Depois da frustração na arrecadação de receitas e do baixo
crescimento econômico em 2012, o governo federal admite a possibilidade
de buscar uma economia de recursos menor este ano e estuda assumir,
desde já, que deve deduzir da meta de superávit primário — a economia
feita para o pagamento de juros da dívida pública — os recursos
investidos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ao anunciar
os objetivos a serem perseguidos, a equipe econômica pretende deixar uma
margem de R$ 25 bilhões para abater da meta de superávit. A meta cheia
está fixada em R$ 155,9 bilhões na proposta orçamentária, sendo R$ 108,1
bilhões do governo central. O governo tem sido criticado por usar uma
série de manobras para atingir a meta, como antecipação de dividendos de
estatais e recursos do Fundo Soberano.
O abatimento de R$ 25
bilhões está previsto no Orçamento da União enviado ao Congresso em
agosto e que deve ser aprovado em fevereiro. Já a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) permite dedução de até 45,2 bilhões, contra R$ 40,6
bilhões em 2012. No ano passado, conforme O GLOBO revelou ontem, o
governo usou quase toda a folga autorizada na LDO, com redução de R$ 38
bilhões da meta original (R$ 139,8 bilhões). Oficialmente, o governo
prefere dizer que evitará usar o abatimento do PAC. Mas reconhece que a
economia vem de um ano difícil, afetando a arrecadação, e que já tem
compromissos importantes assumidos.
A redução da meta em 2012
tornou pública uma divisão interna da equipe econômica. Parte dos
técnicos, já no fim do ano, alertava inclusive o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, que a meta não seria cumprida e que, em 2013, isso também
não ocorrerá. Para eles, a previsão de meta cheia já está
desacreditada. Segundo fonte do ministério, nem para a manutenção do
atual patamar da relação dívida pública líquida/PIB se exigiria um
superávit de 3,1%. Só para este quesito, há tempos, o primário poderia
ser bem menor.
Essas considerações foram discutidas no fim do ano,
antes de um encontro da equipe com a presidente Dilma Rousseff sobre as
metas para 2013. Mas Mantega preferiu manter os números. Além de bancar
uma parte dos custos para garantir a redução de 20% da conta de energia
elétrica a partir de fevereiro, a Fazenda estima que só as desonerações
tributárias terão impacto de R$ 40 bilhões nos cofres públicos. O
compromisso é manter a trajetória de queda da dívida líquida do setor
público, que deve ficar em 35% do PIB em 2012.
A estratégia é,
também, de oferecer mais credibilidade ao discurso de esforço fiscal da
gestão de Dilma, após o arranhão causado pelas manobras fiscais da
virada do ano para alcançar a meta de 2012. O ministro interino da
Fazenda, Nelson Barbosa, informou ao GLOBO que, além do saque de R$ 12,4
bilhões do Fundo Soberano e da antecipação de R$ 7 bilhões em
dividendos do BNDES e da Caixa no fim do ano, o governo decidiu abater
da meta R$ 38 bilhões, referentes a obras do PAC.
Silvio Campos
Neto, da Tendências Consultoria, estima que o país conseguirá uma
economia de 2,1% do PIB para o pagamento de juros da dívida em 2013, com
desconto dos recursos destinados a investimentos. O PIB, por sua vez,
deve avançar 3,2%, abaixo dos 4% projetados pelo governo. Para ele, ao
assumir que deve buscar uma meta menor, a equipe econômica ganha
transparência e credibilidade, mas tal decisão pode ter impacto no
cenário de inflação do Banco Central e contribuir para uma alta da Selic
(7,25% ao ano).
Já o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS),
saiu ontem em defesa de Mantega. Ele considera desnecessária a ida do
ministro ao Congresso, para falar sobre as medidas fiscais para atingir a
meta de superávit. Segundo ele, o que os oposicionistas chamam de
manobra é “um procedimento normal, natural e está dentro da lei”. Ontem,
o PSDB reafirmou que entraria com pedido de convocação, do ministro
Guido Mantega e da ministra do Planejamento, Miriam Belchior.
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