A Justiça Eleitoral do Rio identificou indícios de uso da máquina
pública em Itaboraí, São Gonçalo, Niterói, Caxias, Nova Iguaçu e São
Francisco de Itabapoana. Na última quinta-feira, a Corte indeferiu, por
unanimidade, o registro do candidato Márcio Panisset (PDT) à prefeitura
de Itaboraí por entender que ele se beneficiou das obras do vizinho São
Gonçalo, administrado por Aparecida Panisset, que é sua irmã. É também
em Itaboraí que a Polícia Federal instaurou inquérito para apurar a
suposta utilização de veículo da prefeitura na campanha do candidato à
reeleição e atual prefeito Sérgio Soares (PP).
— Estou
requisitando os contratos de aluguel dos carros da prefeitura. Tudo está
sendo enviado para o Ministério Público Eleitoral. Ao final saberemos
se houve abuso de poder político e econômico — explicou Marcelo Villas,
juiz da 151ª Zona Eleitoral de Itaboraí.
Carona nas obras
Em
São Gonçalo, a juíza eleitoral Rhohemara Arce Marques trava uma luta
inglória para retirar faixas de um suposto agradecimento de moradores à
prefeitura por obras, geralmente, recapeamento de asfalto. As faixas têm
os mesmos dizeres e tipologia nas letras.
— É difícil descobrir
quem realmente pôs a faixa. O que nos causa estranheza é que são os
mesmos dizeres, o mesmo padrão, em locais distantes um dos outros —
explicou a juíza, lembrando que a prefeita não tenta a reeleição, mas
todos sabem que ela apoia um candidato.
Propagandas eleitorais ao
lado de obras públicas nas cidades de Niterói e de Caxias são cenas
comuns. A Promotoria Eleitoral de Niterói conseguiu que o TRE decidisse
pela retirada de placas e cartazes com propaganda da prefeitura. O
prefeito Jorge Roberto (PDT) chegou a ser intimado a retirá-los, mas não
acatou a ordem. Foram identificadas pelo menos 27 placas em obras
encerradas ou em andamento, além de anúncios sobre futuras
pavimentações, porém sem informações essenciais, como finalidade, custo
ou prazo de conclusão. A promotora Ana Cristina Barra entendeu que houve
uso da máquina administrativa com fins eleitorais, apesar de Jorge
Roberto não ser candidato à reeleição.
O barraqueiro Raimundo
Alves de Oliveira, morador de Caxias, lembra que as obras de
macrodrenagem e instalação de galerias pluviais na Avenida Presidente
Kennedy, em Gramacho, do governo do estado, ficaram paradas há mais de
um ano, sendo retomadas há dois meses, véspera das eleições.
Um
dos candidatos à prefeitura que tem placa colada ao canteiro de obras,
Washington Reis (PMDB), que concorre a um cargo eleitoral pela nona vez
no município, nega que vem tirando vantagem da macrodrenagem:
—
Essa denúncia não procede. Além disso, essas obras, na realidade, acabam
tirando votos. Antes de ficar pronta, ela só traz engarrafamentos e
muita poeira .
Coação de funcionários
A
128ª Promotoria Eleitoral de Caxias, na última quarta-feira, entrou com
uma ação de investigação judicial eleitoral contra o prefeito e
candidato à reeleição José Camilo Zito (PP); seu vice, Jorge Amorelli
(PSDC); e a candidata a vereadora Roberta Barreto, com objetivo de
apurar se houve abuso do poder político. De acordo com a ação, baseada
no depoimento de uma testemunha, funcionários da Secretaria de Educação
foram coagidos a ir a reuniões no horário de expediente, de campanhas do
prefeito e de Roberta Barreto. Ela é ex-secretária de Educação e irmã
da atual, Rachel Barreto.
A advogada do prefeito de Caxias, Vânia
Aieta, declarou que Zito determinou que fosse aberta uma sindicância
para apurar as irregularidades. Segundo ela, se a denúncia for
comprovada, a secretária de Educação será exonerada.
— Zito sempre
foi campeão de votos em Caxias. Não precisa aplicar golpes baixos —
comentou a advogada, ressaltando que será respeitado o direito de defesa
da secretária.
Em Nova Iguaçu, a promotoria instaurou
procedimento para apurar a suspeita de prática de abuso de poder na
Secretaria de Assistência Social em benefício do ex-titular da pasta,
Sebastião Wagner Berriel, candidato a vereador pelo PT. Denúncia feita
pelo GLOBO no mês passado mostrou a influência de Berriel no Centro de
Referência de Assistência Social, em Comendador Soares, onde o servidor
responsável pelo cadastro no Bolsa Família, no Programa do Leite e na
distribuição de cestas básicas afirmou trabalhar para o ex-secretário.
Também
no mês passado, a promotoria de São Francisco de Itabapoana entrou com
uma ação de representação por conduta vedada a agente público em
campanha contra o candidato à reeleição à prefeitura da cidade,
Frederico de Souza Barbosa Lemos (PR). O juíz da 130ª Zona Eleitoral
cassou os registros dele e de Sandra Regina da Paixão Henriques,
candidata a vice. Segundo o promotor de Justiça Bruno Menezes Santarem,
os candidatos se beneficiavam da distribuição de propaganda eleitoral
que, na realidade, se tratava de propaganda institucional, usando
máquinas da prefeitura para expandir e beneficiar a sigla e as cores do
partido, com frases em vermelho e azul “Prefeitura trabalhando”.
Os
candidatos que se beneficiam do cargo para promover suas campanhas,
cometem crimes de abuso de poder político e econômico, podendo inclusive
se tornar inelegíveis por oito anos, de acordo com a nova Lei da Ficha
Limpa.
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