O Globo BRASÍLIA e RIO - Em decisão aprovada no último dia 14, o
Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que o aumento de aportes do
Tesouro Nacional para o BNDES, com o objetivo de financiar obras do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), fere a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF). O Tesouro repassa recursos ao BNDES - as
chamadas subvenções econômicas -, mas não apresenta os cálculos dos
subsídios embutidos nos repasses nem adota medidas de compensação para
garantir o equilíbrio fiscal, o que representa "severa afronta ao
objetivo principal da LRF", diz o relatório aprovado pelo plenário do
Tribunal.
Esses subsídios são a diferença entre a remuneração dos
títulos públicos e a taxa de juros cobrada pelo BNDES nos empréstimos. O
próprio TCU fez um cálculo dos benefícios previstos para o período de
2011 a 2015, chegando ao valor de R$ 72 bilhões, uma média anual de R$
14,4 bilhões.
Diante do aumento das transferências ao BNDES, a
Secretaria do Tesouro terá de detalhar, em 60 dias, que medidas de
compensação serão adotadas para cumprir o previsto no artigo 17 da LRF
(aumento das receitas ou corte de despesas para assegurar o equilíbrio
fiscal). No mesmo prazo, o Tesouro terá de informar o impacto desses
repasses na dívida pública da União. Por último, a Secretaria do PAC,
ligada ao Ministério do Planejamento, terá de encaminhar aos bancos
oficiais a lista de obras contempladas com subsídios.
O tribunal
determinou ainda que as secretarias de Política Econômica (SPE) e do
Tesouro, da Fazenda, passem a encaminhar à Controladoria-Geral da União
(CGU) o total dos subsídios financeiros decorrentes dessas operações. O
objetivo é fazer com que esses benefícios passem a constar da prestação
de contas da presidente da República. O mesmo deve ser feito com as
subvenções, voltadas para gastos com investimentos. A SPE terá ainda de
revisar portarias da Fazenda, em 90 dias, para "eliminar
inconsistências" no cálculo dos subsídios financeiros.
Como se
trata de despesas obrigatórias, que ultrapassam dois anos de previsão
orçamentária, a LRF prevê que a União adote medidas de compensação: ou
aumenta a receita ou diminui despesas para garantir o equilíbrio das
contas públicas. Por duas vezes, a auditoria do TCU cobrou do Ministério
da Fazenda as medidas adotadas para o cumprimento da LRF. Não houve
resposta. O TCU também não recebeu da pasta o cálculo do tamanho dos
subsídios nas transferências do Tesouro ao BNDES, principalmente com
foco nos projetos do PAC.
Lucro do bndes cai no 3º trimestre
"É
imprescindível um esforço considerável de transparência, tanto por
parte do governo federal quanto pelos órgãos de fiscalização da
administração pública, com foco na apuração criteriosa desses subsídios,
não somente para fins de divulgação à sociedade, mas também com vistas a
respaldar as decisões do governo e do Congresso Nacional sobre a
destinação desse benefício", afirma o ministro Aroldo Cedraz, relator do
processo, no acórdão aprovado pelo plenário do TCU.
- É
importante determinar a transparência do custo desse subsídio. Os
empréstimos a bancos públicos chegarão a R$ 400 bilhões até o fim do
ano, e o governo não mostra para o Congresso e para a sociedade o custo
dos subsídios. Isso deveria ser informado todo mês - afirmou o
economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Mansueto
Almeida.
O total de aportes do Tesouro ao BNDES foi de R$ 265
bilhões desde 2009, segundo dados da Secretaria. A estimativa do banco é
desembolsar neste ano entre R$ 145 bilhões e R$ 150 bilhões em
empréstimos ao setor produtivo e estados, com a ajuda do Tesouro.
Procurado
pelo GLOBO, o Ministério da Fazenda informou que a Secretaria do
Tesouro não se manifestaria sobre a decisão do TCU. Já o Planejamento
disse que a Secretaria do PAC encaminhou aos bancos públicos a lista de
todas as obras do PAC entre dezembro de 2011 e janeiro deste ano. O
órgão disse que cumprirá o prazo do TCU, que é de encaminhamento das
informações até 15 de janeiro de cada ano.
O lucro do BNDES foi
de R$ 2,043 bilhões no terceiro trimestre, 21% abaixo do registrado no
mesmo período de 2011 (R$ 2,587 bilhões). Em uma divulgação exclusiva na
internet e sem publicidade, o banco informou ainda que, no ano, a queda
no lucro é ainda maior: R$ 4,785 bilhões nos nove primeiros meses,
39,2% a menos que no mesmo período de 2011 (R$ 7,866 bilhões).
Pelo
documento do BNDES, que não se pronunciou sobre o resultado, a queda do
lucro no trimestre se deveu à designação de R$ 230 milhões em provisões
para risco de crédito e ao aumento de "outras despesas líquidas", no
total de R$ 780 milhões, por causa da atualização monetária de
dividendos complementares pagos à União sobre os ganhos de 2010 e 2011.
Muitos analistas criticam essa manobra: o BNDES paga mais dividendos à
União, contabilizados no resultado do governo, e depois recebe aportes
do Tesouro, que não afetam as contas do governo.
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