Deputados estaduais do Rio de Janeiro podem apresentar emendas
até depois do Carnaval à Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
estadual que divide o Tribunal de Contas do Estado em dois, com
atribuições idênticas em áreas distintas: um para examinar as contas do
governo estadual e outro para as 91 prefeituras municipais fluminenses.
A PEC surgiu na Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia
Legislativa que apura denúncias de corrupção no Tribunal de Contas do
Estado (TCE), envolvendo três dos sete conselheiros e diversos
funcionários, num esquema de propinas para aprovar as contas das
administrações municipais.
As denúncias atingem o ex-presidente do tribunal, José Gomes Graciosa,
cujo patrimônio cresceu de R$ 660 mil, declarados em 2000, para R$ 3
milhões, em 2008, e hoje estaria em torno de R$ 6 milhões. Outros dois
conselheiros, além de funcionários, também são citados nas denúncias à
CPI presidida pela deputada Cidinha Campos (PDT).
A comissão deveria encerrar os trabalhos no fim do ano passado, mas
teve seus trabalhos prorrogados por mais dois meses, com base no volume
de dados apurados pela Polícia Federal para o indiciamento dos
acusados. Com experiência na CPI da Previdência quando teve mandato
federal, em Brasília, a deputada é categórica.
“Eu levei três anos para fazer a CPI da Previdência e só por isto
consegui botar 14 na cadeia, sendo que alguns condenados a 15 anos",
declarou. "Eu não vou terminar o meu trabalho enquanto não botar esses
malandros no xadrez”, acrescentou, lembrando decisão do Supremo
Tribunal Federal que possibilita a ação de uma CPI por toda uma
legislatura de quatro anos.
Relator da CPI, o democrata João Pedro acompanha à distância a
tramitação da PEC que cria o Tribunal Estadual de Contas dos Municípios
(TECM) e adverte que “um erro não pode levar a outro”. Para ele, o fato
de haver desvio de conduta não é argumento para a criação de um segundo
tribunal.
“Dizem que não haverá mais gastos, porque o tribunal atual será
dividido em dois, mas não é verdade, porque ele vai precisar de
estrutura física e material que não virão do atual TCE", disse o
deputado do DEM. "Para a população, não será uma medida saneadora, ela
vai enxergar como a criação de mais um cabide de empregos.”
A mesma linha de raciocínio segue a Associação dos Servidores do
TCE-RJ. O presidente da entidade, Luiz Marcelo Magalhães, lembra que o
ex-governador Moreira Franco (1987-1990) criou um Conselho de Contas,
extinto pelo sucessor Leonel Brizola, “mas que gerou até hoje despesa
de mais de R$ 30 milhões em salários aos conselheiros vitalícios e em
pensões de familiares dos que já morreram”.
A associação reconhece como legítimas as denúncias, algumas das quais
oferecidas sob anonimato por funcionários do tribunal, segundo a
deputada Cidinha Campos. Mas Luiz Marcelo defende uma depuração no TCE
e o estabelecimento de novos critérios para a escolha dos sete
conselheiros. Atualmente, quatro são indicados pelo Legislativo e três
pelo Executivo.
“Não é por acaso que 12 tribunais de contas estão sob investigação em
todo o país, inclusive o do Distrito Federal”, argumenta o
representante dos funcionários. “Muitos vícios vêm da prática política,
o conselheiro toma posse, mas a cabeça continua na política. Podemos
adotar o critério do concurso público para o preenchimento dos cargos,
ou a indicação de representantes do Ministério Público ou mesmo dos
servidores do quadro. Ou ainda aproveitar todos esses critérios
juntamente com a nomeação política do Legislativo e do Executivo.”
A emenda constitucional recebeu a assinatura de 25 dos 70 deputados,
até a abertura do prazo para emendas, e irá à votação no plenário no
mês que vem. Para ser aprovada, ela terá de passar por dois turnos, com
42 votos em cada, o que pode ser mais difícil do que imaginam os cinco
deputados que a subscrevem, mesmo com apoio público do presidente da
Assembleia Legislativa, Jorge Picciani (PMDB).
“Tudo vai depender de como a opinião pública vai reagir à ideia.
Afinal, a criação do novo tribunal repete os erros do TCE e, ao invés
de resolver, vai criar condições para a repetição dos mesmos desvios”,
opina o petista Alessandro Molon.
Molon presidiu a Comissão Processante instalada por pouco tempo para
determinar o afastamento de conselheiros do tribunal sob investigação.
A comissão foi considerada inconstitucional por iniciativa do órgão de
classe dos conselheiros de tribunais de contas junto à Justiça, em
Brasília.
Essa notícia foi publicado na terça-feira, 16 de fevereiro de 2010, e pode ser encontrado neste link do jornal Correio Braziliense.