A biografia "Biscaia", assinada pelo ex-deputato federal e ex-procurador de Justiça Antonio Carlos Biscaia e pelo jornalista Marcelo Auler, conta em detalhes aquele que seria um dos diálogos mais descarados entre duas autoridades no Estado do Rio de Janeiro.
Biscaia era o procurador geral de Justiça quando a polícia, ao estourar uma fortaleza do bicheiro Castor de Andrade, em Bangu, achou uma lista com os nomes de políticos, policiais e até artistas que recebiam dinheiro do jogo do bicho.
Conta o moço que, tão logo a notícia se espalhou, recebeu, no telefone vermelho - uma linha direta só usada por autoridades - uma ligação do então presidente da Assembléia, José Nader (PDT), Nader pedia para ser recebido por Biscaia.
E menos de meia hora o pedetista dava o seu recado, dizendo falar em nome do deputado Parid Abrão David, irmão de Anísio, e da cúpula do bicho, o moço teria dito, sem rodeios: "Estou preocupado com esse inquérito. Quanto o senhor quer para acabar com isso"?
Biscaia diz que tentou pôr o deputado para fora de sua sala, mas o moço não teria se intimidado: "Calma, doutor. Todo mundo leva. Todo governo leva. Só o senhor que não leva!".
O diálogo descrito no livro fica ainda mais impressionante quando o presidente da ALERJ cita o valor. "É um milhão de dólares. Nós botamos isso lá fora".
E complementa: "Só retiro a minha parte, de 10%".
Biscaia conta que, assim que conseguiu expulsar Nader, reuniu seus assessores e planejou chamar os jornalistas para contar o que acabara de acontecer.
Mas se deu conta de que não havia provas de que o diálogo ocorrera e preferiu ficar calado.
Na época da chamada Lista do Bicho, havia boatos sobre uma tentativa de corrupção. Mas a história só foi contada agora, 21 anos depois.
Da Assembléia, Nader foi para o Tribunal de Contas e lá se aposentou. Biscaia se elegeu deputado federal e chegou a secretário nacional de segurança. Para visualizar o PDF da coluna no jornal Extra, clique aqui
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