Brasília - O
setor da Advocacia-Geral da União (AGU) que fechou acordo com o senador
cassado Luiz Estevão para reaver R$ 468 milhões do Fórum Trabalhista de
São Paulo tenta recuperar mais de R$ 6,5 bilhões em outros casos de
desvios e danos a bens públicos. Levantamento feito pelo GLOBO no
Departamento de Patrimônio e Probidade, com dados dos últimos três anos,
mostra que foram ajuizadas 8,8 mil ações, e retornaram aos cofres
federais R$ 1,1 bilhão.
A
meta do departamento até 2016 é garantir uma taxa de retorno de 25%. Em
tese, isso significaria reaver R$ 25 de cada R$ 100 desviados e
cobrados judicialmente. Na prática, porém, os cálculos são mais
complexos. De qualquer forma, a taxa de retorno vem crescendo: até 2005,
era inferior a 1%; em 2010, chegou a 6,93%; e, em 2011, a 15,39%.
O
departamento funciona como braço jurídico do Tribunal de Contas da
União (TCU). Uma de suas tarefas é buscar, na Justiça, o ressarcimento
de desvios apontados pelo tribunal. A Controladoria-Geral da União (CGU)
também envia diretamente à AGU investigações que apontem desvios
superiores a R$ 500 mil.
São 127 advogados espalhados pelo país. A
procuradora-geral da União, Helia Bettero, acredita que os resultados
da equipe já começam a incomodar corruptos e criminosos:
— Dentro
do nosso país, tem o ralo da corrupção, do dinheiro que vai por água
abaixo. À medida que crescemos, encontramos essa rede, que é invisível,
mas existe.
O procurador do Ministério Público junto ao TCU
Marinus Marsico, considerou o acordo com o Grupo OK “um grande negócio”
para a administração pública, mas critica a legislação brasileira
anticorrupção:
— Temos leis absurdas, que foram feitas para não
condenar e, muito menos, para executar o patrimônio de alguém. Qualquer
advogado mediano consegue prolongar qualquer processo por muitos anos.
Um
relatório do Ministério Público junto ao TCU revela como a cobrança
judicial é necessária, já que a maioria dos condenados ignora as
cobranças administrativas.
Em 2011, as condenações do TCU
resultaram em R$ 1,48 bilhão em multas e débitos. Mas só R$ 19,7 milhões
— ou ínfimos 1,3% — foram pagos pela via administrativa, sem a cobrança
judicial. A maior parte desse valor, R$ 800 milhões, envolvia processos
da administração pública direta, isto é, o conjunto de ministérios.
Das
2.343 ações de 2011, o departamento da AGU ajuizou 1.699, sendo 837 de
execução de débitos do TCU, 176 de improbidade administrativa e 686
ambientais, patrimoniais e correlatas. Estas últimas envolvem o maior
valor total: R$ 1 bilhão.
Acordos são considerados como o melhor caminho
O
diretor do Departamento de Patrimônio e Probidade da AGU, André
Mendonça, defende a busca de acordos como o negociado com o Grupo OK.
Segundo ele, uma das dificuldades para reaver dinheiro público desviado é
o tempo decorrido entre o ato de corrupção, sua investigação pelos
órgãos de controle e o posterior envio do caso para a AGU acionar a
Justiça. Some-se a isso, diz, a estratégia dos corruptos de usarem
laranjas para esconder o patrimônio.
Mendonça critica a legislação, afirmando que, nas ações de improbidade, chegam a ser proibidos acordos. Mas se mantém otimista:
—
Em 2011, fizemos 800 acordos. É bom para a União, para os cofres
públicos, para o devedor e para a sociedade. Estamos na linha do
Primeiro Mundo: o objetivo principal é o ressarcimento. Afetando o
bolso, você desarticula e desestimula.
O diretor-executivo da ONG
Transparência Brasil, Claudio Abramo, ressalvou desconhecer os termos da
negociação com o Grupo OK, mas considerou o prazo de oito anos longo
demais. Para ele, isso seria reflexo da lentidão da Justiça:
— Que
justificativa existe para dar um prazo tão prolongado? O sujeito foi
julgado culpado, a empresa foi responsabilizada, já transitou em
julgado. O que se pode imaginar é que o Grupo OK ficou ameaçando entrar
com recursos na Justiça.
O desvio das obras do Fórum Trabalhista
de São Paulo, em 1992, somava à época R$ 169 milhões. A dívida do grupo
hoje ultrapassa R$ 900 milhões. Pelo acordo, o Grupo OK pagará uma
parcela inicial de R$ 80 milhões e, ao longo de oito anos, 96 prestações
mensais de R$ 4,1 milhões. Em troca, a empresa poderá retomar o
controle de parte dos imóveis. Outra parcela da dívida, no valor de R$
542 milhões, continua em discussão na Justiça.
Para ler a notícia diretamente no site O Globo clique aqui.
|