Limite deve atingir também aposentadorias da Assembleia e do Judiciário do estado
O governo do estado vai propor teto de R$ 15 mil para novas
aposentadorias e pensões do Rio, que deve atingir inclusive Legislativo e
Judiciário, revela Carina Bacelar. A medida faz parte do plano B do
governo Pezão para substituir a contribuição previdenciária de até 30%
dos salários dos servidores, descartada pela Alerj. Outro projeto
estabelece contracheque único para submeter funcionários com duas
funções no estado a um teto salarial. Será proposto, ainda, o fim do
pagamento do bônus a auditores fiscais aposentados e pensionistas quando
há aumento de arrecadação. Se aprovadas, as medidas economizarão R$ 1
bilhão por ano.
Plano B é levado à mesa
• Sem alíquota previdenciária extra, estado aposta em teto de R$ 15 mil para inativos e pensionistas
Carina Bacelar e Rafael Galdo - O Globo
O governo estadual e sua base aliada na Assembleia Legislativa (Alerj)
devem propor três novas medidas ao ajuste fiscal que começa a ser
discutido hoje na Casa. A principal sugestão é a criação de um teto
salarial de R$ 15 mil para aposentados e pensionistas do estado. O GLOBO
obteve a informação de que o limite atingiria inclusive inativos da
Alerj e do Judiciário, poderes que costumam concentrar altos salários. A
proposta faz parte do plano B do Palácio Guanabara para substituir a
alíquota suplementar previdenciária que, com desconto previsto de até
30% nos salários do funcionalismo, não teve o apoio dos deputados. O
teto, com outros dois projetos que também serão colocados na mesa de
negociação, poderia gerar uma economia anual de R$ 1 bilhão para os
cofres estaduais.
O teto só valeria para limitar vencimentos de novos aposentados e
pensionistas. Os que já recebem valores acima de R$ 15 mil não seriam
afetados: isso permitiria a contestação da legalidade da proposta, o que
não interessa ao governo, que tem pressa para aprovar o pacote
anticrise até dezembro. Sem o aval do Legislativo, o projeto de alíquota
suplementar previdenciária foi devolvido ao estado pelo presidente da
Alerj, Jorge Picciani (PMDB).
ALÍQUOTA EXTRA NÃO IRÁ A PLENÁRIO
Atualmente, quem se aposenta pelo Rioprevidência pode ganhar até o teto
do funcionalismo estadual, que, de acordo com a legislação do estado,
corresponde a 85,22% do vencimento de um ministro do Supremo Tribunal
Federal (R$ 33.763,00): ou seja, R$ 28.772. O teto de R$ 15 mil deve se
equiparar ao novo salário do governador, que será reduzido em 30%, de
acordo com o ajuste fiscal. A intenção do estado, segundo uma fonte, é
que a mudança do limite para aposentados e pensionistas seja uma emenda
ao projeto que prevê aumento da contribuição previdenciária de 11% para
14%. Só essa medida proporcionaria uma economia, segundo estimativas, de
R$ 500 milhões por ano ao estado.
O Palácio Guanabara quer ainda acabar com as gratificações a auditores
fiscais aposentados e seus pensionistas por aumento de arrecadação. É
uma espécie de bônus concedido semestralmente. De acordo com técnicos do
governo, não faz sentido manter o benefício para quem já não contribui
mais para o crescimento da receita tributária estadual. Se for adiante, a
ideia representará uma poupança de R$ 200 milhões anuais.
Outra proposta que ganhou o apoio do Palácio Guanabara é um projeto de
lei do deputado Edson Albertassi, líder do governo na Alerj, que criaria
um único contracheque para servidores. A mudança atingiria
principalmente funcionários cedidos de empresas públicas e dos governos
federal e municipal que ganham dois salários. Se for aprovada, limitará
os vencimentos ao teto estadual. Os servidores do Judiciário cedidos ao
Executivo, que acumulam dois salários, também seriam alvos da medida. O
projeto pode ser votado dentro do pacote, se houver consenso entre
deputados.
— A gente garantiria o pagamento de um único contracheque dentro do
limite do estado, e isso reduziria as despesas — defende Albertassi.
De acordo com o advogado e professor de direito administrativo da
PUC-Rio Manoel Peixinho, a proposta de diminuir o teto do funcionalismo
não é ilegal, desde que não altere direitos adquiridos:
— A lei não pode retroagir. Aqueles que já recebem os proventos não
podem ser alcançados. Eles têm direito adquirido. Se houver uma lei
aprovada pela Alerj, os servidores vão se adequar ao novo teto. A não
ser que o governo crie regras de transição, o que acho difícil, porque
ele está sem recursos.
Ontem, Picciani disse que o projeto de alíquota previdenciária
suplementar, rejeitado pelo Legislativo, não será tirado da gaveta. Ele
afirmou que a decisão da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministra Cármen Lúcia, de derrubar a liminar que proibia sua tramitação
não altera a posição dos deputados. Ele reafirmou que a proposta não
será levada a plenário:
— Já reafirmei que a devolução nada tem a ver com a liminar concedida
pela Justiça, mas, sim, pela exorbitância da alíquota, que não encontrou
apoio algum na Alerj por ser extremamente injusta. Este ano não há mais
espaço na pauta para o tema.
Albertassi, por sua vez, admitiu que as conversas sobre o pacote anticrise têm sido “tensas”:
— É um momento de dificuldade, sobretudo no diálogo com os sindicatos, mas estamos buscando a confiança da população.
Segundo Vanderlei Ribeiro, presidente da Associação de Praças da Polícia
Militar e do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, várias categorias
articulam com a Federação das Associações e Sindicatos dos Servidores
Públicos (Fasp) e com o Movimento Unificado dos Servidores Públicos
Estaduais (Musp) uma ação coletiva:
— Acreditamos que, politicamente, uma ação coletiva teria uma força maior contra o pacote.
O Palácio Tiradentes, sede da Alerj, ganhou ontem mais uma grade,
instalada em volta da cerca montada no sábado. Na semana passada, a
Alerj foi invadida por manifestantes e Picciani chegou a afirmar que
houve falha da PM.
Fonte: Jornal O Globo
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