Até líderes de partidos aliados negam apoio ao pacote anticrise do
governo Pezão na Alerj, relata Mara Bergamaschi. Agora, o governador
depende do Congresso, que votará ajuste fiscal, e da União, que acena
com ajuda. Para o Rio fechar as contas deste ano, ainda faltam R$ 7
bilhões.
Esperança vem de Brasília
• Com pouco apoio na Alerj, o estado busca no governo federal a saída para a crise
Mara Bergamaschi - O Globo
Com fraco apoio na Assembleia Legislativa, o ajuste fiscal do Rio passou
a depender de negociações diretas com a União e pode acabar sendo
efetivado em Brasília, via Congresso. O pacote federal que o ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles, anunciou terça-feira, depois de se sentar à
mesa com os governadores, responde a problemas do estado e tem mais
chances de prosperar do que o já desfigurado pacote estadual que Luiz
Fernando Pezão (PMDB) mandou à Alerj. Além desses entendimentos de médio
e longo prazo, Pezão pediu ontem aval da Fazenda para realizar
operações financeiras que permitam fechar o caixa de 2016.
O governador deu prioridade para as negociações em Brasília no momento
em que o pacote que enviou à Alerj patina, com futuro incerto. A maioria
dos deputados estaduais considera que falta ao conjunto de medidas
“seriedade técnica" e gostaria de devolvê-lo ao Palácio Guanabara — como
quer o funcionalismo. O esforço que o aliado do governador e presidente
da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), tem feito é para convencer os colegas a
deixar o pacote pelo menos tramitar — ou seja, ter sua admissibilidade
aceita. Mesmo assim, parcialmente: Picciani já retirou, por serem
consideradas inconstitucionais ou ilegais, oito das 22 propostas.
— Não tenho culpa se as coisas foram mal formuladas — justificou o deputado.
Depois da prisão por suspeita de corrupção de outro poderoso
correligionário, o ex-governador Sérgio Cabral, a segunda frente de
atuação de Picciani tem sido vetar pedidos de CPIs e de impeachment
feitos pela oposição:
— Já arquivei tudo de impeachment de Pezão, e CPI agora só no ano que
vem — disse. — A temperatura está muito alta, e precisamos de equilíbrio
e paciência.
PACOTE É CONSIDERADO UM FIASCO
Nos bastidores da Alerj, o PP (Pacote Pezão) já é considerado um fiasco:
— Pode ser que não passe nada. Só tenho o meu voto — avisou Picciani.
Fim do triênio, dos programas de renda mínima e aumento da conta de luz
para pequenos consumidores estão fora de cogitação. Até o momento, a
única proposta mais ou menos consensual é a que prevê aumentar de forma
escalonada, em 1% ao ano, a contribuição previdenciária do
funcionalismo, desde que o estado também aumente sua cota. Todos os
partidos afirmam que não há condições de suprimir reajustes ou
gratificações enquanto o Executivo não restabelecer, pelo menos, a data
de pagamento mensal dos salários. Em suma, se algo restar do pacote, não
será na forma original. E a principal proposta do governo, de descontar
30% dos salários dos ativos e inativos para cobrir o rombo
previdenciário, já foi sumariamente descartada.
Os “erros primários do Executivo”, definição do próprio Picciani,
facilitam a vida dos deputados estaduais que fogem como o diabo da cruz
de aprovar medidas impopulares. Além das inconstitucionalidades, a falta
de cálculos confiáveis é o outro ponto alto das reclamações do
Legislativo.
— Números não demonstrados não têm qualquer valor, e o governo não
enviou cálculo algum, além de não ter negociado nada nem com sua base —
sustenta o presidente da Comissão de Tributação, Luiz Paulo Corrêa da
Rocha (PSDB).
O deputado tucano esteve à frente da articulação que retirou da pauta
sete projetos que extinguiam fundações e autarquias. Segundo ele, acabar
com a Fiperj, por exemplo, significaria uma economia de R$ 395 mil
contra uma perda de receita de R$ 5 milhões ao ano, captados pelo órgão
para pesquisas sobre pesca. — Qual é a lógica disso? — reclamou. Além de
checar os números do pacote, Luiz Paulo foi encarregado por Picciani de
encontrar na Comissão de Tributação um caminho de fiscalização que
neutralize os apoios para a instalação da CPI dos Incentivos Fiscais, já
obtidos pelo PSOL. O assunto ganhou força depois que a Lava-Jato
apontou indícios de que empresas favorecidas podem ter pagado propina ao
grupo de Sérgio Cabral.
— Dou a mão à palmatória. O Legislativo errou em 2004 ao permitir que o
Executivo concedesse os benefícios por decreto. Faltou transparência, e o
melhor seria o governo abrir todas essas caixas-pretas — disse
Picciani.
A proposta que o ministro da Fazenda negociou anteontem no Planalto com
os governadores pode trazer alguma distensão para essa grande polêmica.
Meirelles anunciou que as empresas favorecidas por incentivos fiscais
que não tenham sido autorizados pelo Conselho Nacional de Polícia
Fazendária (Confaz), caso do Rio, terão de doar pelo menos 10% do valor
dos benefícios para um fundo estadual — ou seja, surge uma nova fonte de
recursos. Os governadores concordaram ainda em estender para seus
estados a PEC do teto dos gastos públicos, que já tramita no Senado, bem
como a reforma da Previdência e o projeto de lei que limita a
remuneração do funcionalismo. Também se comprometeram a reduzir despesas
com cargos comissionados e gratificações. Tudo que o Rio precisa
implantar — com mais urgência do que outros estados.
Se pegar carona nas reformas do presidente Michel Temer, que têm sido
votadas com relativa rapidez pelo Congresso, Pezão não precisará aprovar
essas medidas na Alerj. Uma saída para a cada vez mais patente falta de
sintonia entre a Assembleia e o Palácio Guanabara.
— Ninguém do governo sobe na tribuna para defender este pacote porque
ele já virou um grande embrulho — define o deputado Marcelo Freixo
(PSOL).
Há um mês do Natal, não há qualquer sinal de congraçamento político.
— Se Pezão não tem um plano B, deveria assinar sua renúncia — sugere o moderado Luiz Paulo.
— A verdade é que não há clima para aprovar nada, e nós aqui já vemos o
Pezão como a Dilma. Queremos que ele peça para sair — provoca o deputado
Flávio Bolsonaro (PSC).
Fonte: O Globo
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