Nos cálculos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio, se o projeto aprovado na noite desta terça-feira pela Câmara dos Deputados virar lei, Estado e municípios fluminenses perderiam R$ 3,468 bilhões em royalties e Participações Especiais (PEs)
já em 2013. No período 2012-2020, a perda chegaria a R$ 77,3 bilhões. A
conta considera o preço do barril de petróleo a US$ 90 e câmbio de R$ 2.
- Os estados não podem abrir mão dessas receitas -disse o secretário de Desenvolvimento do Rio, Júlio Bueno.
Após a votação da Câmara, ainda sem saber que a presidente Dilma deverá sancionar o projeto, o governador Sérgio Cabral afirmou, em nota, que confiava que a presidente iria vetá-lo. "Estou
tranquilo porque a presidenta já anunciou publicamente que vetará
qualquer projeto de lei que venha a alterar a distribuição dos royalties
e da participação especial dos campos de petróleo já leiloados, de
contratos já assinados, e receitas comprometidas em função do ato
jurídico perfeito".
Segundo Cabral, o projeto aprovado, caso se torne lei, levará as finanças públicas do governo estadual e de muitas prefeituras fluminenses ao colapso. O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, afirmou que a medida mais urgente seria buscar o veto da presidente Dilma.
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Queremos o veto a esse desrespeito à Constituição e à legalidade, numa
divisão desequilibrada e sem nenhum bom senso. Não se pode reduzir
receita de estados e cidades. Faltou solidariedade federativa.
Espírito Santo pode ir ao STF
Casagrande ameaça recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF):
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Nós não conseguimos nesses três anos nenhuma proposta para convencê-los
(Congresso) de que não se pode romper contrato. Depois que a presidente
Dilma vetar, eles vão derrubar o veto e aí vamos para o Supremo. Vamos
agir em unidade, Rio e Espírito Santo -afirmou Casagrande, no início da
noite, também sem saber que Dilma deverá sancionar o projeto.
Para Júlio Bueno, o impasse sobre as novas regras para a divisão dos royalties prejudica o Brasil todo, pois essa demora ameaça a realização da 11ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
- Quem perde não é a indústria, que pode ir para qualquer lugar do mundo. Quem perde é o Brasil . O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) sequer votou a 11ª rodada -disse Bueno.
‘Debilidade do governo’
Na
semana passada, a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, afirmou que,
se não houvesse uma decisão sobre os royalties até janeiro, não haveria
tempo para a 11ª rodada ser realizada em maio.
Para o diretor do
Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, a disputa no pacto
federativo "parece insolúvel". Segundo ele, em 2008, eram 300 mil
quilômetros quadrados de campos explorados no Brasil . Em 2012, essa área foi reduzida para 114 mil quilômetros quadrados:
- Se a decisão for para a Justiça, vai mostrar a debilidade do governo e do Congresso na questão regulatória.
As
contas do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), por exemplo, indicam
erros materiais flagrantes no texto aprovado, como a distribuição de
101% dos royalties do petróleo.
- Como você pode distribuir o que
não existe? -perguntou Dornelles. -Os cálculos do senador Vital do Rêgo
(PMDB-PB) consideravam uma condição que não existia.
De acordo com
o governo, o projeto fatalmente será contestado no Supremo. Ao longo da
elaboração do relatório do deputado Carlos Zarattini (PT-SP), a
Secretaria de Relações Institucionais e a Advocacia Geral da União
assessoraram o relator para evitar qualquer brecha para questionamento
jurídico.
Fonte: Jornal O Globo
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