Nos últimos cinco anos, o movimento de passageiros nos aeroportos
brasileiros saltou 63%, para 180 milhões de pessoas em 2011. Resultado
do aumento da renda média, do crédito farto e da maior concorrência
entre as empresas aéreas. No mesmo período, a média de execução dos
investimentos da Infraero ficou em 48%, segundo levantamento da ONG
Contas Abertas. Esse descompasso tornou os aeroportos um dos principais
gargalos da infraestrutura do país. Filas no check-in e engarrafamento
nas pistas se tornaram rotina.
A
Infraero afirma que a dificuldade de execução dos investimentos se deve
a problemas jurídicos e de licenciamento ambiental. Mas, diante da
perspectiva de novos aumentos no fluxo de passageiros — estudo da
Coppe/UFRJ prevê crescimento de 55% entre 2010 e 2014, para 239,5
milhões — e da proximidade da Copa e das Olimpíadas, a estatal concederá
mais terminais à iniciativa privada, para agilizar as obras. E está
acertando os últimos detalhes do modelo para Galeão (RJ) e Confins (MG),
que deve constar do pacote para o setor aéreo que o governo divulgará
este mês. Guarulhos (SP), Viracopos (Campinas-SP) e Brasília foram
licitados em fevereiro. No total, a Infraero administrava 66 terminais.
Há
três opções: concessão a investidores privados, em que a Infraero seria
minoritária com 49% da sociedade (como no leilão de fevereiro);
parceria público-privada com um grande operador internacional, com a
Infraero majoritária; e transferência de gestão. A preferência da
presidente Dilma Rousseff era pelo segundo modelo, mas o desinteresse
dos grandes operadores deve levar o governo a optar pelo primeiro.
—
Seria mais prudente manter as regras do leilão de fevereiro, com
pequenos ajustes. Não há por que ficar testando novos modelos — diz o
consultor José Wilson Massa, ex-assessor da Superintendência da Infraero
no Galeão.
Confira a radiografia do setor clicando aqui.
Uma
das mudanças deve ser a exigência de experiência em aeroportos com
movimento igual ou superior a 30 milhões de passageiros por ano. No
leilão de fevereiro, o piso era de cinco milhões, o que atraiu
operadores de médio porte.
Os consórcios que acabam de assumir
Guarulhos, Viracopos e Brasília rebatem as críticas com promessas de
investimento. Juntos, investirão R$ 5,8 bilhões até 2014. A Infraero
planeja R$ 8,3 bilhões para todos os seus aeroportos no mesmo período.
Um
dos principais gargalos é a capacidade dos terminais. Segundo o estudo
da Coppe/UFRJ, Guarulhos tem a situação mais crítica. Em 2010, foram
26,7 milhões de passageiros para uma capacidade de 24,9 milhões. Em
2014, a previsão é de 37,7 milhões de passageiros para uma capacidade de
40 milhões.
Em Brasília, a capacidade em 2010 era de 14 milhões
de passageiros. Os embarques e desembarques atingiram 14,1 milhões. Para
2014, esperam-se 20 milhões de pessoas. No Galeão, a situação é mais
confortável: em dois anos, espera-se uma demanda de 21,4 milhões de
passageiros por ano, metade da capacidade projetada (44 milhões).
—
As promessas da Infraero e das empresas são que as obras virão a tempo
para os eventos esportivos. A privatização pura e simples não é sinônimo
de melhoria, é uma decisão política. Vamos esperar e ver — afirma Elton
Fernandes, da Coppe/UFRJ, que fez o estudo a pedido do Sindicato
Nacional das Empresas Aéreas (Snea).
Viracopos terá R$ 9,5 bi em 30 anos
A
concessionária Aeroporto Internacional de Guarulhos prevê investir R$ 3
bilhões até 2014, com um novo edifício-garagem de 2.400 vagas e um novo
terminal de passageiros, elevando a capacidade do aeroporto para 40
milhões. Para os 30 anos de concessão, serão R$ 6 bilhões em
investimentos.
Há preocupação também com o deslocamento no
aeroporto. O presidente da concessionária, Antonio Miguel Marques,
promete um monotrilho para interligar os terminais, ao custo de US$ 40
milhões, que ficaria pronto em 2016.
Outro gargalo são as pistas
de pouso, seja pelo tamanho aquém do necessário ou pelo fato de a
maioria dos terminais ter apenas uma. Caso de Viracopos, onde um
acidente com um cargueiro interditou o local por 46 horas em outubro.
Outra pista, só em 2017, por causa do licenciamento ambiental.
—
Enquanto isso, estamos investindo R$ 50 milhões na revitalização de uma
pista auxiliar e da pista de taxiamento. Se elas estivessem funcionando
como deveriam, Viracopos não precisaria ter sido fechado — diz João
Santana, presidente do Conselho de Administração da Aeroportos do
Brasil, que assume o controle de Viracopos esta semana.
O
consórcio ainda prevê investir R$ 2 bilhões até 2014, com um novo
terminal de passageiros, que ampliará sua capacidade total para 14
milhões, acima da demanda projetada (11,7 milhões). Em 30 anos de
concessão, serão R$ 9,5 bilhões em investimentos.
Já a
Inframérica, que ganhou o leilão de Brasília, planeja investir R$ 2,85
bilhões em 25 anos, sendo R$ 750 milhões até 2014. Inicialmente, as
pontes de acesso aos aviões passarão de 13 para 28, os dois terminais de
passageiros serão ampliados e um terceiro, construído. O consórcio
garante que os investimentos serão suficientes para atender à demanda
prevista para 2014, de 20 milhões de passageiros por ano. Hoje, a
capacidade é de 15,4 milhões.
A situação é pior nos pequenos e
médios terminais. Segundo empresários do setor, mais de duas dezenas
desses aeroportos poderiam ser lucrativas e concedidas à iniciativa
privada. Apostole Lazaro Chryssafidis, presidente da Associação
Brasileira das Empresas de Transporte Aéreo Regional (Abetar), diz que o
setor poderia ser 30% maior se problemas simples fossem resolvidos. Ele
lembra que algumas regras no Brasil são mais rígidas que nos EUA,
porque um pequeno terminal precisa de estrutura igual à dos grandes:
—
Cidades com dois ou três voos por dia precisam de uma estrutura própria
de combate a incêndios e ambulâncias exclusivas, que custam R$ 600 mil.
Não podem usar a estrutura da cidade.
Chryssafidis afirma que,
com poucas alterações burocráticas e investimentos — um estudo apontou
serem necessários R$ 2,5 bilhões para 180 aeroportos regionais
prioritários —, os preços seriam mais competitivos, e o volume de
passageiros aumentaria em 30%.
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