Por mais que o governo e seus líderes no Congresso minimizem as
consequências do adiamento da votação do Orçamento de 2013 para
fevereiro, a administração pública, que tem como cliente a sociedade,
enfrenta perdas e danos quando entra em um novo ano fiscal com
limitações para gastar. Os custos do impasse recomendam aos dois
Poderes a busca de uma alternativa para a apreciação dos vetos,
evitando tais situações. Ainda que seja preciso alterar a Constituição,
pois o ritual nela previsto não condiz com a vida real do Congresso. Não é a primeira vez que o ano acaba sem que o Orçamento tenha sido
votado, mas isso nunca foi algo bom ou indiferente para o Executivo. O
governo começa o ano fiscal autorizado a gastar apenas um doze avos do
montante previsto, como informado, mas esta fração é do orçamento de
custeio, que envolve gastos com a máquina, funcionalismo,
aposentadorias e demais despesas correntes. Da rubrica de investimento,
nada pode ser empenhado. E, com isso, nada pode ser licitado, comprado
ou contratado. Quando a prioridade do governo (e de seu cliente, a
sociedade) é a retomada do crescimento econômico, a perda de um ou dois
meses na execução do orçamento de investimentos é nefasta. Com a
burocracia que temos, a perda de tempo é ampliada, prejudicando
processos e projetos, especialmente se forem de infraestrutura, como os
do PAC 2. Um atenuante virá com a medida provisória anunciada pelo
relator da lei orçamentária, senador Romero Jucá, liberando recursos
dos restos a pagar de 2012. Mas estes restos também são consequência do
atraso na execução orçamentária. Indicam que alguns órgãos não
conseguiram gastar seu orçamento de investimentos dentro do ano fiscal. E por que isso está acontecendo, apesar da vasta maioria parlamentar do
governo? Por causa de um emaranhado de problemas, mas fiquemos na
causa derradeira. O Orçamento não foi votado antes do Natal porque o
ministro do STF Luiz Fux concedeu liminar pedida por representantes dos
estados produtores (Rio de Janeiro e Espírito Santo) de petróleo
contra a apreciação dos vetos da presidente Dilma à Lei dos Royalties.
Se mantidos, os demais estados não teriam participação nos ganhos
decorrentes de contratos de exploração assinados. Ganhariam apenas
sobre contratos derivados de campos a serem ainda licitados. Fux
acolheu o argumento de que seria inconstitucional a votação em regime
de urgência, passando por cima de outros três mil acumulados. E de
fato, a manobra violaria o rito constitucional. Tentaram votá-los num
pacote, mas perceberam que levariam outra mandiocada do Supremo, por
não estarem cumprindo o rito, que prevê a formação de uma comissão
especial e uma relatoria, afora o prazo de 30 dias após a aposição do
veto. Isso é impraticável. Como Fux determinara que nada mais fosse
votado antes da faxina dos vetos, o Orçamento sobrou. Quando ele
percebeu o alcance de sua liminar, era tarde. Não havia mais tempo nem
quórum. Então, é preciso criar um novo rito. O Congresso acumula vetos porque a
regra atual é impraticável. Há notícias de que o governo pensa propor
uma emenda constitucional, estabelecendo que, passado certo prazo
(devia ser maior que 30 dias) e não tendo o Congresso apreciado os
vetos, estarão eles automaticamente mantidos. É algo nessa linha que
precisa ser pensado. Mas outros problemas entraram neste imbróglio. O último deles, a ameaça
da oposição de contestar uma aprovação da peça orçamentária pela
comissão representativa do Congresso no recesso. Como a moda é
judicializar a política, pedindo arbitragem do STF nos impasses, a
oposição acabaria fazendo isso e talvez ganhasse. Sensatamente, os
governistas desistiram. Uma anulação da votação, em tempo de conflito
entre os dois Poderes, seria ainda pior. Mas, na origem, está o conflito federativo, que tem nos royalties uma
de suas faces. Os estados travam ainda a guerra fiscal do ICMS, brigam
entre si pela partilha dos recursos do FPE e com a União por conta da
rolagem das dívidas (questão parcialmente resolvida dias atrás, com a
mudança do indexador) e das perdas com as desonerações federais, entre
outras pendengas. Essa é uma questão que certamente merecerá atenção
especial da presidente da República no ano que vem. Outras virão As críticas ao Judiciário, feitas em artigo pelo advogado e ex-
ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, devem destampar uma espécie
de panela de pressão. Outros juristas têm dito reservadamente coisas
parecidas, mas alegam que só vão falar quando estiver mais distante, na
poeira do tempo, o julgamento do mensalão. Não querem que suas
considerações, de ordem doutrinária, sejam confundidas com defesa de
condenados tão estigmatizados perante a opinião pública. Dona Canô Raramente alguém sem um papel na vida pública nacional, embora atuante
na sua comunidade, tornou-se tão conhecida e amada como dona Canô. Ela
deu ao Brasil dois grandes artistas, Caetano e Bethânia mas ensinou
muito com frases simples como esta: “Viver é bom, mas saber viver é bem
melhor”.
Fonte: Jornal do Commercio
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