Com o orçamento engessado por gastos obrigatórios, sobretudo
com a folha de pagamento, alguns órgãos do Legislativo e do Judiciário
têm enfrentado dificuldades para fazer os ajustes necessários para
cumprir o teto de gastos. Entre janeiro e maio, três órgãos estouraram o
limite de crescimento de 7,2% das despesas previsto para 2017: Tribunal
de Contas da União (TCU), com alta de 12,4% nas despesas; Defensoria
Pública da União (DPU), com expansão de 19,6%, e Câmara dos Deputados,
com aumento de 9,9%. Os órgãos dizem que o descontrole é reversível e
será ajustado até o fim do ano. Mas, caso isso não ocorra, a conta vai
recair sobre o governo federal que, por sua vez, está tendo dificuldades
para cumprir a meta fiscal deste ano, de um déficit de R$ 139 bilhões.
A
lei de teto de gastos, promulgada no fim do ano passado, prevê que as
despesas totais dos Três Poderes só podem crescer no mesmo patamar da
inflação do ano anterior. Até 2019, está previsto que o Executivo
compense eventuais desrespeitos ao teto por outros poderes. Para este
ano, o limite é de 7,2%. E, para 2018, o aperto será ainda maior. Com a
forte queda da inflação, os gastos terão um limite de expansão menor.
Hoje, será divulgado o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
usado nas metas de inflação, de junho. O resultado acumulado em 12 meses
do IPCA até junho que, estima-se, ficará em 3%, será o parâmetro para
os gastos públicos do ano que vem.
CONTAS AJUSTADAS ATÉ 2020
Fontes
do governo receiam que a possibilidade de o Executivo compensar os
gastos de outros poderes até 2019, prevista na lei de teto de gastos,
tenha deixado espaço para que alguns órgãos sejam mais frouxos na gestão
de suas despesas e empurrem uma bola de neve para 2020. A partir desse
ano, a lei não permitirá mais que a compensação seja utilizada, e todos
os poderes terão que entregar as contas ajustadas.
Pela
regra, os órgãos terão que apresentar, no fim de 2020, um crescimento
dos gastos que seja menor ou equivalente à inflação acumulada desde
2016. Ou seja, a cada ano em que o teto é estourado, mais difícil ficará
de cumpri-lo quando a compensação não for mais permitida.
De
janeiro a maio de 2017, os gastos totais dos Três Poderes sujeitos ao
novo regime fiscal ficaram controlados e cresceram 5,4%, num total de R$
484,3 bilhões. O Executivo, no entanto, precisou manter o crescimento
num nível baixo para compensar o desempenho de outros poderes. As
despesas do Legislativo, por exemplo, cresceram 8,6% entre janeiro e
maio. A Defensoria Pública da União (DPU), considerada à parte do
Judiciário na tabela do Tesouro Nacional, teve um salto de 19,6%.
A
dificuldade em manter o controle tem nome: gastos com pessoal. O GLOBO
procurou os três órgãos que, de janeiro a maio, desrespeitaram o teto de
gastos, segundo relatório fiscal divulgado pelo Tesouro Nacional: DPU,
Tribunal de Contas da União (TCU) e Câmara dos Deputados. Eles apontam o
crescimento da folha e os recentes reajustes salariais como os
principais pesos no orçamento, difíceis de serem controlados.
A
Câmara garantiu que, a partir de junho, o avanço das despesas começará a
ser reduzido. O órgão legislativo estima que, no fechamento do
semestre, o avanço em relação às despesas de 2016 terá sido de 6,68%.
Abaixo do teto, portanto. Até maio, as despesas haviam crescido 9,9%.
Segundo a assessoria de imprensa da Câmara, a alta nos primeiros meses
do ano foi consequência de “peculiaridades na execução da despesa nos
primeiros cinco meses de cada exercício”.
A DPU explica
que está comprometida em cumprir rigorosamente a dotação orçamentária
prevista para o órgão. O problema é que algumas previsões foram feitas
antes da sanção da lei do teto e não necessariamente respeitam o
crescimento das despesas previsto na norma. Até maio, a DPU teve um
crescimento dos gastos de 19,6%.
“Justamente em virtude
de já haver sido aprovado o orçamento de 2017 à época, o próprio regime
do teto prevê constitucionalmente que ao longo de três anos (2017-2019)
haverá um sistema de compensação de gastos pelo Poder Executivo”,
pondera a DPU.
O TCU teve um crescimento de 12,4% nas
despesas até maio e ressalta que há realidades financeiras distintas nos
primeiros meses de 2016 e de 2017, sobretudo por causa do reajuste de
pessoal aprovado para os servidores do órgão. O aumento só começou a
entrar na conta em agosto do ano passado, mas afetará toda a folha de
2017. Além disso, as despesas de pessoal e encargos sociais apresentam
uma alta nos primeiros meses do ano, que decorrem do grande número de
pedidos de férias (antecipação do 13º, antecipação de férias e abono
constitucional).
O PESO DO GASTO OBRIGATÓRIO
A
assessoria de imprensa do tribunal destaca que, mesmo com essa
realidade, está dentro dos limites da dotação orçamentária e “está
observando o teto de gastos estabelecido pela EC nº 95, de 2016, tendo
sido realizados até maio pagamentos que correspondem a 39,19% do total
limite do teto de gastos de 2017, não computando-se o adicional de
limite financeiro concedido pelo Poder Executivo”.
O
especialista em contas públicas Raul Velloso ressalta que a necessidade
de um tempo maior para que os órgãos dos demais poderes se ajustem ao
teto é justa. Isso porque as despesas desses órgãos são compostas
basicamente de pessoal. Ele ressalta, no entanto, que isso não pode
virar um estímulo para que alguns órgãos optem por um ajuste mais leve
das contas.
— Os outros poderes estão ganhando um tempo
para fazer ajustes porque, para eles, o peso do gasto obrigatório é
maior do que no Executivo. Em geral, é uma despesa rígida, porque é
basicamente pessoal. Diferentemente do Executivo, que, bem ou mal, tem
investimentos, que ele pode zerar. Uma possibilidade é que isso vire um
estímulo para mandar “pau na máquina” e deixar o problema para quem
estiver lá em 2020.
O GLOBO questionou aos órgãos as
providências que estão sendo tomadas para controlar as contas. A DPU
disse que a instituição já adotou diversas medidas de economia, como
suspensão da instalação de novas unidades, redução progressiva de
contratos de terceirização e vagas de estágio e dispensa de servidores
requisitados a outros órgãos. O TCU e a Câmara não deram detalhes sobre
essa questão.
Fonte: Jornal Extra
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