RIO - Em meio a questionamentos vindos da Justiça, do Ministério Público
e do Tribunal de Contas, o governo começou a abrir as informações sobre
as isenções fiscais concedidas no Rio, com o objetivo de dar mais
transparência ao processo. Segundo um relatório que analisou o impacto
dos benefícios na economia fluminense, obtido com exclusividade pelo
GLOBO, os principais setores que receberam incentivos por meio de leis
estaduais tiveram ganho de arrecadação e geram, hoje, 235 mil empregos
diretos. São 11 segmentos. Só o têxtil teve um aumento de receita de
295% entre 2002 e 2015 e ampliou o número de vagas de trabalho em 10%,
entre 2010 e 2014.
Nesta terça-feira, o governador Luiz Fernando Pezão sancionou a lei
que suspende por dois anos a concessão de novas isenções no estado.
Entre os 11 setores analisados, estão empresas que receberam
incentivos pelo programa de redução das desigualdades regionais, além
dos ramos farmacêutico, de informática e eletroeletrônica, de joias e de
cosméticos, entre outros. O único que apresentou queda na arrecadação
foi o de pesca, devido a uma forte concorrência de Santa Catarina,
segundo o relatório.
PROGRAMA DE INCENTIVOS
O universo analisado
pelo governo considera que foram concedidos cerca de R$ 35,4 bilhões de
incentivos entre 2008 e 2013. Segundo a Fazenda, esse é o valor efetivo
de benefícios. O Tribunal de Contas do Estado e o Ministério Público
estadual, entretanto, estimam em R$ 138 bilhões as isenções dadas para o
mesmo período.
Um outro quadro importante traçado pelo levantamento é sobre a forma
que os incentivos foram concedidos. Há uma polêmica porque alguns deles
foram liberados diretamente por leis aprovadas na Assembleia Legislativa
ou por decreto estadual, sem apreciação de um representante do Conselho
Nacional de Política Fazendária (Confaz). De acordo com o estudo, a
média de isenções mensais, durante o período, foi de R$ 5,9 bilhões.
Desse total, R$ 3,4 bilhões (58%) correspondem às que foram concedidas
no âmbito do Confaz e R$ 2,5 bilhões (42%) via atos estaduais, sendo R$
1,7 bilhão por leis e R$ 800 milhões por decretos do governo.
— O estado quer preservar sua capacidade de decidir como vai
conduzir o programa de incentivos, respeitando o parlamento e os órgãos
de regulação. Ao mesmo tempo, discutimos agora chamar os setores (da
economia beneficiados) para analisar como podemos fixar metas de
arrecadação, de maneira negociada e pactuada — diz Christino Áureo, que
assumirá em janeiro a Secretaria estadual de Infraestrutura, que
aglutinará as pastas de Desenvolvimento, Transportes, Obras e
Agricultura.
Segundo ele, o relatório completo sobre as isenções fica pronto até o
fim de janeiro, incluindo informações de 2016. Com base nos dados
colhidos pelos técnicos, diz o secretário, será desenvolvido um Sistema
de Governança dos Incentivos Fiscais e Transparência. O objetivo é
permitir o acompanhamento dos benefícios e gerar indicadores sobre os
impactos deles na economia fluminense, como números da geração de
empregos e de arrecadação das empresas envolvidas. Parte das informações
poderá ser consultada no portal do governo do estado.
As medidas que serão adotadas vão ao encontro de uma determinação da
3ª Vara de Fazenda Pública do Rio, que proibiu o estado de conceder,
ampliar ou renovar benefícios fiscais ou financeiros até que
apresentasse um estudo sobre as consequências deles no orçamento.
A próxima etapa das apurações, afirma o secretário, detalhará os
incentivos dados por decretos. O relatório já aponta, no entanto,
explicações sobre a divergência de valores considerados pelo estado e
pelo MP e TCE. A diferença de R$ 102 bilhões — valor declarado pelas
empresas no DUB-ICMS (Documento de Utilização de Benefício) entre 2008 e
2013 —, diz o governo, considera não só os benefícios efetivos, mas
também o que o documento chama de montante neutro.
— É uma perspectiva de lançamento de imposto que, na prática, não se
concretiza. Por exemplo, quando se transfere uma máquina para conserto
de um município para outro. Como nada pode viajar sem nota fiscal, o
documento indica uma previsão de tributo. Isso é declarado na base do
DUB-ICMS. Mas o imposto, efetivamente, é zero. O estado lança aquilo e
depois reconhece como um benefício teórico — diz Christino, citando
outros valores incluídos no montante neutro.
O relatório também rebate críticas de que as empresas com benefícios
careceriam de fiscalização. O futuro secretário de Infraestrutura, no
entanto, reconhece que a Companhia de Desenvolvimento Industrial do
Estado do Rio (Codin, uma das responsáveis por essa função) tem uma
estrutura enxuta. E afirma que uma proposta é conveniar outros órgãos do
estado para cooperar no trabalho.
PROIBIÇÃO POR DOIS ANOS
Com a sanção da lei
que proíbe novos incentivos, apenas as empresas enquadradas em isenções
já em vigor permanecem com seus direitos, inclusive com a hipótese de
renovação dos benefícios, desde que aprovados por lei ou pelo Confaz.
Ficam proibidas isenções por decreto.
De autoria dos deputados Luiz Paulo (PSDB), Lucinha (PSDB) e Bruno
Dauaire (PR), a lei apresenta algumas exceções. Não serão impedidos
benefícios a taxistas, para pessoas com deficiência adquirirem veículos
ou incentivos a projetos culturais, esportivos e gastronômicos. Empresas
de pequeno porte também não serão proibidas de receber isenções, assim
como as que tiverem financiamento do Fundo de Fomento ao Microcrédito
Produtivo Orientado para Empreendedores (Fempo).
Fonte: Jornal O Globo
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