A incapacidade do governador Luiz Fernando Pezão de controlar a
explosão da violência e socorrer a saúde diante do caos das finanças,
aliada à omissão do presidente Michel Temer em ajudar a solucionar a
crise no estado, mobilizou a bancada de deputados federais do Rio. Eles
querem forçar a intervenção federal.
De imediato, os
parlamentares defendem que a União passe a gerir as áreas da Saúde e
Segurança Pública. O pedido será feito ao procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, em reunião prevista para ocorrer na quarta-feira.
Para
o encontro, os deputados prepararam um documento que será entregue com
os principais problemas nessas duas áreas consideradas mais críticas.
Entre eles estão o aumento dos crimes violentos, como homicídio, e a
falta de investimento do Fundo Estadual de Saúde na pasta, estimada em
torno de R$ 1,3 bilhão, como denunciou o Ministério Público Federal
(MPF).
“Cinco deputados já assinaram. Disponibilizamos o documento
para os 46 parlamentares da bancada e pedimos para o Janot nos receber
quarta-feira”, revelou o deputado Hugo Leal (PSB- RJ).
Mas o
caminho para a intervenção federal é longo. Primeiro, Janot analisa o
pedido com base na Constituição Federal que prevê a medida em casos de
grave comprometimento da ordem pública; reorganização das finanças e
falta de garantias dos direitos da pessoa humana, como argumentam os
deputados.
“Depois, o pedido é encaminhado ao Supremo
Tribunal Federal. Por ser uma questão gravíssima, acredito que a votação
aconteceria apenas no pleno, formado por onze ministros”, explicou
Manoel Messias Peixinho, professor da PUC e doutor em Direito.
Segundo Peixinho, se o Supremo aprovar o pedido, a decisão
judicial é encaminhada ao presidente Michel Temer para que seja feito o
decreto de intervenção. “Como os casos são em áreas específicas como a
Saúde e a Segurança Pública, seriam nomeados os interventores para essas
pastas”, afirmou.
A partir daí, o estado perde o poder de
gestão. “Os interventores farão relatórios sobre a situação das
secretarias e os recursos necessários para que volte à situação de
normalidade. A intervenção só termina quando os problemas são
solucionados.”
“O projeto das Unidades de Polícia Pacificadora
(UPPs) faliu, o número de policiais da Força Nacional disponibilizado
para o Rio é pífio, então não há outra opção. É preciso intervenção”,
avaliou o deputado Marcelo Delaroli (PR-RJ). Procurado, o governo do
estado informou que não quis se pronunciar.
Ontem, segundo a Secretaria Municipal de Educação,
Esportes e Lazer 5,2 mil crianças da região região dos complexos da
Penha e do Alemão e da Zona portuária ficaram sem aula devido a
tiroteios na região. Na quinta, bases de UPPs na área do Alemão foram
atacadas e confrontos após operação do Bope na região deixaram cinco
mortos.
Para o deputado Alexandre Valle (PR-RJ), o
governo não tem mais condições de administrar áreas que impactam a vida
da população. “O Rio vive uma guerra urbana. O governo federal precisa
intervir”, analisou.
OAB quer afastamento de Pezão e Dornelles também está na mira
Em
outra frente, a Ordem dos Advogados do Brasil do Rio (OAB_RJ) quer o
afastamento do governador Pezão. No dia 18, os membros do Conselho vão
decidir se pedem o impeachment só de Pezão ou também do vice Francisco
Dornelles na Assembleia Legislativa (Alerj).
Eles também vão
requerer a intervenção federal na Procuradoria-Geral da República ou
entrar com ação de improbidade administrativa com pedido de afastamento
de Pezão na Justiça.
O afastamento por corrupção de seis dos
sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE) também motivou o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a pedir ao Supremo a
intervenção na Corte. Por enquanto, o ministro Luiz Fux decidiu que a
Constituição não restringe a escolha de auditores para substituírem
membros titulares de tribunais de contas, em caso de afastamento.
Em
2005, a Prefeitura do Rio sofreu uma polêmica intervenção na área da
saúde. Tudo começou quando o município, no final de fevereiro daquele
ano, suspendeu o atendimento de emergência nos hospitais Cardoso Fontes e
Andaraí sob alegação de que os recursos repassados pelo Ministério da
Saúde eram insuficientes para a manutenção das unidades.
O
governo federal decretou estado de calamidade pública. A intervenção
atingiu os hospitais da Lagoa, Andaraí, Jacarepaguá, Ipanema, Souza
Aguiar e Miguel Couto.
Dois hospitais de campanha, da Marinha e
da Aeronáutica, foram montados para desafogar o atendimento. Um mês
depois, os ministros Supremo consideraram, por unanimidade,
inconstitucional a intervenção do governo federal nos hospitais
municipais Souza Aguiar e Miguel Couto.
Fonte: Jornal O Dia
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