Pressionado pelos deputados, o Ministério Público estadual e a
Justiça, o governador Luiz Fernando Pezão recuou na política de isenções
e benefícios fiscais do estado, considerada a vilã dos cofres públicos.
Ele publicou ontem, no Diário Oficial, a lei 7.495/2016 que impede o
governo de conceder, por dois anos, novos incentivos ou benefícios que
resultem em renúncia de receita, novos financiamentos ou investimentos
em empresas que queiram se instalar no estado ou que já estejam
funcionando. A lei entra em vigor em 90 dias.
A partir daí, os procedimentos terão que passar obrigatoriamente pelo
crivo do Parlamento. O Projeto de Lei Orçamentária enviado à Assembleia
Legislativa (Alerj) prevê benefícios projetados para os próximos três
anos no valor de R$ 33 bilhões. Só no ano que vem seriam da ordem de R$
11 bilhões. “Em resumo esses valores podem vir a ser alterados, uma vez
que existem investimentos já previstos, porém, em processo de execução. A
não concretização desses investimentos significará perda de
arrecadação, emprego e esvaziamento da economia”, explicou Nelson
Naibert, especialista em Direito Tributário, que analisou a lei a pedido
do DIA.
Naibert alerta que com a nova legislação, o Rio está fora da guerra
fiscal. Segundo ele, a lei ainda apresenta lacunas, o que pode gerar uma
enxurrada de ações na Justiça. “Há incerteza grande quanto ao
procedimento que será adotado para os processos já em andamento junto
aos órgãos do Executivo”, apontou o tributarista.
Para o especialista, a nova lei parece estancar a sangria dos cofres
públicos, mas submeter todos os procedimentos à Alerj tira a agilidade
dos processos na administração pública. Em outubro, o juiz da 3ª Vara de
Fazenda Pública, Marcelo Martins Evaristo Silva, proibiu o estado de
conceder, ampliar ou renovar benefícios fiscais ou financeiro em favor
de empresas. O pedido foi feito pelo Ministério Público do estado. O
magistrado estabeleceu ainda um prazo de 60 dias contados da intimação, a
relação das sociedades empresariais agraciadas com benefícios fiscais e
financeiros. O juiz pediu ainda que o estado informe o impacto dos
benefícios nos cofres públicos.
Relatórios a cada 6 meses
Para garantir maior transparência com relação às informações sobre os
benefícios fiscais, a nova lei determina que a Secretaria de Estado de
Fazenda crie um órgão para concentrar as informações. Serão feitos
relatórios semestrais, nos meses de janeiro e julho, para analisar se as
empresas cumprem os requisitos exigidos para continuar com os
benefícios fiscais.
Os relatórios produzidos pelo órgão serão encaminhados também para a
Alerj e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE). “Talvez o maior benefício
da lei seja a definição objetiva de maior transparência. Assim
possíveis distorções no emprego dos incentivos fiscais concedidos
poderão ser impedidas”, afirmou o especialista Nelson Naibert.
Se o órgão identificar irregularidades na documentação das empresas, o
benefício pode ser preventivamente suspenso pelo prazo máximo de 60
dias.
Firjan prevê desemprego e fechamento
A nova lei caiu como uma bomba na Federação das Indústrias do Estado
do Rio de Janeiro (Firjan). Em nota, a entidade afirmou que enviou
ofício ao governador Luiz Fernando Pezão para que ele vetasse a proposta
da Assembleia Legislativa.
“O prazo encerrou-se ontem (segunda-feira) e, sem veto, o projeto foi
transformado em lei. Durante visita à Firjan em 23 de outubro, o
governador garantiu que, enquanto estivesse no cargo, haveria
continuidade na concessão de incentivos fiscais”, informou trecho da
nota oficial.
A Firjan alerta que a legislação gera clima de grave insegurança
jurídica. Em pesquisa realizada com 199 indústrias e divulgada
segunda-feira, a federação identificou que, diante da possível suspensão
de incentivos, 89,6% preveem demissões e 52,6% encerrarão as atividades
no estado. Entre as que indicam suspender as operações, 60% se
instalariam em outros estados. Sustenta que a política de incentivos
imprescindível para os investimentos e já atraiu centenas de indústrias.
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