A Primeira Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social
(Consocial), realizada em maio deste ano, em Brasília, despertou a
sociedade para a necessidade de mudanças que promovam o fortalecimento
das instituições de Estado. O evento reuniu mais de 1,2 mil
participantes em Brasília, incumbidos de selecionar as 80 diretrizes que
serão encaminhadas às diversas instâncias de Poder.
Com 970 votos, a proposta recordista diz respeito ao financiamento
público oficial de campanha, questão fundamental para a cidadania e que
está na agenda de prioridade do Movimento de Combate à Corrupção
Eleitoral (MCCE) e de diversas organizações da sociedade civil
brasileira.
Outra proposta importante, com 385 votos, é a que prevê a fixação de
critérios para indicação de ministros do Supremo Tribunal Federal, do
Tribunal de Contas da União e do Procurador-Geral da República, e seus
correspondentes na esfera estadual, de forma a afastar a
discricionariedade exagerada exercida pelo Chefe do Poder Executivo
nessas nomeações. A importância dessa proposta é indiscutível. Os órgãos
de controle devem ser independentes e apartidários, para que sejam, de
fato, instituições de Estado e não instituições de Governo.
A proposta constitui uma das “missões” do próximo presidente do STF,
ministro Joaquim Barbosa. Ao assumir a Corte Suprema em novembro, o
ministro quer abrir a discussão com a presidente Dilma Rousseff sobre os
critérios de nomeação dos próximos ministros da corte. “Ele diz que
está "extremamente preocupado" com as substituições Carlos Ayres Britto,
Cezar Peluso e Celso de Mello, que se aposentam em breve”, conforme
declarou à entrevista do Jornal Folha de São Paulo, de 30 de agosto de
2012.
De acordo com a matéria, Barbosa disse que “vai propor a Dilma a
indicação de nomes "de fora desse microcosmo de Brasília, desse mundinho
em que ministros vêm sendo escolhidos ultimamente". Defende que os
indicados para o Supremo sejam "desvinculados dos interesses da máquina
estatal e dos interesses privados" de grandes bancas de advocacia”.
O futuro presidente do STF também declarou ter uma lista de "pelo menos
dez grandes nomes, grandes juristas, professores devotados ao interesse
público e com visão de Estado que ele pode sugerir. Mas, ainda segundo o
ministro, "o importante não são os nomes e sim os critérios da escolha,
com uma consulta completa, ampla e de alto nível."
Entidades como as Associações Nacionais dos Auditores de Controle
Externo dos Tribunais de Contas do Brasil (ANTC) e do Ministério Público
de Contas (AMPCON) também defendem a fixação de critérios de alto nível
para indicação e escolha de ministros do TCU e conselheiros dos 33
Tribunais de Contas dos Estados e Municípios.
Em conjunto com a Voz do Cidadão, essas Associações Nacionais defendem a
aprovação de uma proposta de emenda constitucional, conhecida como “PEC
do Padrão Mínimo” dos Tribunais de Contas, visando criar as condições
para edição da lei orgânica nacional e do código de processo de contas.
Além de definir os critérios de indicação dos membros dos Tribunais de
Contas, essas leis de caráter nacional devem garantir, por exemplo, a
independência funcional do Auditor de Controle Externo concursado e
proibir o exercício das auditorias governamentais por “apadrinhados
políticos”, muitos ocupantes de cargos em comissão (sem concurso
público), servidores cedidos do Poder Executivo e até mesmo agentes
terceirizados. A ação de controle externo que pode resultar, de acordo
com a Lei da Ficha Limpa, na inelegibilidade do gestor público por até 8
anos não pode ser tratada com tamanho descaso pelo Poder Público.
Essa não é uma questão meramente corporativa, como os mais apressados
tendem a qualificar, mas sim uma questão de Estado. As fiscalizações e
as auditorias governamentais constituem atividades típicas de Estado que
não podem, de forma alguma, ser realizadas por agentes não-concursados
para o cargo de Auditor de Controle Externo, como ocorre em vários
Tribunais de Contas estaduais e municipais. O ingresso pela via do
concurso público é essencial para que os Auditores possam realizar as
fiscalizações de forma técnica, livres de ingerências de qualquer
espécie ou represálias, ainda que tenham de contrariar interesses de
detentores do poder econômico ou político.
Recentemente, a ideia já foi apresentada e discutida em audiência
pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal,
despertando a atenção dos Senadores presentes. O próximo debate
ocorrerá em breve na Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania da
Câmara dos Deputados a pedido dos presidente e vice da própria
Comissão.
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