. O tribunal já está fazendo, a
pedido do Congresso, um pente-fino nas operações de crédito que foram
autorizadas e aquelas negadas desde 2001.
Um dos senadores mais críticos a essas operações,
Ricardo Ferraço (PSDB-ES) avalia que o governo Dilma violou regras ao
autorizar Estados e municípios a realizar operações de crédito sem que
tivessem capacidade financeira para tanto. “Contraíram empréstimos sem a
devida análise”, afirma.
Fonte: Estado de S. Paulo
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