O principal desafio do Congresso em 2013 será votar uma pauta -
carregada e urgente - de propostas relativas às questões federativas.
São temas de dificílimo consenso, que dividem as bancadas do Congresso
mais pelos interesses estaduais e regionais que partidários.
Perder a chance de buscar repactuação federativa em 2013, ano livre
da tensão dos períodos eleitorais, será mais um grande fracasso do
Legislativo. O próximo ano será consumido por sucessão presidencial e
eleições de governadores, deputados (estaduais e federais) e senadores.
Possibilidade zero de consenso.
Sob pressão de governadores e prefeitos, que precisam de dinheiro
para investimentos, e num cenário de judicialização cada vez maior nas
relações entre os Estados e insegurança jurídica dos investidores,
deputados e senadores terão de enfrentar o assunto tão logo assumam os
trabalhos, em fevereiro.
Congresso enfrenta pauta federativa carregada
Ao estoque de problemas pendentes de 2012, como o impasse em torno
da divisão dos recursos arrecadados com a exploração de petróleo e a
indefinição sobre novo critério de rateio do Fundo de Participação dos
Estados (FPE), somou-se o pacote enviado pela presidente Dilma Rousseff
no fim de dezembro, para acabar com a guerra fiscal praticada entre os
Estados.
Acusada pelos próprios aliados de omissão no imbróglio dos royalties
do petróleo, que ficou fora de controle e teve um desfecho patético em
2012, a presidente desta vez tomou a iniciativa de encaminhar
propostas ao Congresso, supostamente resultantes de entendimentos
feitos no Confaz.
Mas, mesmo antes de começar a tramitar, o pacote de Dilma causa
polêmica. Representantes de Estados mais desenvolvidos queixam-se de
que, no conjunto, as propostas beneficiam as regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste e estimulam uma "corrida" pela concessão de benefícios em
2013, já que esses serão convalidados.
Foram enviados um projeto de lei complementar que modifica o
indexador da dívida dos Estados e municípios com a União e flexibiliza
pontos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e uma medida provisória
que prevê compensação aos Estados por perdas resultantes da unificação
do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), medida
que visa acabar com a guerra fiscal.
O governo de São Paulo diz que as propostas do governo descumprem
alguns acordos feito no Confaz, como a quebra da unanimidade em certas
decisões e fixação de um prazo maior do que o combinado para a
unificação do ICMS. Um ponto que surpreendeu até mesmo aliados de Dilma
no Congresso que participaram dos entendimentos é a mudança na LRF.
Uma interpretação é que o governo está possibilitando uma brecha
para outras flexibilizações na lei, atendendo a pleitos de Estados que
se sentem engessados pela norma. O objetivo seria facilitar a
negociação da redução do ICMS e, consequentemente, do fim da guerra
fiscal.
Um problema apontado por parlamentares é que a MP - que tem força de
lei assim que editada, mas pode perder a validade se não for votada
em, no máximo, 120 dias - está atrelada à aprovação de uma resolução do
Senado que fixa prazos da redução das alíquotas do ICMS. Ocorre que
essa resolução tem de ser iniciativa do Senado e, embora ela não esteja
formalizada, o conteúdo pretendido pelo governo está detalhado no
corpo da MP.
Para alguns, reproduzir na MP uma resolução inexistente seria uma forma de coagir o Senado a não mudar o texto.
Quem deve assumir a autoria do projeto de resolução é o senador
Delcídio Amaral (PT-MS), frequente interlocutor da equipe econômica,
que deixa a presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do
Senado em fevereiro. O comando da comissão, pela qual passam todos os
temas econômicos de interesse dos Estados, será do também petista
Lindbergh Farias (RJ), que, no recesso, está se preparando para
conduzir as negociações da pauta federativa.
No Senado, São Paulo, Paraná e demais Estados das regiões mais
desenvolvidas levam desvantagem. Cada um dos 27 Estados tem o mesmo
número de senadores (três) e a maioria está nas regiões Norte, Nordeste
e Centro-Oeste. Representantes das regiões Sul e Sudeste admitem que é
na Câmara, onde as bancadas são proporcionais à população, que têm
votos para defender seus interesses.
Alguns apostam numa discussão casada durante a tramitação das
propostas, possibilitando barganha de interesses. Um exemplo é o
projeto de lei complementar, que começa a tramitar na Câmara, mas
também passa pelo Senado. Alguns Estados têm a intenção de tentar
reduzir o limite atual do comprometimento da receita com pagamento da
dívida com a União. Esse ponto poderá ser usado pelos envolvidos como
moeda de troca na discussão de outros temas, como critérios do FPE e
unificação do ICMS.
A MP que cria fundos de compensação pelas perdas com o fim da guerra
fiscal passa por uma comissão mista, antes de ser votada na Câmara ou
no Senado. Ou seja, o Congresso todo estará tomado por essa pauta.
Até porque também aguarda instalação a comissão mista que vai dar
parecer a outra MP, que trata da divisão dos royalties do petróleo.
Embora haja maioria favorável a mexer nas regras dos campos já
licitados, a possibilidade é remota, depois que Dilma vetou e que o
Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que outros 3 mil vetos
pendentes sejam apreciados antes.
Antes mesmo de Dilma enviar suas propostas ao Congresso, o senador
Renan Calheiros (PMDB-AL) havia encomendado à assessoria que elaborasse
uma proposta de agenda legislativa para seu mandato. A ideia era dar
prioridade às questões federativas, além de medidas administrativas,
como austeridade e maior transparência da gestão.
A história recente do Congresso não recomenda otimismo. Mas, como os
temas dessa pauta extrapolam os limites partidários e atendem aos
interesses dos Estados e municípios, talvez a pressão dos governadores
possa - finalmente - resultar em uma pauta positiva para o Legislativo.
Fonte: Jornal Valor Econômico
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