A desaceleração econômica, as desonerações promovidas pelo governo
federal e os gastos com as eleições corroeram as receitas de Estados e
municípios no ano passado. Até novembro, Estados e municípios haviam
acumulado superávit primário de R$ 24,6 bilhões, quase a metade da meta
de R$ 42,8 bilhões fixada para o ano. A conta caiu no colo do governo
federal, que cobriu esse e outros buracos à custa das manobras contábeis
já conhecidas.
Este ano não promete ser melhor para os Estados e já começou com a
certeza da perda de receita com a arrecadação menor do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre as contas de luz e a
manutenção das desonerações, embora em patamares decrescentes ao longo
do primeiro semestre.
Para complicar, surgiu o impasse com o pagamento do Fundo de
Participação dos Estados (FPE), cujos critérios de distribuição deveriam
ter sido revistos pelo Congresso até o fim do ano, por determinação do
Supremo Tribunal Federal (STF). Como isso não aconteceu, o repasse dos
recursos corre o risco de não ser efetivado.
O FPE é constituído por 21,5% do dinheiro arrecadado com Imposto de
Renda e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). No ano passado,
totalizou cerca de R$ 44 bilhões; neste ano, deve chegar a respeitáveis
R$ 73 bilhões. A distribuição dos recursos entre os Estados é calculada
pelo Tribunal de Contas da União (TCU), com base em critérios como
população e renda per capita, estabelecidos pela Lei Complementar 62,
que criou o fundo em 1989. Por essas regras, os Estados do Norte,
Nordeste e Centro-Oeste são os que mais ganham e ficam com 85% dos
recursos; os 15% restantes são distribuídos entre os Estados do Sul e
Sudeste.
Os Estados que mais receberam recursos em 2012 foram Bahia (R$ 4,6
bilhões), Ceará (R$ 3,6 bilhões), Maranhão (R$ 3,5 bilhões), Pernambuco
(R$ 3,4 bilhões) e Pará (R$ 3 bilhões). Há Estados que recebem menos,
mas os recursos representam a maior parte do orçamento anual, como é o
caso do Amapá e o Acre, que receberam R$ 1,6 bilhão cada, o equivalente a
65,2% e 57,5%, respectivamente. Roraima recebeu R$ 1,2 bilhão, o que
representa 60,9% do orçamento anual.
Nesta década, porém, seis Estados - Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina - acharam que era hora
de mudar as antigas regras de distribuição e entraram com ação na
Justiça questionando os critérios. Em 2010, o STF acatou essas ações,
declarou inconstitucional o modelo vigente e deu prazo até 31 de
dezembro de 2012 para o Congresso aprovar uma lei com novos critérios.
Desnecessário dizer que não houve acordo. Há oito propostas de mudanças
no Senado e dez na Câmara. Entrevistado pelo Valor (9/1), o senador
Francisco Dornelles (PP-RJ) disse que a distribuição do FPE é um
problema "mais polêmico que o dos royalties". Segundo o senador, "na
questão do petróleo, são 24 Estados contra 3. No FPE, são 27 contra 27".
Razões de natureza política impediram um acordo até agora, segundo o
senador, para quem o "Congresso tem todo o ano de 2013 para discutir o
projeto", e não deve fazer nada "correndo", esquecendo que os
parlamentares já tiveram quase dois anos para elaborar regras mais
atualizadas de distribuição do dinheiro do FPE.
O impasse levou o governo federal a consultar o TCU, que recomendou que
os repasses continuassem sendo feitos pelas regras anteriores até que o
Congresso estabeleça novos critérios. O acórdão do TCU não livrou o
governo de ter que explicar ao STF já no início do ano-novo por que não
poderia cumprir a decisão da Corte. Afinal, os recursos são distribuídos
a cada dez dias, e o primeiro crédito deste ano estava marcado para a
semana passada. O problema foi contornado, ao menos temporariamente,
garantindo recursos aos Estados. Mas não se sabe até quando o STF está
disposto a esperar que sua determinação seja cumprida.
Outra fonte de dinheiro com a qual os Estados poderão contar é com a
contratação de financiamentos. O Tesouro Nacional já autorizou novas
operações no valor total de R$ 58 bilhões para 21 Estados, até 2014.
Sinal, porém, de que a situação não está boa é o fato de vários Estados
terem lançado campanhas para atrair os inadimplentes com o
parcelamento, redução de multas e juros de impostos em atraso,
registrado em reportagem do Valor (8/1). Medidas desse tipo, porém,
acabam penalizando os bons pagadores.
Fonte: Jornal do Commercio
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