Os
deputados estaduais do Rio aprovaram ontem duas emendas ao projeto de
privatização da Cedae – estatal fluminense de saneamento, cuja
privatização havia sido autorizada pela Assembleia Legislativa na
segunda-feira. A primeira emenda obriga o Estado a usar os R$ 3,5
bilhões que serão tomados como empréstimo, tendo a es- tatal como
garantia, para quitar salários atrasados dos servidores. A segunda
obriga a Cedae, qualquer que seja o modelo de privatização, a manter a
tarifa social, sem subsídios do Estado.
A
venda da Cedae é ponto fundamental dentro do pacote de auxílio
financeiro ao governo do Rio negociado com a União. Mas há um ponto a
ser driblado: a legislação proíbe que despesas correntes, como o
pagamento de salários, sejam financiadas com empréstimos. Uma fonte do
governo federal explica, no entanto, que “o dinheiro não tem carimbo”.
Assim, o Estado poderá usar o financiamento para pagar ou- tras dívidas,
como as parcelas de empréstimos com organismos multilaterais, liberando
o caixa estadual para honrar os salários dos servidores.
Três
emendas que seriam votadas ontem, propostas pelas bancadas do PT e do
PDT, foram retiradas por decisão dos próprios deputados proponentes. O
governo usou sua base, sob o comando do presidente da Assembleia
Legislativa, Jorge Picciani (PMDB), para rejeitar as demais, algumas com
votação nominal, demonstrando a força da recomposição do apoio a Pezão
na Casa. Desde o início do ano, o governo vem distribuindo cargos a
deputados e seus parentes, como mos- trou reportagem de ontem da rádio
CBN.
Recurso. A oposição informou que
recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF), alegando que a privatização
é inconstitucional. “A privatização foi feita a portas fechadas, não
houve debate público”, afirmou o deputado Flávio Serafini (PSOL), que
classificou de “escândalo” a “troca de cargos por apoio parlamentar”.
Houve manifestação de servidores na frente da Alerj, mas menor que as do
início do mês e sem confrontos.
As demais
contrapartidas exigidas pelo Ministério da Fazenda dentro do plano de
recuperação fiscal, como a elevação da contribuição previdenciária dos
servidores e o congelamento de salários, ficarão para depois, confirmou
ontem o secretário estadual da Casa Civil, Christino Áureo.
“Importante
é a construção dessa ponte que nos permita regularizar o fluxo de
pagamentos dos servidores”, disse o secretário, referindo-se aos em-
préstimos de R$ 3,5 bilhões.
Salários. O
plano é o mesmo descrito, nos dois últimos dias, por Picciani e outros
deputados da base. A ideia é, com os empréstimos, quitar o 13.º salário e
os vencimentos regulares dos servidores em dia. Na última sexta-feira, o
governo anunciou que terminará de pagar os salários de janeiro somente
em 15 de março, após parcelamento em seis prestações. Com a
regularização dos salários, haveria clima político para aprovar outras
medidas de contrapartida, principalmente as que afetam os funcionários
públicos, como a elevação da contribuição previdenciária.
A
folha de pagamentos do Estado do Rio varia de R$ 2,1 bilhões a R$ 2,2
bilhões ao mês, incluindo ativos e inativos. Além dos R$ 3,5 bilhões,
Pezão já tem autorização para levantar mais R$ 1 bilhão lastreado em
royalties do petróleo. Embora os valores somados cheguem a apenas dois
meses de folha de salários, Áureo afirmou que os recursos serão
importantes para regularizar as contas. Além disso, o plano de
recuperação fiscal proposto pelo governo federal prevê alívio de cerca
de R$ 10 bilhões ao ano com gastos de dívidas com a União, impedindo
bloqueios das contas.
O problema é que a
autorização final para tomar mais crédito depende de mudanças na Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF), que impõe limites de endividamento. O
plano do governo federal é mandar à Câmara dos Deputados um projeto
alterando a LRF. O Rio pediu ao Supremo Tribunal Federal a antecipação
do plano de recuperação, mas uma decisão não será tomada antes de uma
audiência em meados de março. Sem uma liminar, a saída é esperar a
aprovação final no Congresso.
Fonte: O Estado de S. Paulo