A decisão do presidente Michel Temer de retirar os servidores
públicos estaduais e municipais da reforma da Previdência provocou uma
espécie de “vale tudo” para escapar das mudanças nas regras de acesso à
aposentadoria e pensões. Na reta final da apresentação do relatório da
proposta, na Câmara dos Deputados, a pressão de diversas categorias para
ficarem fora das mudanças ou, ao menos, obterem regras mais suaves só
aumentou, e ameaça desfigurar ainda mais o texto da Proposta de Emenda à
Constituição (PEC).
Entre as categorias que mais têm feito pressão estão os
policiais federais, juízes e procuradores, os professores e os
servidores públicos federais. O governo, porém, garante que as mudanças
que tinham de ser feitas já foram definidas.
A grande quantidade de emendas ao texto original – 164 – mostra
que a lista de categorias insatisfeitas é relevante. Trabalhadores
rurais e profissionais de atividades com riscos de insalubridade, como
mineradores, por exemplo, batalham para manter as regras atuais de
aposentadoria, que exigem idade menor do que a proposta da reforma e
menos tempo de contribuição.
O anúncio feito na semana passada de que servidores estaduais e
municipais estariam fora das novas regras provocou disparidades e deu
fôlego às pressões, com discussões sobre isonomia constitucional.
Um professor de universidade federal, por exemplo, só poderá se
aposentar aos 65 anos na nova regra geral. Mas um docente de uma
universidade estadual poderá ter uma regra mais branda, a depender da
reforma que aquele Estado fizer.
Para o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais
(Fenapef), Luís Boudens, o governo terá de descobrir um malabarismo
jurídico para fazer com que as regras para policiais civis estaduais e
guardas municipais sejam diferentes do regime dos policiais federais,
rodoviários e agentes penitenciários.
“Essas forças de segurança pública estão regidas pelo mesmo
artigo na Constituição, e devem seguir o mesmo ordenamento. É impossível
separar as categorias sem alterar de maneira contundente o texto
constitucional”, diz Boudens.
A União dos Policiais do Brasil, que reúne várias associações de
trabalhadores da segurança pública, se reunirá novamente na terça-feira
para aumentar a pressão sobre o governo. “Haverá novas manifestações e
já há um grupo grande falando em greve”, alerta Boudens.
Outro grupo que fala em paralisar as atividades são as entidades
filantrópicas de saúde, educação e assistência social. Atualmente,
essas instituições não recolhem a cota patronal das contribuições
previdenciárias dos empregados, mas correm o risco de perder essa
isenção.
O presidente do Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas
(Fonif), Custódio Pereira, afirma que esses hospitais, faculdades e
entidades assistenciais simplesmente deixarão de conceder bolsas e
realizar o atendimento gratuito à população.
“São as filantrópicas que levam esses serviços às pessoas mais
pobres que o Estado não consegue alcançar. São essas entidades que têm
as melhores notas no MEC, que são responsáveis por 60% dos atendimentos
do SUS e executam 62,7% dos serviços de assistência social no País”,
alega.
‘Dizer não’. No governo, porém, a ordem é não ceder em nenhum
ponto e manter a exigência à base aliada no Congresso para que a reforma
dê o mesmo tratamento a todos os trabalhadores da iniciativa privada e
servidores federais, incluindo políticos.
“Nosso objetivo é uniformizar as regras. Se houver pressão,
teremos de falar não”, afirma o secretário de Acompanhamento Econômico
do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida.
Para ele, a retirada dos servidores estaduais e municipais da
reforma não abre caminho para novas exceções no âmbito federal. Faz
justamente o contrário, joga a responsabilidade para que Estados e
municípios aprovem também as suas reformas.
“Os governos regionais não poderão aprovar regras mais brandas
porque precisam ajustar suas contas e o governo federal não poderá
bancar mais rombos dos entes federativos. E o prazo é curto, porque os
Estados voltarão a pagar o serviço cheio de suas dívidas com a União na
metade de 2018”, lembra, fazendo referência ao acordo que deu aos
Estados um prazo para o pagamento de parcelas menores de seus débitos
com o governo federal.
Fonte: Joral O Estado de S. Paulo
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